Por G1
A partir desta segunda-feira (26), escolas particulares de educação infantil de Belo Horizonte podem voltar às aulas presenciais, depois de um ano e um mês fechadas por causa da pandemia de Covid-19. O retorno só será possível para crianças de até 5 anos e deve ser facultativo – cada família vai decidir se este é o momento certo para a criança voltar à sala de aula.
A professora Carolina Martins não vê a hora de o filho mais novo, Arthur, de 2 anos, poder voltar a ter contato com crianças da mesma idade. Ele frequentou a escola no início de 2020, antes da pandemia, e, posteriormente, em fevereiro deste ano, após aval da prefeitura para funcionamento das instituições como espaços recreativos.
“A gente não teve problema. A escola estava com número de alunos reduzidos e com todos os protocolos. Ele ficou 45 dias e não teve nenhum caso na escola. Ele ficou muito mais tranquilo, mais feliz, chegava feliz, ia feliz. Por isso a gente decidiu que na segunda vai retornar”, disse a mãe.
O filho mais velho dela, Théo, de 5 anos, estuda em uma escola de Nova Lima, onde ainda não há autorização para a volta às aulas presenciais. “Não fosse por isso, ele já estava voltando também”, disse.
O retorno também é aguardado pelas próprias instituições de ensino. O Sindicato das Escolas Particulares (SInep-MG) estima que 80% devem voltar já nesta segunda. O restante prevê o retorno para o dia 3 de maio, junto com as Escolas Municipais de Educação Infantil (EMEIs). (Veja mais sobre a rede municipal abaixo).
“As escolas e educação infantil são as que mais sofreram durante a pandemia. Nós calculamos que 40% encerraram as atividades ou nem iniciaram, por falta de matrículas. Existe expectativa muito grande para a retomada novamente”, disse a presidente do Sinep-MG, Zuleica Reis.
Para que a volta ocorra com segurança, as escolas particulares receberam orientação de especialistas da Associação Mineira de Epidemiologia e Controle de Infecções (Ameci), ainda em junho do ano passado. Segundo Zuleica, este planejamento possibilitou a adaptação bem antes do retorno, já que o protocolo final elaborado pela prefeitura foi publicado somente no último sábado.
É o caso de um colégio particular que tem duas unidades na Região Centro-sul de Belo Horizonte. Segundo a diretora de ensino, Cléa Prado, as adaptações foram feitas na expectativa de que o retorno ocorresse ainda em agosto de 2020.
Nos dois colégios, foram colocadas indicações no piso e seis pias para higienização logo na entrada. Também foram colocados dispensers de álcool gel na porta das salas de aula.
“Nós vimos que as crianças estão cada vez mais com a saúde emocional abalada. Então, ampliamos duas situações. Os professores vão usar capas de chuva para conseguir pegar os pequenos no colo. É uma forma de protege-los e de proteger a nós mesmos. Também preparamos atividades para os meninos voltarem a conviver numa pequena cidade que tem dentro do colégio. É uma chance de voltarem a viver no espaço social”, disse a diretora.
De acordo com Cléa, a adesão para o retorno tem sido grande entre os pais. “Primeiro porque não adaptaram às aulas remotas. A maioria já voltou a trabalhar e tem dificuldades de deixar com outras pessoas. Além disso, percebem que o desenvolvimento das crianças está atrasado em relação ao que deveria estar. Eles não estão tendo interação com crianças da mesma idade”, afirmou.
Mas entre os professores ainda há receio. Na sexta-feira (23), profissionais da rede municipal e de escolas particulares realizaram um ato contra a volta às aulas presenciais na cidade. O protesto ocorreu em frente à prefeitura, no centro da capital.
A presidente do Sindicato dos Professores do Estado de Minas Gerais (Sinpro Minas), que representa docentes da rede privada, Valéria Morato, destacou, durante o ato, que a volta às aulas presenciais significa milhares de pessoas a mais circulando na cidade.
“Queremos aula presencial, porque educação se faz de forma presencial, mas precisamos estar vivos e, neste momento, o que vale é garantir a vida, e não o retorno”, afirmou na ocasião.
Retorno já poderia ter ocorrido, diz pediatra
A pediatra Carolina Capuruço acredita que o retorno já poderia ter acontecido em agosto do ano passado, quando pesquisas científicas evidenciaram que as crianças não são grande transmissoras do coronavírus e, muito raramente, desenvolvem formas graves da doença.
