Home Comentários Bolsonaro passa recibo às manifestações de sábado contra o seu governo

Bolsonaro passa recibo às manifestações de sábado contra o seu governo Comentário da Manhã - Por Carlos Lindenberg

31 de maio de 2021, 14h24 | Por Carlos Lindenberg

by Carlos Lindenberg

Ao falar hoje, como sempre à quela meia dúzia de gatos pingados que o esperam na saída do Alvorada, dizendo que “faltou maconha” às manifestações de sábado, realizadas em mais de 100 cidades brasileiras, incluindo todas as capitais e o Distrito Federal, o presidente Jair Bolsonaro, sem querer, passou recibo à volta do povo às ruas para reclamar contra a falta de vacinas e como a maneira com que o governo vem conduzindo a luta contra a pandemia que já matou mais de 460 mil pessoas e infectou mais de 15 milhões de brasileiros.

Melhor teria sido o presidente ficar calado, pelo menos assim reduziria de alguma forma o tamanho das manifestações e suas repercussões políticas, ainda que os seguidores do governo, sobretudo os filhos do presidente, tenham gerado um sem número de fake news para tentar esvaziar a pressão sobre o governo nas ruas – foi assim que Collor começou a cair, o que não quer dizer que poderá acontecer o mesmo com Bolsonaro por que as condições políticas do país são outras e no meio tem uma pandemia para complicar ou amenizar as coisas.

As bandeiras de luta dos manifestantes foram várias. Pediram mais vacinas – atualmente cerca de 10 por cento da população recebeu as duas doses; em Minas quase 11 por cento – pediu-se também o impeachment do presidente e protestou-se contra as privatizações, cabendo ao general Mourão, vice-presidente da República, ironizar também a ida do povo às ruas com uma frase sobre as “manifestações do bem” , como se as de Bolsonaro fossem as do mal e as de sábado “do bem”, o que é uma estultice porque o que determina um caso ou outro é o mote da saída do povo às ruas ou, na melhor das hipóteses, o que as motiva.

Collor, por exemplo, pediu que o povo não o abandonasse e caiu a partir do apelo. De qualquer forma, ao contra-atacar as manifestações de sábado, o presidente Bolsonaro passou recebido e com isso reconheceu, assim como ministros de seu governo, que o evento superou as expectativas. Em casos assim, o melhor é ficar calado, desconhecer, o que não fizeram os filhos do presidente, o vice-presidente e o próprio presidente, todos de certa forma reconhecendo que as manifestações os surpreenderam não só pelo volume de pessoas nas ruas como pela amplitude dos protestos, ainda que o presidente da CPI, Omar Aziz, tenha achado que o povo nas ruas foi um erro das esquerdas. O que o senador não poderia deixar de entender é que não só os que defendem o governo podem se manifestar, mas também os que se opõem a ele, para fazer lembrar aqui o senador Teotônio Vilela que nas manifestações pelas Diretas-já reclamava o “eco das ruas” para fazer o governo dos militares acordar de seu sono letárgico – o que acabou acontecendo ao final de 25 anos.

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

LEIA TAMBÉM

Envie seu comentário