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Chanceler pede para sair e Bolsonaro tira o ministro da Defesa também: duas baixas num só dia. Comentário da Tarde - Por Carlos Lindenberg

29 de março de 2021, 17h42 | Por Carlos Lindenberg

by Carlos Lindenberg

Ao invés de um, dois. Foi com alguma surpresa que o mundo político tomou conhecimento ontem do pedido de demissão do chanceler Ernesto Araújo, já mais ou menos esperado depois do atrito dele com a senadora Kátia Abreu, que o chamou de farsante, por conta de uma insinuação malévola. Isso foi de manhã. À tarde, para surpresa maior, foi a fez do ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, que pediu exoneração.

No primeiro caso, era esperada a exoneração do chanceler Araújo, um egresso do grupo ideológico do governo encastelado no Itamaraty. Sua insinuação de que a senadora Kátia Abreu fazia lobby em favor dos chineses na tecnologia 5G foi a gota d’água. Araújo já estava balançado no cargo, sustentado ao que dizem pelos filhos do presidente Bolsonaro, de forma que sua saída não foi uma surpresa. Ele iria cair mesmo. Havia até um pedido de impeachment contra ele sendo articulado por alguns senadores. A saída do chanceler deve provocar uma mudança nos rumos do Itamaraty. Ele havia fracassado já nas negociações com a China e a Índia no caso dos insumos necessários para a fabricação de vacinas no Brasil, de forma que era só uma questão de tempo.

Mas o general Azevedo não. E ao que dizem o cargo de Ministro da Defesa foi pedido pelo presidente Bolsonaro diretamente ao então ministro que numa nota à imprensa disse que “preservei as Forças Armadas como instituições de Estado”, uma nota sobretudo enigmática. Mas o que se diz à boca pequena é que Bolsonaro, já nas mãos do centrão, não é de hoje, quer aproveitar a saída do general Eduardo Pazuello, da Saúde, na semana passada, e agora de Fernando Azevedo para desmilitarizar o governo, tanto que o comandante do Exército, Edson Pujol, também pode cair. Braga Neto, no entanto, deve ser remanejado para a Defesa.

O problema agora seria em primeiro lugar o substituto de Ernesto Araújo. O nome falado é o do atual embaixador do Brasil na França, Luiz Fernando Serra, tão ruim quanto o chanceler que sai, na avaliação de parlamentares que participaram da degola de Araújo. O que significa que a tensão entre o presidente da República e o Congresso vai continuar. Quem o conhece diz que ele seria contra os direitos humanos, é arestoso e não tem habilidade diplomática para fazer negócios com outros países. Além do mais, reclamou em 2020 que a imprensa francesa estava dando mais destaque ao assassinato da vereadora Marielle Franco do que ao crime envolvendo o ex-prefeito Celso Daniel e até mesmo ao atentado contra o hoje presidente Jair Bolsonaro. De qualquer maneira, perder dois ministros de uma só tacada não é para qualquer governo, não. O importante neste instante é saber se fato o embaixador Serra assumirá no lugar de Ernesto Araújo e para que lado ele vai tocar o Ministério das Relações Exteriores e o que fará Bolsonaro com a enormidade de militares em seu governo, sendo certo que, no caso do embaixador Serra, a tensão com o Congresso vai continuar. Bolsonaro, em suma, patina num governo que já tem mais de 300 mil mortos pelo coronavírus, não governa com o jogo de forças do Congresso, hoje nas mãos do centrão, e não combina com o Supremo Tribunal Federal, com quem sempre entra em competição. Em suma, Bolsonaro, na verdade, se sustenta menos no poder civil do que no militar.

Fotos: Reprodução

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