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Discurso de posse de Agostinho Patrus, reeleito ao comando da ALMG fala dos desafios do legislativo em tempos de pandemia O presidente também falou da esperança de dias melhores com a chegada da vacina contra a Covid-19.

1 de fevereiro de 2021, 23h14 | Por Redação ★ Blog do Lindenberg

by Redação ★ Blog do Lindenberg

Os membros da nova mesa diretora da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) tomam posse na tarde desta segunda-feira (1º) em cerimônia realizada na Casa. Leia na íntegra o discurso do presidente da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, Agostinho Patrus (PV).

Todo o contexto que a pandemia nos inseriu não mudou apenas as solenidades, mas também a todos nós – mulheres e homens – que, incluídos ou não no contexto público, assumimos o desafio diário de viver uma nova realidade.

Para além da gratidão pela vida, outros sentimentos nos move, sobretudo aqueles de solidariedade com milhares de famílias enlutadas, que perderam pessoas queridas em razão da Covid-19.

A coragem é ímpeto necessário a qualquer enfrentamento – seja contra um vírus, seja a favor de pautas historicamente relevantes para o Estado de Minas Gerais. Assim como cunhou o filósofo Aristóteles, para quem abro aspas – “A coragem é a primeira das qualidades humanas porque garante todas as outras” – fecho aspas. Na quadra desafiadora que atravessamos, resgatar acontecimentos históricos, que mudaram o destino do nosso Estado e do nosso País, não é apenas apropriado, mas também necessário.

Desde o final do século dezessete, os episódios de resistência e reivindicações fizeram a voz de Minas ser ouvida em todos os períodos do cenário político nacional, mostrando que o mineiro reconhece e respeita o poder, não abrindo mão, contudo, do direito de contestá-lo onde houver injustiça.

Com Filipe dos Santos – português de nascimento e mineiro por adoção, tivemos a primeira insubmissão contra o jugo da Coroa Portuguesa. Em mil setecentos e vinte, a revolta de Vila Rica, por ele protagonizada, defendia o fim das Casas de Fundição e a redução dos tributos sobre o ouro. Sua morte e esquartejamento não foram em vão. O levante resultou na criação da Capitania de Minas Gerais e foi o embrião da Inconfidência Mineira.

A insatisfação com o controle excessivo da Coroa teve sequência e, sete décadas depois, mais uma vez, Minas disse não à exploração e ao arbítrio. O mais importante movimento do período colonial – a Conjuração Mineira – foi liderada por Joaquim José da Silva Xavier. Tiradentes, o mineiro de Ritápolis, o Mártir da Independência, também pagou com a vida por sua ousadia libertária, mas deixou plantada a semente da Independência do Brasil.

Já no século vinte, a influência de Minas nos destinos da nação teve lugar na República Velha, com a política do café com leite, quando dez mineiros ocuparam a Presidência da República em período pouco maior do que quarenta anos.

Fora do poder, Minas também esteve no centro dos debates nacionais em mil novecentos e quarenta e três, com o histórico Manifesto dos Mineiros – carta aberta à nação subscrita por importantes nomes da intelectualidade liberal, em defesa da redemocratização e do fim do Estado Novo.

Em mil novecentos e cinquenta e seis, depois de ser prefeito de Belo Horizonte, deputado federal e governador de Minas Gerais, Juscelino Kubitschek assume a presidência da República para promover o que ficou conhecido como “A Revolução do Desenvolvimento Brasileiro”.

Já dizia o profeta do desenvolvimento, que traçou os rumos do nosso Estado e do País: “A bandeira de nossas bandeiras é a esperança”.

Chegamos em dois mil e vinte um e, mais do que nunca, as palavras de JK são companhia constante para aqueles que clamam e reclamam um modelo integrativo de desenvolvimento, cujo não pode ser logrado através do condomínio de esforços representadas pela atividade política.

Se a política tem defeitos – e é certo que os tem – apenas por meio dela eles poderão ser corrigidos. Os que têm desapreço pela política afrontam um dos três alicerces civilizatórios, ao lado das artes e da ciência. Para dizer como Talleyrand aos Boucheviques: “Não aprenderam nada, não esqueceram nada”; do período autoritário que marcou a História.

