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Assim se explica o mau-humor de Bolsonaro na ida e a sua alegria na volta

29 de junho de 2019, 20h42 | Por Carlos Lindenberg

by Carlos Lindenberg

Quem teve a oportunidade de acompanhar, como eu, as imagens da viagem do presidente Bolsonaro ao Japão, para a reunião do clube dos 20, pode observar o contraste entre a ida e a vinda da comitiva. Bolsonaro chegou a Osaka de cara amarrada, de visível mau-humor, e foi logo na chegada destratando os jornalistas como só ele sabe fazer. E encerrou abruptamente uma coletiva que estava dando na porta do hotel – aliás até hoje não sei porque chefes de Estado ou de governo ou até governador teimam em dar entrevistas de supetão, com microfones batendo um no outro, quando não acertam a boca do entrevistado – o fato é que Bolsonaro desembarcou no Japão de mau-humor.

Eu até expliquei no dia, tanto aqui como na Itatiaia, a razão desse mau-humor. Primeiro, claro, aquele episódio do sargento da FAB preso na Espanha com 39 quilos de cocaína, a bordo do avião presidencial reserva – um escândalo mundial. Não importa dizer que o sargento voou com dois ou dez presidentes da República: ele foi pego com a cocaína no avião reserva da presidencial da República. Depois, houve o episódio da chanceler Ângela Merkel, que, no dia anterior, fez duras críticas à política ambientalista do atual governo brasileiro. Só o escândalo do sargento era suficiente para deixar Bolsonaro de mau-humor. O avião dele, em que ele estava, teve que desviar-se da Espanha e entrar por Portugal com destino a Osaka. E as críticas da chanceler alemã não foram suaves – ela inclusive foi quem forçou a adesão do Brasil ao Acordo de Paris, sem o que não haveria o entendimento com Emmanuel Macron que possibilitou o tratado da União Europeia com o Mercosul, apesar de Bolsonaro ter dito que o Brasil não terá condição de cumprir todas as exigências.

Mas assim foi a ida de Jair Bolsonaro ao Japão. Puro mau-humor. Com ou sem razão. E a volta? A volta ao Brasil, como não poderia ser diferente, foi só alegria.  Bolsonaro esteve numa churrascaria em Osaka, comprou bijuterias em mãos de camelô – eles cercam os hotéis para vender essas coisas aos estrangeiros – fez acordo com Macron, presidiu a reunião do G-20 – não teve agenda com o principal cliente do Brasil no mercado internacional, o primeiro-ministro da China, Xi Jinping, cancelado possivelmente por problema de agenda- mas é preciso dizer que esse acordo com a União Europeia vem sendo construído há 20 anos, quando Lula presidia o Brasil e Sarkozy presidia a França. Ninguém resolve uma coisa dessa importância e com tantos envolvimentos em meia hora de conversa – que foi o tempo do encontro entre Bolsonaro e Macron. De qualquer maneira, não se pode tirar do presidente brasileiro o fato de ter sido no seu governo que o acordo foi acertado, embora ainda não assinado. Esse desenrolar dos fatos explica porque Bolsonaro chegou de mau-humor ao Japão e porque desembarca hoje no Brasil cheio de alegria – mas era dispensável que lamentasse não ter sido o sargento da cocaína preso na Indonésia, onde dois brasileiros foram fuzilados por tráfico de drogas.

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