Por Poder 360
Em 84 dias Luiz Inácio Lula da Silva perdeu a preferência do eleitor. O intervalo separa pesquisas do PoderData.
Em 17 de março o ex-presidente tinha 34% das intenções de voto no 1º turno. O presidente Jair Bolsonaro tinha 30%. Com margem de erro de 1,8 ponto percentual, Lula estava à frente.
Na pesquisa de 9 de junho, Bolsonaro tinha 33% no 1º turno e Lula, 31%. A margem de erro nesse caso é de 2 pontos percentuais, portanto os 2 estão tecnicamente empatados. Nos 2 levantamentos intermediários houve redução da margem favorável a Lula. Isso mostra uma tendência de consistente e progressiva de corrosão de Lula e de crescimento de Bolsonaro na hipótese mais provável por ora: de que os 2 serão candidatos.
No 2º turno, o petista estava na frente, com 48%. Bolsonaro tinha 35%. Em 14 de abril, Lula tinha 52% e Bolsonaro, 34%. A diferença caiu 7 pontos percentuais.
Faltam 16 meses para o 1º turno da eleição. Muita coisa mudará até lá. É possível que Lula volte a ter maior vantagem sobre Bolsonaro. Ou o contrário.
O desempenho do petista na 1ª pesquisa tem sido atribuída ao impacto da novidade. O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Edson Fachin decidiu em 8 de março anular as sentenças contra o ex-presidente na 1ª instância da Justiça Federal de Curitiba. Com isso, Lula tornou-se possível candidato em 2022. Mas nesses quase 3 meses isso se tornou algo dado, como as nuvens do céu.
Um nome tão conhecido como Lula tornar-se elegível de um dia para outro é algo que não pode ser desprezado. Tampouco é um fator que pode dar conta de explicar completamente a escolha do eleitor a favor ou contra o petista. Como já se argumentou aqui, algo que conta muito ao se optar por um candidato a presidente é o desempenho da economia.
Bolsonaro e Lula poderão mostrar em 2022 o que fizeram para melhorar o emprego e a renda em seus respectivos governos. Mas o que interessa mesmo às pessoas é quem lhes proporcionará maior prosperidade de 2023 a 2026. O passado importa como sinalização do que poderá ser o futuro.
FAIXAS DE RENDA
Na pesquisa de 17 de março, Lula tinha vantagem sobre Bolsonaro em 3 faixas de rendimentos. Eram 15 pontos a mais entre as pessoas sem renda fixa, 8 pontos nas que recebem até 2 salários mínimos (R$ 2.200) e 25 pontos nas que recebem de 2 a 5 salários mínimos (R$ 2.200 a R$ 5.500). Bolsonaro estava à frente nas faixas de 5 a 10 salários (R$ 5.500 a R$ 11.000), com 25 pontos, e na acima disso, com 16 pontos.
Na pesquisa de 9 de junho, Lula lidera só entre as pessoas que não têm renda fixa, mas com margem bem inferior à de antes: 9 pontos. Na faixa até 2 salários, Bolsonaro passou a liderar com 14 pontos. Na de 2 a 5, tem 5 pontos de vantagem. Na de 5 a 10, tem 8 pontos de vantagem. Na acima de 10, o presidente tem quase o mesmo de antes: 15 pontos.
Note-se aqui a corrosão de Bolsonaro em uma faixa: a de 5 a 10 salários mínimos. Ele tinha 25 pontos de vantagem e passou a ter 8. É possível que essas pessoas se sintam mais vulneráveis à alta da inflação e à dificuldade de criação de vagas formais de trabalho, sobretudo com maior remuneração.
Mas em outras faixas de menor renda a satisfação com o governo parece estar crescendo. É isso o que sugere a preferência que Bolsonaro passou a ter sobre Lula. Também é consistente com a recuperação em vários itens do mercado de trabalho observada pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) sobre números do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
As vagas dos que trabalham por conta própria, sem carteira assinada, já superavam em março (dado mais recente disponível) o nível de março de 2020, pré-pandemia. A renda estava ligeiramente superior, em valor corrigido pela inflação. A economia segue crescendo, o que sugere que a avaliação do governo se tornará progressivamente mais favorável.
Os itens desfavoráveis ao governo e a Bolsonaro já mencionados acima são a alta da inflação e a demora de recuperação do emprego formal. A isso pode se somar a percepção de alguns eleitores de que o presidente age mal para reduzir o número de casos de covid e os danos que a doença causa na economia. Não são todos que pensam assim. Tendem a ser ainda em menor número os que acham que o comportamento equivocado atual possa comprometer o futuro do país.
Os petistas e outros adversários de Bolsonaro parecem contar com o fato de que os erros do presidente e do governo são evidentes. Talvez lhes seja útil avaliar o quadro de forma um pouco mais sofisticada.
Foto: Sérgio Lima/PODER 360