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O Lago de Furnas e suas tragérias

13 de setembro de 2020, 13h17 | Por Redação ★ Blog do Lindenberg

by Redação ★ Blog do Lindenberg

Texto por: Antônio Dos Santos Damasceno

A Usina Hidrelétrica de Furnas foi uma obra iniciada em 1958, no Governo de Juscelino Kubitschek, tornando-se, então, a maior obra da América Latina em execução. A formação da represa completou-se em 1961. A inauguração oficial ocorreu em 1965. Como tudo naquele famoso governo JK, essa obra foi feita às pressas. O “slogan” (palavra da época) daquele governo era “cinquenta aos em cinco”. E suas metas básicas eram energia e transporte. Para administrar essa obra, foi criada a empresa estatal Furnas Centrais Elétricas.

A barragem para formação do lago da usina causou uma inundação monstro (expressão da modernidade). Centenas de propriedades, inclusive cidades inteiras, como Guapé, ficaram debaixo d´água. Fazendeiros, agricultores, comerciantes, industriais, trabalhadores rurais e urbanos todos foram brutalmente atingidos. A vida dos habitantes entorno do lago foi profundamente agredida.

Lentamente vieram as indenizações, por preços muito abaixo do que valiam as propriedades inundadas. Até porque foram inundadas as terras baixas, as de melhor qualidade para aquele tempo. Centenas de pessoas se empobreceram, ficaram traumatizadas, algumas morreram, por não suportarem a violência do impacto em suas vidas. (A esse respeito, vale a leitura do livro “Um Mergulho nas Histórias do Mar de Minas, das autoras Mônica Lana da Paz, Aline Rodrigues Alves e Thaís Lopes Reis, Estrela da Manhã Editora, BH, 1916).

O Lago de Furnas, hoje conhecido como Mar de Minas, forçou a desocupação de mais de trinta e cinco mil pessoas, que foram obrigadas a tomar outros rumos na vida, ou na morte. Naquele início, a represa de Furnas significou realmente uma desgraça e o povo não sabia o que fazer. Aos poucos, as comunidades atingidas foram encontrando formas de lidar com a Represa, engendrando novas atividades econômicas, novos meios de produção a partir da água, já que as terras haviam sido inundadas.

Passados mais de cinquenta anos, a primeira tragédia está superada.
Mas a região não está em paz. A oscilação violenta do volume de água da represa vem provocando grandes prejuízos e, naturalmente, reações das comunidades lindeiras. Agora que a sociedade aprendeu, a duras penas, conviver com as águas em lugar das terras, vem o poder público, diretamente ou por seus terceirizados e resolve lançar mão dessas mesmas águas com outras finalidades, esvaziando o Lago.
O Governo permitiu a criação de vazante artificial, por meio de canais de escoamento das águas do Lago de Furnas, para manter os níveis da hidrovia Tietê-Paraná. Essa hidrovia foi mal planejada. Por isso, nas épocas de seca não consegue suportar a navegação das suas grandes barcaças transportadores da produção de São Paulo para os mercados do Sul do País.

Por outro lado, o Reservatório de Furnas foi planejado para garantir volume de água mesmo nas épocas de escassez. É por isso que inundou grandes áreas de trinta e quatro municípios mineiros. Agora, está sendo desviado mais que o volume dessa reserva. A indústria da pesca, as atividades dos produtores agrícolas, os criadores de gado, a navegação, a importantíssima indústria do turismo do Lago, tudo isso não importa, como não importou a inundação, o sofrimento, o empobrecimento, as perdas da identidade histórica com a terra para formação desse Lago.

O povo é um mero detalhe nas decisões oficiais. Esse povo nem acreditava, há mais de cinquenta anos atrás, que o lago um dia fosse inundar suas cidades, vilas, fazendas ou ranchos. Não era possível, ao povo comum desse sertão mineiro, imaginar o alcance e a violência da inundação. Até porque não houve ações preventivas, não houve diálogo algum com a população atingida. Moradores chegaram a ser retirados das suas casas com ajuda de helicópteros e com cobertura policial.

Hoje, esse mesmo povo enfrenta nova luta contra mais essa violência. E esbarra com a cultura da prepotência, a arrogância e do menosprezo da administração de Furnas com relação aos mineiros do entorno do Lago.

Não é exagerado supor que a Hidrovia Tietê–Paraná está causando, em grande parte, o esvaziamento do Lago de Furnas, para atender as conveniências de outros estados. É preciso confessar que às vezes se tem saudade do Governador Itamar Franco, um governante que tinha coragem para enfrentar investidas contra este sagrado chão das Minas Gerais.

Aí está a segunda tragédia da Represa de Furnas.
Texto: Damasceno, Antônio.

Foto: Reprodução

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1 comentário

Antonio dos Santos Damasceno 13 de setembro de 2020 - 21:38h

Bela apresentação, com uma ilustração que valoriza a matéria. Como autor do texto, fico grato ao editor.
Antônio dos Santos Damasceno

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