Por Metrópoles
Enviados especiais a Macapá (AP) – O apagão que atingiu o estado do Amapá está prestes a completar uma semana. Com o fornecimento de energia elétrica em esquema de rodízio, amapaenses têm acesso à luz de seis em seis horas por dia, mas não sabem quando vão retomar a rotina.
Se de dia o calor, quase na casa dos 40º C, já maltrata, de noite, ele tortura. Com as cidades escuras e sem ventilação, as janelas são fechadas para evitar a entrada de mosquitos. Sem vento e sem acesso à energia para ligar o ventilador ou o ar-condicionado, Aldeci da Silva Pinheiro, 37, morador de São Lázaro, um bairro de Macapá, teve de tomar uma medida drástica.
Cadeirante e com necessidades especiais, Aldeci foi obrigado a dormir do lado de fora da casa por menos pelos três dias desde o apagão no estado. Tudo isso para suportar o calor.
“É a única forma da gente sentir o vento, né? Porque dentro da residência não tem como ficar. Faz muito calor”, explica o amapaense que tem o auxílio da mãe, Josidete da Silva, 56. Ela conta que conta que o filho passa o dia nu e chega a dormir sem roupa para suportar o calor.
Populares do bairro comentam que a região é constantemente alvo de perseguições policiais. Somado ao sofrimento diário de Aldeci, a questão de segurança pública se torna um agravante para ele.
“É um constrangimento… A gente não consegue dormir. É uma ansiedade, um desespero, de não saber quando é que vai voltar tudo isso ao normal”, desabafa.
Esgoto, falta de estrutura e prejuízos
Não obstante, além de todo o caos imposto a Aldeci, a casa onde ele mora com a mãe há 22 anos foi construída em cima de uma rede de esgoto. Literalmente.
Feitas de madeira e com suporte para não encostarem na água suja, as casas da região têm mau-cheiro durante todo o dia. As madeiras do chão têm pequenas aberturas por onde passa o odor. Somado ao calor, o cenário piora.
A ponte que dá acesso às casas do bairro também está em situação precária. É difícil andar sem ter onde se equilibrar. De acordo com os moradores, na prefeitura de Macapá consta que a área está toda asfaltada.
Devido ao apagão, logo nos primeiros dias sem luz, o paraense André Luís Gonçalves da Costa, 50, machucou a perna voltando do serviço. Ele conta que, ao errar o passo, caiu da ponte e um prego entrou na sua perna.
André diz que o governo não toma uma atitude, mas não precisa fazer muito. “A gente pede só uma madeira nova e nós construímos a ponte. Só isso. Será que é pedir muito?”, indaga.
Alguns passos mais à frente, dona Maria Marta Bruno Brazão, 58, mora com a filha de 10 anos em uma casa de madeira de dois cômodos e um banheiro. O prejuízo, conta, só não foi maior porque ela e a filha já estavam com pouca comida quando ocorreu o apagão.
“A gente perdeu o pouco que a gente tinha na geladeira […]. E aí? Como fica a nossa situação? […] A nossa calamidade aqui é triste porque ninguém quer saber da população, não. Nós somos um povo esquecido”, relatou a amapaense.
Foto: Hugo Barreto