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Disputa entre Bolsonaro e Dória faz uma vítima: a população

10 de novembro de 2020, 17h02 | Por Carlos Lindenberg

by Carlos Lindenberg

Se a informação da TV Cultura for confirmada, segundo a qual a morte do voluntário que testava a coronavac foi por suicídio e não em decorrência da vacina, o presidente Jair Bolsonaro corre o risco de ficar desmoralizado e ainda terá que vir a público pedir desculpas à nação. Primeiro porque não é admissível que um órgão como a Anvisa seja usado politicamente. Segundo porque é inconcebível que alguém comemore a morte de alguém – menos ainda o presidente da República – depois porque não estamos num jogo de futebol em que um ganha e o outro perde, como comemorou ontem o presidente da República ao dizer que “mais uma vez ganhei do Dória”.

De sua parte, a Anvisa precisa ser também mais ligada nesse tipo de providência, ainda que se deva ter cuidado mesmo porque afinal são milhares de pessoas que estão sendo testadas. Ocorre que já houve uma morte anterior a esta, a de um gaúcho, que na verdade era do grupo de teste da vacina de Oxford, e tomou um placebo, vindo a falecer, o que não provocou esse alarido todo nem a comemoração. Na verdade, tudo isso é provocado pela politização da vacina que surgiu em decorrência da parceria feita pelo Instituto Butantan, de São Paulo, com um laboratório chinês, contra a qual se insurge o presidente da República, que vê na iniciativa do governador paulista João Dória uma espécie de corrida para ver quem primeiro lança uma vacina anticoronavírus no país. Ora, uma coisa absurda.

É certo que as autoridades sanitárias do país precisam observar todos os cuidados que se deve ter em situações assim, mas não devem politizar uma simples “gripezinha” e muito menos uma pandemia que já matou mais de 150 mil brasileiros e infectou milhões. De qualquer forma agora a Anvisa, um órgão sério, pelo menos até aqui, fica nesse jogo de empurra em que acusa as autoridades de saúde paulistas de que não foi informada da causa-mortis por suicídio, enquanto o Butantan insiste em dizer que passou a informação de que a polícia encontrou o corpo dia 29 de outubro no banheiro da casa do possível homicida em meio a seringas e ampolas de remédios. É nisso que dá tratar um assunto sério, dessa magnitude, como um joguinho de perde e ganha. Nisso só tem um perdedor: a população, que fica na mão de um presidente da República em disputa política com um governador, porque ambos são presumíveis candidatos à presidência da República.

Foto: REUTERS/Dado Ruvic//File Photo

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