Home Minas Gerais Monitoramento do esgoto em BH aponta novo crescimento e estima 380 mil infectados por Covid-19

Monitoramento do esgoto em BH aponta novo crescimento e estima 380 mil infectados por Covid-19 Iniciativa coordenada na UFMG passa a oferecer acompanhamento por painel on-line dinâmico e interativo e será estendida a outras cinco capitais brasileiras.

9 de outubro de 2020, 20h48 | Por Letícia Horsth

by Letícia Horsth

O número de pessoas infectadas pelo novo coronavírus voltou a subir na capital mineira. É o que apontam as análises realizadas pelo projeto-piloto Monitoramento Covid Esgotos, realizado pela UFMG em parceria com a Agência Nacional de Águas (ANA). O estudo apresenta, nesta sexta-feira (9), uma estimativa de 380 mil infectados em Belo Horizonte, a partir da quantidade de vírus encontrado nas amostras retiradas em diversos pontos de esgoto da capital. No levantamento anterior, a estimativa era de 220 mil infectados.

Também na semana 40, detectou-se a presença do Sars-CoV-2, vírus causador da Covid-19, em todas as regiões monitoradas, tanto na bacia do Arrudas como na bacia do Onça, situação semelhante à das semanas epidemiológicas 24 a 37, em que as amostras positivas atingiram 100%.

De acordo com o Boletim 18 do projeto, publicado nesta sexta-feira, 9 de outubro, o fato de que os números de casos notificados e confirmados de covid-19 voltaram a crescer após nove semanas seguidas (30 a 39) de reduções reforça os indícios de aumento da circulação do vírus em Belo Horizonte. De acordo com prefeitura da capital, foram registrados, ao fim da semana 40, 43.112 casos notificados e 7.868 confirmados.

Iniciativa da Agência Nacional de Águas (ANA) e do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) ETEs Sustentáveis, sediado na UFMG, o projeto Monitoramento Covid Esgotos coleta amostras em diferentes pontos do sistema de esgotamento sanitário das cidades de Belo Horizonte e Contagem, inseridos nas bacias hidrográficas dos ribeirões Arrudas e do Onça. O objetivo é gerar dados capazes de ajudar gestores na tomada de decisões. O projeto conta ainda com a parceria da Copasa, empresa de saneamento de Minas Gerais, do Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam) e da Secretaria de Saúde do estado.

Como informa o Boletim 18, os dados indicam que, na bacia do Arrudas, a tendência geral é de estabilização dos percentuais de população infectada estimada. Os pesquisadores destacam, entretanto, que a sub-bacia 04 (SBA-04), que abrange bairros como Carlos Prates, Coração Eucarístico e Padre Eustáquio, apresentou percentuais relativamente mais elevados nas semanas epidemiológicas 38 a 40. Na SBA-09 (Paraíso, Santa Efigênia, Vila Cafezal, entre outros), ao contrário, os percentuais mantiveram-se em torno de 5% no mesmo período, após tempo longo com valores elevados. Na bacia do Onça, foi maior a variação nos percentuais de população infectada estimada na semana 40. Em relação à semana anterior, cinco sub-bacias apresentaram redução nos percentuais, duas se mantiveram estáveis e outras duas registraram aumento: SBO-01 (Nova Pampulha, Serrano, Alípio de Melo) e SBO-03 (Sagrada Família, Cidade Nova, Cachoeirinha).

“Este cenário pode estar relacionado à gradativa retomada de atividades, bem como às elevadas temperaturas registradas nas últimas semanas em Belo Horizonte, que contribui para maior exposição da população em bares, clubes, parques etc.”, salienta o texto do Boletim 18. “Esse conjunto de fatores indica potencial aumento da circulação do vírus e, consequentemente, novo agravamento da pandemia em Belo Horizonte. Ressalta-se, então, a importância da manutenção e até mesmo do fortalecimento de medidas de prevenção e controle.”

Painel interativo
Os resultados do projeto estão disponíveis, a partir desta semana, em painel dinâmico, que pode ser acessado no site do Sistema Nacional de Informações sobre Recursos Hídricos (SNIRH). O painel reúne informações detalhadas sobre população infectada, população infectada estimada nas bacias de esgotamento, casos confirmados e notificados. A plataforma oferece ainda detalhamento sobre as bacias de esgotamento e as sub-bacias.

O novo dispositivo de divulgação propicia maior interatividade na exploração dos dados e visualização mais detalhada da evolução espacial e temporal da ocorrência do novo coronavírus nas amostras de esgoto. Após o lançamento do painel, a divulgação semanal dos resultados do projeto será feita por meio da atualização do dispositivo e de informe à imprensa. Os boletins de acompanhamento, que saíam toda semana, passarão a ser distribuídos com periodicidade mais larga e enfatizarão análises sobre os dados.

A nova plataforma, segundo o coordenador geral do INCT ETEs Sustentáveis, professor Carlos Chernicharo, da Escola de Engenharia, “possibilita ao usuário, leigo ou especialista, navegar de múltiplas formas pelas informações e confere agilidade à atualização dos dados por parte da equipe do projeto”. Os pesquisadores inserem os dados no sistema, e os mapas, gráficos e tabelas são alimentados automaticamente.

Mais cinco cidades
A Agência Nacional de Águas e o INCT ETEs Sustentáveis vão estender a duração do projeto em Belo Horizonte e promover sua expansão para Rio de Janeiro, Curitiba, Recife, Fortaleza e Brasília. As seis capitais vão compor a Rede Covid, e a coordenação das ações, incluindo a aplicação da metodologia, seguirá a cargo do INCT sediado na UFMG. Por meio do CNPq, agência à qual os INCTs estão vinculados, a ANA vai aportar R$ 2,5 milhões nessa nova etapa.

Carlos Chernicharo explica que a estratégia da operação em Belo Horizonte será alterada: a coleta abrangerá número menor de pontos, e o projeto funcionará como ferramenta de alerta precoce de tendência de recrudescimento da circulação do vírus. “Vamos atuar também em locais de grande afluência de pessoas, como rodoviárias, aeroportos e shoppings, além regiões em que as populações são mais vulneráveis e têm menos condições de adotar e manter medidas de prevenção e contenção da covid-19″, diz o coordenador do INCT, que é professor aposentado do departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da Escola de Engenharia da UFMG.

Ele ressalta que a expansão do projeto para outras regiões do país vai além do benefício a novas áreas metropolitanas. “Teremos oportunidade de aprender muito mais sobre o papel que a análise do esgoto pode desempenhar no combate à pandemia do novo coronavírus, uma vez que estaremos lidando com realidades distintas no que se refere à infraestrutura e às práticas de esgotamento sanitário.”

As instituições parceiras são a Universidade de Brasília e as universidades federais do Rio de Janeiro, de Pernambuco, do Ceará e do Paraná, esta última em conjunto com o Instituto Superior de Administração e Economia do Mercosul (Isae) da Fundação Getulio Vargas.

Com informações da UFMG.
Foto: Karoline Barreto | CMBH.

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