Em entrevista exclusiva ao jornal O GLOBO desta sexta-feira, o médico, neurocientista e professor catedrático da Universidade de Duke (EUA) Miguel Nicolelis defendeu um lockdown nacional de 21 dias no Brasil para conter colapso às instituições de saúde com o crescimento de casos de Covid-19 nos últimos dias. “Eu estou vendo a grande chance de um colapso nacional. Não é que todo canto vá colapsar, mas boa parte das capitais pode colapsar ao mesmo tempo, nunca estivemos perto disso”, declarou ao veículo.
Na última quinta-feira, o Brasil ultrapassou a marca de 250 mil mortos pela Covid-19. Com 1.541 óbitos em 24 horas, segundo maior registro feito pelo Ministério da Saúde desde o início da pandemia.
“Ainda dá tempo de reverter. Estou propondo a criação de uma comissão de salvação nacional, sem Ministério da Saúde, organizado pelos governadores, para resolver a logística. É uma guerra, quando vamos bater de frente com o inimigo de verdade? O Brasil é o maior laboratório a céu aberto para ver o que acontece com o vírus correndo solto. Em segundo lugar, um lockdown imediato, nacional, de 21 dias, com barreiras sanitárias nas estradas, aeroportos fechados. E depois ampliar a cobertura, usando múltiplas vacinas. Não dá para ficar discutindo, assina o contrato e vai em frente, deixa para depois, estamos falando da vida de 1.500 pessoas por dia, são 5 boeings caindo. Vacinação, vacinação, vacinação, testagem e isolamento social. Não tem jeitinho numa guerra. Estamos diante de um prejuízo épico, incalculável, bíblico”, foi enfático o médico ao jornal.
Ao comentar as iniciativas tomadas em Belo Horizonte, ele elogiou o recuo da flexibilização ocorrido no início do mês, mas lembrou os problemas registrados no interior do Estado, sobretudo no Triângulo Mineiro e no Sul de Minas Gerais. “Santa Catarina anunciou que colapsou, o Rio Grande do Sul está dramático, o triângulo mineiro colapsou. Belo Horizonte teve dois lockdowns que provocaram queda importante nas internações e mortes, mas o sul do estado, não. Sabe aquele jogo de dominó em quem uma peça cai depois da outra? Foi a metáfora que usei (em referência a um possível aumento do número de casos em São Paulo)”, declarou ele na entrevista.
Com o Globo e o Tempo
Foto: José Luiz Somensi/Fronteira de Pensamentos