Por G1
O presidente do Instituto Butantan, Dimas Covas, afirmou nesta quinta-feira (27) à CPI da Covid que as negociações com o governo federal para compra pelo governo da vacina Coronavac “pararam” em 20 de outubro do ano passado.
Ele atribuiu a interrupção a uma declaração do presidente Jair Bolsonaro de que não compraria a vacina. A fala de Dimas Covas contraria a do ex-ministro Eduardo Pazuello, que afirmou à CPI que a declaração de Bolsonaro não havia interferido.
Desde o início do processo de desenvolvimento, a CoronaVac foi alvo de desdém do presidente Jair Bolsonaro, em meio à disputa política dele com o governador de São Paulo, João Doria (PSDB). A vacina é produzida numa parceria do laboratório chinês Sinovac com o Butantan, ligado ao governo paulista.
Segundo Dimas Covas, o Butantan estava “trabalhando intensamente” com o Ministério da Saúde para possibilitar um “instrumento jurídico”, uma medida provisória, que viabilizasse o contrato e, assim, o fornecimento das doses.
Dimas Covas disse que ele e Pazuello, então ministro da Saúde, fizeram três reuniões presenciais em outubro.
“No mês de outubro, fui três vezes ao Ministério da Saúde”, declarou. “A partir do dia 20 [de outubro], essas tratativas simplesmente pararam”, disse o diretor do Butantan à comissão.
No dia 21 de outubro, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que mandou cancelar um protocolo de intenções para aquisição de 46 milhões de doses da Coronavac.
Um dia antes, o Ministério da Saúde havia manifestado a intenção de compra do imunizante do Butantan produzido em parceria com a empresa chinesa Sinovac.
Na quarta-feira (19) da semana passada, em depoimento à comissão, Pazuello expôs que a declaração de Bolsonaro “não interferiu em nada” nas negociações entre governo e Butantan.
“Acreditem, nunca o presidente da República mandou desfazer qualquer contrato, qualquer acordo com o Butantan – em nenhuma vez. A posição de agente político dele ali não interferiu em nada do que nós estávamos falando com o Butantan”, disse o ex-ministro da Saúde.
De acordo com Pazuello, em outubro, ainda não havia “disposições legais”, “condições” para assinatura do contrato da Coronavac.
“Explico que essas disposições legais só chegaram naquela MP que foi promulgada para comecinho de janeiro – se eu não me engano, 1.046; eu não tenho certeza do número”, afirmou o general do Exército.
Pazuello também afirmou à CPI na semana passada que não havia “consenso” dentro do governo em relação a essa medida provisória (MP), editada em janeiro, que tratava da compra de vacinas. Segundo o ex-ministro, a primeira versão do texto dessa MP foi alterada pois “não havia consenso entre os ministérios pelas suas assessorias jurídicas”.
Durante o depoimento de Dimas Covas nesta quinta, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), exibiu um vídeo em que Pazuello, ao lado de Bolsonaro, comentava a declaração do presidente sobre não comprar a CoronaVac: “É simples assim: um manda e o outro obedece”, afirmou na ocasião o ex-ministro na gravação.
Após a exibição do vídeo, Covas disse que “as tratativas não progrediram”, apesar da insistência do instituto, e que houve três meses de paralisação nas negociações.
Em seu depoimento, Pazuello reduziu a fala de Bolsonaro a um “jargão militar”.
“Então, na verdade, aquilo é só um jargão militar, é apenas uma posição de internet e mais nada, sentado num quarto, colocando que ele manda e o outro obedece; quem manda é ele, e eu obedeço. Aquilo é um jargão simplório, colocado para discussões de internet”, argumentou.
Foto: PABLO JACOB / Agência O Globo