Por Terra
Antes tarde do que nunca, o Brasil entra na lista de mais de 50 países que já imunizam suas populações contra a covid-19 e o domingo, 17/01/21, é “o dia da vitória, da vacina, da verdade e da vida”, como comemorou o governador de São Paulo, João Doria. Quanto mais isso é real, mais lamentável fica a guerra política, até no dia D, entre Doria, o vitorioso, e o presidente Jair Bolsonaro, o grande derrotado.
Doria foi quem planejou, se dedicou obstinadamente à Coronavac, é o primeiro a vacinar um brasileiro no Brasil e não desperdiçou seus 15 minutos de glória, com direito a emoção e choro. Bolsonaro, que, em vez de se empenhar pela vacina, guerreia contra ela, saiu do ar e deixou o general Eduardo Pazuello na linha de frente contra Doria. E Pazuello não disfarçou a dor de cotovelo.
Enquanto Inglaterra, França, Alemanha, EUA, Chile, Argentina, México… já vacinam seus cidadãos, o Brasil uniu indigência e guerra política. Sem estratégia, sem rumo, o Ministério da Saúde não negociou nas diferentes frentes e pendurou-se numa única vacina, a Oxford/Astrazeneca, que até agora ninguém sabe, ninguém viu no Brasil.
Além de não mexer uma palha para garantir imunização, Bolsonaro atacou a Coronavac como “vacina do Doria” e “vacina da China”, atiçou sua tropa de internet contra a vacina, bateu no peito ao dizer que não se vacinaria. Com que cara fica agora? A foto da primeira vacina é do Doria. E Pazuello só consegue anunciar o início da vacinação nacional na quarta graças à Coronavac. Nesta segunda, às 7 da manhã, ele vai fazer o que acusou Doria de fazer: “golpe de marketing”. Ops! E com a vacina do Doria…
A derrota de Bolsonaro arrasta os bolsonaristas de internet. Eles, que comemoraram a quebra do lockdown em Manaus e agora se calam diante do resultado, compararam as vacinas com a talidomida, desmoralizaram a Coronavac, ironizaram a China e, no próprio Dia D, antes do aval da Anvisa, postavam que idosos doentes se vacinaram e morreram na Noruega. Privilegiaram a guerra ideológica, desdenharam da guerra pela vida. Mas o Brasil vai sobreviver à pandemia. E a eles.
Foto: REUTERS/Ueslei Marcelino