O levantamento realizado pelo Radar Aos Fatos mostrou que mais de 2.000 publicações que questionam a confiabilidade das urnas eletrônicas circularam no Twitter e no WhatsApp na última semana, a menos de um mês do primeiro turno das eleições municipais no Brasil.
Várias das mensagens mais populares desse universo reciclam conteúdos enganosos que vêm sendo checados pelo Aos Fatos desde as eleições de 2018. Parte delas afirma, por exemplo, que há provas de que a eleição presidencial daquele ano foi fraudada e que Bolsonaro deveria ter sido declarado vencedor ainda no primeiro turno, o que não é verdade. Outras repetem que apenas o Brasil, Cuba e Venezuela usam urnas eletrônicas, o que também é falso. Já um terceiro grupo de posts diz que o STF (Supremo Tribunal Federal) decidiu que o voto impresso é inconstitucional, o que tampouco aconteceu.
Perfis do Twitter que declaram apoio ao presidente Jair Bolsonaro, como o do candidato a vereador Alan Lopes (PSD), foram os que mais conseguiram engajamento com desinformação sobre o assunto.
Uma busca no Twitter por termos relacionados a questionamentos sobre as urnas eletrônicas retornou cerca de 2.000 resultados publicados entre 27 de setembro e 4 de outubro que somaram mais de 50 mil interações (retweets e curtidas).
A mensagem mais popular é uma peça de desinformação publicada por Alan Lopes (PSD-RJ), apoiador do presidente Jair Bolsonaro e candidato a vereador, que teve mais de 15 mil interações. Nela, ele afirma ter provas de que a eleição de 2018 foi fraudada para prejudicar o presidente Jair Bolsonaro. Como o Aos Fatos já mostrou, no entanto, a denúncia a que ele faz referência já foi arquivada por falta de provas.
Os temas. O Radar Aos Fatos examinou qualitativamente as 50 mensagens mais populares sobre fraude em urnas e nas eleições brasileiras no Twitter para entender quais narrativas desinformativas predominam na discussão. A análise mostra que a suposta fraude contra Bolsonaro nas eleições de 2018 foi o tema que mais gerou engajamento entre as publicações que questionam o uso das urnas eletrônicas.
Além dos assuntos que aparecem nos exemplos de desinformação já citados —referências genéricas a fraudes e afirmações erradas sobre o uso de urnas eletrônicas no mundo—, também teve destaque uma peça de desinformação que afirmava que o STF (Supremo Tribunal Federal) teria proibido o voto impresso no Brasil. Na verdade, como Estadão Verifica e Folha de S. Paulo já mostraram, a corte julgou que a impressão de um comprovante de votação pelas urnas eletrônicas, aprovada pelo Congresso no ano passado, era inconstitucional porque ameaçava o sigilo de voto.
Os amplificadores. A maioria das contas que mais difundiram conteúdo crítico às urnas eletrônicas é de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro. Além de Alan Lopes, também se destacam o blogueiro Allan dos Santos, do site Terça Livre, e outros perfis menos conhecidos.
A desinformação sobre as urnas também chegou a grupos públicos de discussão política no WhatsApp monitorados pelo Radar Aos Fatos.
Em um universo de 262 grupos ativos monitorados, foram encontradas 22 mensagens com desinformação sobre a confiabilidade das eleições ou das urnas, que foram compartilhadas 188 vezes. Oitenta e seis desses grupos (33% do total) receberam ao menos uma dessas mensagens.
De novo, a reprodução da mensagem de Alan Lopes, de que houve uma fraude em 2018 para prejudicar Bolsonaro, foi o assunto mais popular —apareceu em 11 mensagens compartilhadas um total de 136 vezes.
Outra mensagem, compartilhada sete vezes nos grupos, trazia a afirmação enganosa de que o STF proibiu a adoção do voto impresso.
Metodologia
Para encontrar publicações que questionam a confiabilidade das urnas eletrônicas, foram realizadas buscas na API do Twitter e em uma API da empresa de tecnologia Twist, que monitora mais de 400 grupos de WhatsApp.
Nas buscas, que abrangeram o período de 27 de setembro a 4 de outubro, foram utilizados os termos listados logo a seguir, que são associados a campanhas de desinformação sobre o assunto. Foram excluídas da coleta do Twitter posts publicados por contas de veículos de imprensa.
Em seguida, foram analisadas qualitativamente e classificadas por tema as 50 mensagens com mais interações coletadas no Twitter e 160 mensagens publicadas no WhatsApp.
Fonte/Créditos: Aos Fatos.
Foto: Pixabay.