Por Terra
A polêmica sobre os testes para diagnóstico do coronavírus, prestes a perder a validade, ampliou o estremecimento das relações entre o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, e o presidente Jair Bolsonaro. Antes da nova crise no governo, Pazuello já estava desgastado por ter sido desautorizado pelo presidente, que chegou a cancelar o acordo para a compra de 46 milhões de doses da vacina chinesa. Em recente conversa com amigos, Pazuello, que é general da ativa, se queixou da pancadaria e disse que, se sair, sairá feliz. Depois, em tom de piada, comentou que seria bom “voltar ao quartel”.
Com o “fogo amigo” cada vez mais alto dentro e fora do Palácio do Planalto, Pazuello afirmou, nos bastidores, que via como “natural” uma possível saída do Ministério, mas foi demovido por colegas, todos auxiliares do presidente, de tomar qualquer atitude nesse sentido. A cadeira na Saúde é cobiçada por partidos do Centrão, que apoiam Bolsonaro em troca de cargos e verbas públicas.
Sua volta para o quartel traria uma situação no mínimo curiosa. É que, como general de três estrelas, depois de ter sido ministro, Pazuello poderia enfrentar contratempos para encontrar um posto. Se retornar para o trabalho nas Forças Armadas, a tendência é que ocupe uma função na burocracia do Exército, sem qualquer notoriedade.
Ainda no domingo, quando a notícia dos testes prestes a vencer foi divulgada pelo Estadão, Pazuello recebeu uma mensagem do presidente com um pedido de explicação. O Estadão apurou que o ministro justificou que o material havia sido enviado a Estados e municípios. Governadores e prefeitos, portanto, deveriam dar justificativas sobre o motivo de não terem usado os kits. A informação não estava correta e, ao reproduzi-la nas suas redes sociais, Bolsonaro acabou virando alvo no lugar do ministro. Na verdade, quase sete milhões de testes estão encalhados num galpão do governo federal em Guarulhos, na Grande São Paulo. Do total, 6,8 milhões perdem a validade entre dezembro e janeiro de 2021.
Bolsonaro também ouviu do ministro que a pasta estava pedindo prorrogação do prazo de validade dos testes aos laboratórios e também o aval da Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa). O presidente previu ali mais problemas, segundo apurou o Estadão, pelo novo debate que isso poderia causar, uma vez que a medida depende do órgão regulador. Não bastasse isso, o Ministério da Saúde ainda se viu envolvido em outra polêmica. Nesta quinta-feira, 26, o Estadão revelou que vazaram dados confidenciais de 16 milhões de pacientes de covid-19, incluindo informações do próprio presidente e do ministro da Saúde, que estavam sob a guarda do governo.
Numa tentativa de blindar o presidente, a estratégia traçada foi tirar Pazuello de cena. “Agora é falar pouco, trabalhar muito e apresentar resultados”, disse ele à equipe, no início desta semana, cumprindo o roteiro. Na prática, o Ministério da Saúde se torna cada vez mais tutelado pelo Palácio do Planalto.
O ministro ainda se recupera das sequelas de covid 19 e admitiu a complexidade da doença. Logo depois de contrair o vírus, no entanto, declarou que estava “zero bala” e pregou o uso de hidroxicloroquina – medicamento defendido pelo governo, mas sem eficácia comprovada. Teve uma recaída, em seguida, e precisou ser internado.
Ao sair do hospital, Pazuello ficou ausente de algumas discussões e confidenciou a interlocutores considerar “natural” a sua substituição, em breve, por um nome do Centrão, chefiado pelo deputado Arthur Lira (Progressistas-AL). O ministro também disse que evitará novos “problemas políticos”, como no caso da Coronavac.
Um dos cotados para assumir a cadeira de Pazuello é o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (Progressistas-PR), que foi ministro da Saúde na gestão de Michel Temer. Barros conversou várias vezes com Pazuello, nos últimos dias. Mas todos que abordam com ele a possível reforma ministerial ouvem sempre a mesma resposta: “Não tenho interesse em voltar à Saúde”. Poucos acreditam.
Mesmo sem o vírus ativo no organismo, Pazuello ainda sente fortes efeitos da doença. Ao participar da primeira cerimônia após o tratamento, recentemente, admitiu que não estava totalmente recuperado. “É uma doença complicada. É difícil voltar ao normal”, disse ele, na ocasião. A interlocutores Pazuello confessa que se sente mal todos os dias. Reclama de dores nos rins, inchaço e problemas até para subir escadas. Até hoje sente dificuldade para retornar totalmente suas atividades esportivas.
Foto: REUTERS/Adriano Machado
1 comentário
Tem que ter Milico pra ele mandar. Pois não questionam ordens, obedecem e batem em respeito ….
E um General ter que respeitar um expulso do Exercito por ato terrorista em Quartel, é o fim da picada !!!