“Eu acho que nós perdemos oportunidades de ouro de ter voltado no ano passado, entre agosto e dezembro, quando estávamos com todos os indicadores no verde. E quanto a gente já sabia que as crianças não eram grandes vetores, não eram grandes impulsionadores e também não tinham agravamento do quadro”, afirmou.
O G1 perguntou à Secretaria Municipal de Educação por que as aulas não voltaram no período mais brando da pandemia, mas não obteve resposta ao questionamento.
Carolina Capuruço disse que, por causa do período longo em que ficaram em casa, as crianças podem ter danos neurológicos, de desenvolvimento, de habilidades sociais – como aprender lidar com frustração, por exemplo. Algumas também sofrerão danos físicos, com aumento de abusos sexuais, de violência doméstica, além da evasão escolar.
“O momento de abertura de escola é o momento que possa haver qualquer flexibilização, abertura da cidade. Se opta por abrir gradualmente, que a escola esteja em primeiro lugar”, defendeu a médica.
A continuidade das aulas presenciais, no entanto, depende dos indicadores da pandemia. Se houver piora, a prefeitura disse que pode haver recuo e as escolas serem novamente fechadas.
Volta às aulas nas escolas municipais
Na rede municipal, apenas os trabalhadores da educação voltam a trabalhar nesta segunda, enquanto os alunos só vão retornar às escolas no dia 3 de maio.
A prefeitura disse que autorizou a retomada das aulas presenciais devido à queda dos índices de transmissão e óbitos por complicações da Covid-19.
Segundo a Secretaria Municipal de Educação (Smed), a rede tem 52.818 crianças de 0 a 5 anos na rede própria e 27.447 nas creches parceiras.
Ainda de acordo com a Smed, há professores em número suficiente para garantir o atendimento das crianças que retornam na primeira fase, considerando que, conforme as exigências de distanciamento colocadas no protocolo, haverá possibilidade de rodízio e alternância nos dias de atendimento em grupos menores.
A secretaria informou que algumas famílias já manifestaram que não vão aderir ao retorno presencial em um primeiro momento. Estes alunos vão permanecer com as atividades remotas. Professores que possuem comorbidades, com laudo atestado pela perícia médica, vão continuar em teletrabalho.
As salas de aula deverão ter até 12 alunos, segundo o protocolo publicado no sábado.
A prefeitura investiu R$ 14 milhões para garantir a segurança de alunos e profissionais da educação no retorno às aulas presenciais. São cerca de 2 milhões de itens, como sabão, álcool, máscaras, termômetros, tapetes de higienização, entre outros. Nas escolas de educação infantil, foram feitas adequações na organização dos espaços.
“Para o cumprimento dos protocolos, além de produtos de limpeza, higiene e desinfecção, as escolas receberam pequenas alterações na rede hidráulica para, em alguns casos, aumentar o número de pias, além de novos bebedouros e outras obras físicas”, informou a Smed em nota.
De acordo com a prefeitura, a fiscalização das escolas – e também de outras atividades – é feita pela Vigilância Sanitária Municipal. Os fiscais percorrem os locais para verificar o cumprimento dos protocolos. Denúncias podem ser feitas por meio do 156 ou pelo portal da Prefeitura.
Volta às aulas nas escolas estaduais
Nas escolas estaduais, ainda não há previsão para retorno presencial. De acordo com os protocolos para a volta às aulas presenciais apresentados em 24 de fevereiro, esta volta será híbrida, mantendo o ensino remoto, mas somente nos municípios que estão nas ondas amarela e verde do Minas Consciente.
Segundo o governo, o retorno será gradual, com regras de distanciamento, higienização e de forma alternada, inicialmente para alunos do 1º ao 5º ano. O instrumento garante a disponibilidade de álcool em gel, sabonete líquido, máscaras e EPI’s para funcionários.
A volta das aulas não tem uma data definida, porque depende de autorização judicial. Segundo o governo de Minas, nos próximos dias, o advogado-geral do Estado, Sérgio Pessoa, se reúne com representantes do Tribunal de Justiça de Minas (TJMG) para discutir o assunto.
Foto: Danilo Girundi/TV Globo