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Ex-cunhada de Bolsonaro deixa mal o presidente no caso das “rachadinhas” Comentário da Tarde - Por Carlos Lindenberg

5 de julho de 2021, 17h30 | Por Carlos Lindenberg

by Carlos Lindenberg

Ex-cunhada costuma ser, em alguns momentos, como ex-sogra – com o devido pedido de desculpas às sogras de um modo geral. É o que parece ser o caso da ex-cunhada do presidente Jair Bolsonaro, Andréa Valle, que acusa em entrevista ao site UOL o então deputado Bolsonaro de ter demitido o irmão dela do gabinete do hoje presidente porque ele não devolvia para o então deputado Jair Bolsonaro parte do dinheiro que ganhava como funcionário de seu gabinete e que por isso foi demitido.

É uma acusação, que necessita de provas, claro, mas que envolve diretamente o presidente da República no esquema das “rachadinhas”, de que também o filho dele, hoje senador Flávio Bolsonaro, quando foi deputado estadual no Rio de Janeiro era também praticante, no que parece que é um mal que passa de pai para filho. Ou, como queiram, tal pai tal filho. Uma sequência de áudios atribuídos a Andrea Siqueira Valle, ex-cunhada de Jair Bolsonaro, e divulgados pelo UOL, nesta segunda-feira, dia 5, podem mostrar que o presidente Jair Bolsonaro teria se envolvido diretamente no esquema das “rachadinhas”, uma prática ilegal pela qual o parlamentar retoma parte do salário pago ao funcionário do seu gabinete.

Na gravação, Andréa Valle, cuja irmã foi casada com Bolsonaro e que é mãe do último filho do presidente, Renan, o rotulado 04, diz que seu irmão, André Siqueira Valle, não devolvida para o então deputado Bolsonaro a metade do salário, algo em torno de R$ 12 mil, que recebia como funcionário do gabinete, uma mamata que Bolsonaro resolveu acabar porque ele nunca dava o que deveria dar ao deputado. “André deu muito problema porque ele nunca devolveu o dinheiro certo que tinha de ser devolvido. Tinha que devolver R$ 6 mil, ele devolvia R$ 2 mil, R$ 3 mil. Foi um tempão assim, até que o Jair pegou e falou: “Chega, pode tirar ele porque nunca me devolve o dinheiro certo”, diz Andréa. Andréa e André são irmãos de Ana Cristina, que foi mulher de Jair Bolsonaro e é mãe de Renan, Jair Renan Bolsonaro, o filho O4 do presidente. E continuou Andréia: não é pouca coisa que eu sei, não. É muita coisa que eu posso ferrar a vida do Flávio, posso ferrar a vida do Jair, posso ferrar a vida de Ana Cristina”.

O senador Renan Calheiros, relator da CPI da pandemia, que foi indiciado pela Polícia Federal na semana passada sob a acusação de ter obtido ilicitamente um milhão de reais da Odebrecht, numa delação de diretores da construtora, pensa em propor a convocação de Andréa para depor na Comissão Parlamentar de Inquérito do Senado federal. Se isso acontecer, o que dificilmente ocorrerá, a CPI desvenda de vez essa história da “rachadinha” que envolve pai e filho, que, no caso de Flávio Bolsonaro, tinha como operador o já conhecido Fabrício Queiroz, ambos denunciados pelo Ministério Público do Rio de Janeiro. O senador Flávio Bolsonaro refuta a acusação da cunhada de seu pai com o argumento de que “gravações clandestinas, feitas sem autorização da justiça e nas quais é impossível identificar os interlocutores não é um expediente compatível com democracias saudáveis”. O Palácio do Planalto diz que não teve acesso a íntegra das gravações e que por isso não poderia se manifestar. De qualquer forma, a acusação por si mesma é da maior gravidade, não tanto no caso de Flavio Bolsonaro, cuja história é conhecida, mas ao envolver o presidente da República no episódio das “rachadinhas” o tema cresce e pode se transformar num novo escândalo, até então circunscrito ao caso da Covaxin, a vacina indiana em que um cabo da PM mineira acusa um ex-servidor do ministério da Saúde de pedir um dólar a mais por cada dose de vacina, num total de 400 milhões de doses. É oportuno salientar que a acusação da ex-cunhada de Bolsonaro não tem data de quando as “rachadinhas” foram pagas pelo atual presidente da República na época em que ele era deputado e que as acusações precisam ser acompanhadas de provas.

Foto: EVARISTO SA AFP

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