Home Brasil ‘Meu olho foi retirado’, diz um dos atingidos pela PM; segunda vítima confirma que também perdeu visão

‘Meu olho foi retirado’, diz um dos atingidos pela PM; segunda vítima confirma que também perdeu visão Daniel Campelo, de 51 anos, passou por cirurgia nesta segunda (31). Ele e Jonas de França foram atingidos por balas de borracha atiradas por policiais militares, durante manifestação contra Bolsonaro, no Recife.

31 de maio de 2021, 18h18 | Por Redação ★ Blog do Lindenberg

by Redação ★ Blog do Lindenberg

Por G1

“Meu olho foi retirado. Estou sem a visão. Na situação que a gente está, tem que agradecer a Deus, mas eu não desejo para ninguém”. O depoimento é do adesivador de táxis Daniel Campelo, de 51 anos, uma das vítimas da ação da PM durante o protesto pacífico contra Bolsonaro (sem partido), no Recife, no sábado (29). Nesta segunda (31), ele passou por uma cirurgia e teve o olho esquerdo removido.

A cirurgia de Daniel ocorreu na Fundação Altino Ventura (FAV), onde ele estava sendo acompanhado. A vítima, no entanto, está internada no Hospital da Restauração, em observação.

No mesmo quarto, está o arrumador de contêineres Jonas Correia de França, de 29 anos, que também foi atingido no olho pelos policiais militares.

Jonas, nesta segunda, recebeu a confirmação dos médicos da FAV de que perdeu totalmente a visão do olho direito. Ele segue aguardando que o olho desinche, para, assim, ser novamente avaliado pelos médicos.

Na quarta-feira (2), ele deve ir até a fundação em jejum, já que, possivelmente, deverá passar por uma cirurgia.

Os dois trabalhadores sequer estavam no protesto e foram ao Centro da cidade para trabalhar, quando foram pegos de surpresa pela barricada dos policiais militares. Abalado, Daniel Campelo se limitou a confirmar que teve o olho removido. Ao lado dele, Jonas França falou sobre a indignação de ter sido vítima do estado.

“Só Deus sabe o que eu passei e estou passando. Hoje eu acordei muito triste, angustiado, porque sou um jovem novo, com saúde, independente, gosto de trabalhar. Sou muito de família, penso muito nos meus filhos, e o que vai ser de mim agora? Dos meus filhos e da minha esposa, que precisam de mim? Não sei nem o que falar, é só o desespero mesmo, de um pai que corre atrás do sustento da família. Já chorei muito”, afirmou o arrumador.

Jonas Correia de França foi atingido por balade borracha no olho pela PM, no Recife — Foto: Reprodução/WhatsApp

Por meio de nota, a Fundação Altino Ventura afirmou que Jonas Correia de França foi atendido na emergência da unidade hospitalar, no sábado, após ser encaminhado pelo Hospital da Restauração. Na primeira consulta, a vítima sofria com forte dor no olho direito e os médicos identificaram um edema periocular, além de sangramento intraocular.

Desde então, o paciente vem sendo acompanhado pela equipe da fundação, mas continua internado no HR, onde é medicado para que o inchaço diminua. O Hospital da Restauração afirmou, nesta segunda-feira, que ele foi liberado pelos médicos do hospital, mas seguem no local para observação.

“Lateja muito e está muito inchado. É como se a dor fosse para o cérebro. Dói muito, muito mesmo. Eu estava voltando do trabalho, liguei para minha esposa para dizer que ia demorar, por causa do protesto. Eu cheguei a falar com os policiais, falei que sou pai de família, cristão, e que não estava no protesto. Tinha até um saco de carne moída na minha bicicleta. Quando olhei para frente, um policial saiu de trás do outro e atirou”, disse.

A Fundação Altino Ventura afirmou, ainda, que desde o primeiro dia em que foi atendido, Jonas já tinha um “comprometimento importante da visão” e novos exames foram feitos nesta segunda-feira. O paciente deverá retornar ao local na quarta-feira (2).

Até o momento, “nenhuma cirurgia foi indicada para o caso, mas a conduta pode mudar a partir da evolução do paciente e dos resultados dos novos exames”, disse a nota enviada pela fundação. A outra vítima, Daniel Campelo, não autorizou a divulgação de boletins de saúde pela fundação.

PMs atiraram balas de borracha e gás lacrimogêneo contra participantes de protesto contra Bolsonaro no Recife — Foto: Agência JCMazella/Sintepe/Divulgação

Sentindo muitas dores, Jonas Correia de França afirmou que, até o momento, não foi procurado diretamente por nenhum membro do governo estadual, a quem a Polícia Militar é subordinada. A esposa dele, Daniela Barreto de Oliveira, participou de uma reunião com o secretário de Justiça e Direitos Humanos de Pernambuco, Pedro Eurico, nesta segunda (31).

“Ninguém se pronunciou nem para dizer ‘eu estou aqui, você tem minha solidariedade’. Mesmo que seja mentira. Eu quero que eles [os policiais] percam a farda, porque policial é para proteger cidadão, não para espancar. Hoje, meus dois filhos estão com saudade. Minha filha, que dormia comigo, está sem comer direito. Minha esposa só vive chorando. E agora, como vai ficar? Já chorei muito, só Deus sabe”, declarou Jonas.

Polícia truculenta

A ação da PM durante o protesto no sábado (29) foi alvo de diversas críticas e repúdio por parte de políticos, partidos e diversas instituições. Os manifestantes relataram uma resposta desproporcional da corporação, que interveio no ato com balas de borracha, spray de pimenta e bombas de gás lacrimogêneo (veja vídeo acima).

A vereadora do Recife Liana Cirne (PT) foi agredida com spray de pimenta por policiais militares. O comandante da operação e quatro policiais militares envolvidos na agressão à vereadora foram afastados, segundo o governo estadual.

O cantor Afroito foi arrastado e detido por policiais militares durante o protesto, sendo liberado após pagar fiança de R$ 350.

O advogado Roberto Rocha Leandro, que é presidente da Comissão de Direito Parlamentar da Ordem dos Advogados do Brasil em Pernambuco (OAB), foi agredido com duas balas de borracha na perna e duas nas costas disparadas pelos policiais militares.

Ainda no sábado (29), a vice-governadora de Pernambuco, Luciana Santos (PCdoB), afirmou que a dispersão do protesto não foi autorizada pelo governo do estado.

Na manhã desta segunda (31), o secretário Pedro Eurico repetiu que a ordem não partiu do governo, mas disse que não há uma Polícia Militar paralela em Pernambuco.

Foto: Hugo Muniz

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