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Zema afronta deputados e obriga seu líder a pedir desculpas aos seus pares mesmo depois de liberados recursos dentro do acordo da Vale Comentário da Tarde - Por Carlos Lindenberg

7 de julho de 2021, 16h50 | Por Carlos Lindenberg

by Carlos Lindenberg

Moço de fino trato, educado, que costuma tratar a todos com delicadeza, é no mínimo estranho o comportamento do governador Romeu Zema na discussão com a Assembleia Legislativa no chamado acordo da Vale, uma bolada inicialmente de 54 bilhões de reais, que caiu para 33 bi, mas que na verdade ainda vai sobrar para o caixa do Estado nada menos de 11 bilhões de reais, mesmo que 1,5 bilhões sejam destinados aos municípios, de acordo com a aprovação há dois dias pelo legislativo, num amplo entendimento com o executivo e com a concordância do Ministério Público, da Defensoria Pública e do Tribunal de Justiça.

O que espanta é a relação de Zema com o Legislativo, já que com o Ministério Público e com o Tribunal de Justiça ele não mexe. Tudo começa com o acordo da Vale, uma espécie de tábua de salvação de Zema, sempre aturdido com os problemas financeiros do Estado, já que com 10 bilhões – que é o que vai sobrar para o Executivo – ele pode enriquecer a sua campanha eleitoral, de forma que, desde então, o governador vem trombando com a Assembleia que, de sua parte, não concorda com a forma como o dinheiro será aplicado, sobretudo no que diz respeito aos que foram atingidos direta ou indiretamente com a tragédia de Brumadinho, onde morreram quase 300 pessoas, e milhares ao longo do Rio Paraopeba ficaram prejudicadas. Vêm daí as desavenças de Zema com os deputados estaduais. Mas nas últimas semanas a guerra do governador com o Legislativo piorou com o desencadeamento de uma campanha de baixo nível contra o presidente da Assembleia Legislativa, Agostinho Patrus, em que se usam painéis ao longo das estradas mineiras e panfletos de ataques ao deputado no que já se apurou tratar-se de um grupo bolsonarista que, ao que parece, ainda não se descolou do governador Romeu Zema, no pressuposto de que vai poder contar com o apoio do governador de Minas novamente nas eleições de 2022 – assim como foi em 2018 – ainda que Zema tenha até feito algumas críticas ao presidente da República ultimamente por conta de sua má conduta no combate à pandemia.

Os ataques do governador aos deputados mineiros chegou a tal ponto, nesta quarta-feira, depois de acordado o repasse de 1,5 bilhões aos municípios, que o seu líder na Assembleia Legislativa, Gustavo Valadares, que sabe o peso da casa na sua contenda com o Executivo, teve que ocupar a tribuna para pedir desculpas aos seus pares pelos termos grosseiros usados por Romeu Zema – quem diria … – no tratamento dado aos deputados estaduais. Para Zema, os parlamentares mineiros não “tiram a bunda da cadeira”, o que, convenhamos não é uma prática de boa educação política. Mas Zema é uma pessoa educada, polida, de fino trato!

De forma que o mundo político está estupefato com o comportamento do governador de Minas, até porque os painéis nas estradas de Minas e os panfletos distribuídos a rodo, ainda que não se possa dizer que sejam obra do governo do Estado, de alguma forma parece destinados a desgastar a imagem do presidente da Assembleia, cujo nome vem sendo ventilado como um possível vice do prefeito Alexandre Kalil na sua caminhada rumo ao Palácio da Liberdade, ainda o símbolo do poder político em Minas Gerais. Por uma razão ou outra, não se justifica a forma como o governador de Minas perca por algum momento a liturgia do cargo para enveredar por caminhos nunca antes pisados pelos que o antecederam – mesmo com a campanha, por exemplo, que os militares usaram contra Tancredo Neves quando ele se dispôs a disputar o governo de Minas. Junta-se a esse caldo o ofício expedido pela Assembleia Legislativa ao secretário Mateus Simões, ex-vereador pelo Partido Novo e servidor da ALMG, alertando-o para o fato de que sua licença vence dia primeiro de janeiro de 2022 e que não poderá ser renovada, o que só faz ferver o caldeirão entre os dois Poderes. Enfim, é a política mineira entrando em efervescência, antes mesmo que a campanha comece. Mas nesse falado acordo da Vale, razão de toda essa desavença, está a posição da própria Vale, que não quer pagar o pleito de 1 milhão de reais por cada vida que se afogou na lama de Brumadinho e agora recorre à justiça – essa mesma justiça que fez parte do acordo – tentando reduzir esse montante para 165 mil reais por cada vida perdida. Ora, é de lembrar que o cálculo inicial dos prejuízos causados pelo rompimento de Brumadinho eram de 54 bilhões de reais, caindo para 33 bilhões no acordo feito com o Estado com a anuência do Ministério Público, Defensoria Pública e Tribunal de Justiça. Para a Vale, cada vida perdida em Brumadinho vale 165 mil reais. E só!

Foto: Divulgação / Imprensa MG / Pedro Gontijo

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