Vivemos tempos que, por injunções do destino, crises diversas e simultâneas devem ser enfrentadas e vencidas. Para tanto, o caminho a ser trilhado passa por um desenvolvimento vigoroso, consistente, solidário, contínuo e sustentável.

A concepção de desenvolvimento de que precisamos, no entanto, não encontra seus limites no crescimento econômico. Requer mais amplitude e profundidade – uma verdadeira filosofia social com reflexos em todos os setores da atividade humana.

A Economia é um dos vieses do desenvolvimento, está contida nele. Contudo, sua centralidade não está no capital, e sim no ser humano. Na abertura do Fórum Econômico e Social, realizado na semana passada, em Davos, na Suíça, a Oxfam, confederação de dezenove organizações e trinta mil parceiros, atuando em mais de noventa países na busca de soluções para a miséria e a injustiça, apresentou o relatório “O Vírus Da Desigualdade”.

O trabalho concluiu que as mil pessoas mais ricas do mundo levarão apenas nove meses para recompor suas fortunas aos níveis pré-pandemia, enquanto os mais pobres vão levar catorze vezes ou mais, ou seja, mais de dez anos, para conseguir repor as perdas ocasionadas pelo impacto da doença.

A pandemia escancarou as desigualdades. É preciso conhecer esta realidade. O abstrato nos paralisa e o concreto cria possibilidades. Estamos inaugurando um Biênio que exigirá muito de nós. Pianistas de uma nota só serão de pouca valia para responder às demandas que emergem de uma metacrise de tamanhas proporções.

O soerguimento das atividades socioeconômicas rejeitará soluções pedestres, que não levam em conta a quantidade e a complexidade dos problemas que passamos.

Não basta crescer economicamente. Temos que crescer bem, de forma justa, dinâmica e distributiva, para que todos sejam beneficiários do fruto deste crescimento. Esta é a retomada propugnada pelo Plano de Desenvolvimento de JK, cujas metas nos motivam e nos inspiram.

Não sairemos ilesos desta crise. Haverá cicatrizes, por certo. Entretanto, a perspectiva alvissareira das vacinas já nos permite deflagrar o processo de recomeço em Minas.

No momento em que é renovada a confiança desta Casa, renovo também meu entusiasmo e minha crença na força realizadora do Parlamento mineiro.

A mão que balança o berço da democracia, que zela diuturnamente para que a voz de cada mineira e de cada mineiro esteja aqui representada, é também a arena própria para que as discussões sobre a retomada sejam travadas.

A crise convoca a todos, sobretudo aqueles que têm a saudável inquietude de agir. Contudo, o Parlamento tem seus ritos, seus prazos, suas liturgias. Não existe fast-track para o processo Legislativo, sob pena de restar prejudicado o que ele tem de mais basilar: o debate democrático.

A primazia desta Casa sempre foi, é, e continuar a ser, a do interesse público. Não extrapolaremos, tampouco abdicaremos dos nossos deveres e prerrogativas constitucionais.

A Assembleia de Minas continuará a realizar seu trabalho com humildade, mas com altivez; respeitando as instituições em suas normas e formas; e tentando aliar a mente de Atenas à força de Esparta, a fim de superar todos os percalços porventura impostos ao desenvolvimento de Minas Gerais.

Sabemos que não estamos sozinhos nesta empreitada. Ombreada por seus pares, a Mesa Diretora desta Casa se fortificará para continuar realizando o matrimônio entre coragem e trabalho durante o biênio hoje inauguradas.

Deputadas e deputados, se esta sessão foi aberta com o passado que nos guia – quero finalizá-la com o futuro que nos impulsiona e tonifica.

É da jovem Amanda Gorman, poeta e ativista de vinte e dois anos, que encantou o mundo recentemente a declamar seu poema “A Montanha que Escalamos”, na posse do Presidente Norte-Americano, os versos com os quais me despeço: “Enquanto temos nossos olhos no futuro, a história tem seus olhos em nós. Esta é a era da redenção justa”

Muito obrigado!

Foto:Luiz Santana
Com ALMG

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