Com vasta experiência política — 36 anos como senador e oito como vice-presidente — Joe Biden é eleito o 46º presidente americano e tem capital político assegurado por mais de quatro milhões de votos de diferença para o atual presidente. Estas credenciais, contudo, não lhe farão a vida fácil. Ele arcará com uma herança pesada: o comando de um país golpeado por pandemia do novo coronavírus, economia em colapso e tecido social esgarçado por graves rupturas.
A julgar pela reação catártica pelas ruas dos principais centros urbanos dos EUA, após quatro dias de suspense, esta vitória democrata torna-se emblemática e comparada à de Barack Obama, em 2008.
Privou Donald Trump de um segundo mandato, interrompendo a onda nacionalista e os ataques a opositores, imigrantes, ao multilateralismo, à ciência e ao meio ambiente, que varreram os Estados Unidos nos últimos quatro anos. Ódio e rancor eram destilados no interior da Casa Branca, incitados pelo próprio presidente.
De imediato, Biden se depara com a resistência de Trump, aferrado ao cargo, a aceitar a derrota. Enquanto as redes de TV anunciavam o desenlace da corrida favorável ao democrata, o presidente invertia os papéis, tornando-se o desafiante da vez: “Biden está correndo para passar-se por falso vencedor. A corrida está longe do fim.”
Não será uma transição típica, muito menos pacífica. A tradicional civilidade com que há quatro anos Obama recebeu Trump na Casa Branca dará lugar ao estresse de batalhas judiciais. E também a tentativa do atual presidente de descredenciar Biden diante da base de eleitores que se manteve fiel a ele.
Esta parcela de partidários trumpistas, integrada em sua maioria por homens brancos e de áreas rurais, é significativa e não poderá ser ignorada pelo presidente eleito, sob o risco de novos prejuízos nas eleições de meio de mandato, em dois anos. É importante destacar que se Biden venceu duplamente, no Colégio Eleitoral e no voto popular, Trump também teve desempenho melhor em relação a 2016.
O sucesso democrata se deu principalmente pela recuperação da chamada “muralha azul”, formada por Michigan, Wisconsin e Pensilvânia, uma espécie de escudo protetor dos democratas que foi conquistado em 2016 por Trump.
A eleição de Joe Biden, que, aos 78 anos, será o presidente mais velho a comandar o país, é seguida de outros simbolismos. Foi anunciada no mesmo dia em que, há 48 anos, tornou-se senador pela primeira vez. Consagra Kamala Harris como a primeira mulher negra como vice-presidente do país. Mas, sobretudo, traz alento e esperança de pôr fim a um reinado caótico, divisivo e violento nos EUA.
Fonte/Créditos: BLOG DA SANDRA COHEN.
Foto: AP Photo/File.