Home CPI Convocação de governadores leva senadores a fazer reunião secreta e divide CPI da Covid

Convocação de governadores leva senadores a fazer reunião secreta e divide CPI da Covid Houve divergência entre integrantes da cúpula da comissão. Nove governadores foram convocados. Ainda não há data para as audiências nas quais prestarão depoimento.

26 de maio de 2021, 17h56 | Por Carlos Lindenberg

by Carlos Lindenberg

Por G1

A convocação de governadores dividiu senadores que integram a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid. Mesmo depois de uma reunião secreta para tentar um acordo, integrantes da cúpula da CPI – presidente, vice e relator – divergiram sobre a posição adotada.

Nesta quarta-feira (26), a comissão aprovou a convocação de nove governadores — Wilson Lima, do Amazonas; Ibaneis Rocha, do Distrito Federal; Waldez Góes, do Amapá; Helder Barbalho, do Pará; Marcos Rocha, de Rondônia; Antônio Denarium, de Roraima; Carlos Moisés, de Santa Catarina; Mauro Carlesse, de Tocantins; e Wellington Dias, do Piauí.

Também foram convocados um ex-governador (Wilson Witzel, do Rio de Janeiro) e uma vice-governadora (Daniela Reinehr, de Santa Catarina). O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, e o antecessor, Eduardo Pazuello, foram convocados novamente – os dois já prestaram depoimento à CPI.

A comissão foi instalada em 27 de abril. O objetivo é apurar ações e omissões do governo federal durante o enfrentamento à pandemia e também eventuais desvios de verbas federais enviadas aos estados.

Quase um mês após o início dos trabalhos da comissão, essa é a primeira ação cujo alvos são os representantes de estados.

A aprovação da convocação dos governadores foi precedida de uma reunião “secreta” convocada pelo presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM), logo no início dos trabalhos. Senadores se reuniram, a portas fechadas, por uma hora e meia.

Logo após a aprovação da convocação de dois governadores, o relator Renan Calheiros (MDB-AL) pediu para que ficasse registrado seu voto contrário.

O senador é pai do governador de Alagoas, Renan Filho. Não havia, no entanto, nenhum pedido referente ao governador alagoano.

“Eu queria novamente colocar: eu não fiz acordo para convocar governador, muito menos prefeito, porque não é da competência do Senado Federal fazê-lo, unicamente por isso”, afirmou o relator.

O voto contrário do relator foi endossado pelo vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), e pelos senadores Eduardo Braga (MDB-AM) e Humberto Costa (PT-PE).

O presidente da comissão, senador Omar Aziz (PSD-AM), afirmou que havia um acordo para a aprovação.

“Nós fizemos um acordo. Isso é falta de respeito comigo, que fiz um acordo com vocês, com Vossa Excelência, senador Humberto. Agora, tem que cumprir o acordo aqui, por favor”, disse Aziz.

Aziz ressaltou ainda ter uma “relação especial” e um “respeito muito grande” pelo senador Jader Barbalho (MDB-PA), que integra a comissão como suplente. Na manhã desta quarta, a comissão aprovou a convocação do filho de Barbalho, o governador do Pará, Helder Barbalho (MDB).

“Não é nenhuma alegria para mim fazer isso com o filho dele aqui. Mas, agora, não dá para a gente fazer uma coisa ali, chegar aqui e o senador dizer: ‘Não, o meu também é contra”. Não façam isso comigo’, afirmou o presidente da CPI.

Jair Bolsonaro

Logo no início dos trabalhos, em protesto contra a convocação de governadores, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) apresentou um requerimento de convocação do presidente Jair Bolsonaro.

Ele próprio ressaltou, no entanto, que há obstáculos legais tanto na Constituição Federal quanto no regimento do Senado para a convocação de chefes do Executivo – ou seja, governadores e o presidente da República.

Apoiador do presidente Bolsonaro, o senador Marcos Rogério (DEM-RO) disse que a medida era uma estratégia para não aprovar a convocação de governadores e chamou de “piada” o requerimento apresentado por Rodrigues.

“É a mesma piada que é vedada pelo artigo 147 do Regimento Interno da Casa. É a mesma piada do artigo 2º da Constituição. Vale para um, não vale para o outro, senhor Marcos Rogério?”, contestou o vice-presidente da CPI.

Prefeitos

O depoimento de prefeitos também gerou discussão entre os senadores. Estava pautada para esta quarta a convocação de sete prefeitos. Os requerimentos, no entanto, não foram apreciados.

Ao ser cobrado pelo senador Eduardo Girão (Podemos-CE), o presidente Omar Aziz reagiu e o chamou de “oportunista pequeno”.

“Vossa Excelência é um oportunista, e oportunista pequeno. Vossa Excelência estava lá (na reunião), escutou o que nós acordamos”, disse Aziz.

“Desde o primeiro momento, toda a sociedade brasileira que tem inteligência sabe que Vossa Excelência está aqui com um único objetivo: que a gente não investigue por que a gente não comprou vacina. E Vossa Excelência, que não entende patavina de saúde, quer impor a cloroquina na cabeça da população. Vossa Excelência, repito, é um oportunista”, continuou Aziz.

“Eu não acordei isso. Eu não fiz esse acordo”, respondeu Girão, um dos autores do requerimento que ampliou a abrangência da CPI, a fim de permitir a investigação da aplicação de recursos federais enviados para estados e municípios.

Omar Aziz retrucou: “Me leve para o Conselho de Ética”, ao que Girão respondeu: “Eu respeito o senhor”.

“Vossa Excelência não respeita ninguém”, contestou Aziz. “Vossa Excelência age sorrateiramente”, complementou.

Foto: Reprodução/TV Globo

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