Menos de 12 horas depois de ser derrotado na Câmara dos Deputados, na PEC do voto impresso, o presidente Jair Bolsonaro desonrou a palavra dada a seu aliado Arthur Lira, e deu a senha para a continuidade pelo fim das urnas eletrônicas e pela volta ao século passado, além de mentir ao dizer que metade dos 513 deputados é a favor do voto impresso.
E como de hábito voltou a fazer críticas ao presidente do Tribunal Superior do Trabalho, ministro Roberto Barroso, a quem acusa de chantagear os deputados. E deu a senha para a continuidade da campanha pelo voto impresso ao afirmar, sem qualquer elemento de convicção, que “em números redondos, 450 deputados votaram, e foi dividido. 229 e 218, dividido. Então é sinal de que metade não acredita 100% na lisura dos trabalhos do TSE”.
De onde Bolsonaro tirou essa conta? E como é que ele é capaz de dizer que 64 deputados não votaram – inclusive o filho dele que estava nos Estados Unidos bajulando Donald Trump? – de forma que o presidente mente, acusa sem ter provas do que diz e esquece que ele mesmo, assim como os 513 deputados, foram todos eleitos pelo voto eletrônico e ninguém contesta a legitimidade de suas eleições, de forma que só há uma maneira de explicar esse medo de Bolsonaro para as eleições de 2022: ele sabe que vai perder e tenta desde já melar o jogo, para usar uma expressão popular, antes de o jogo começar, exatamente para criar um problema, caso vença um adversário dele.
E o pior é que a senha já foi comprada pelos bolsonaristas. Já agora de manhã, o deputado Felipe Barros (PSL-PR), relator do voto impresso derrotado no plenário dizia: “o povo vai insistir”, lembrando que o número de votos favoráveis (229) ter sido maior que os contrários (218) dá sobrevida ao tema, mesmo que os bolsonaristas não tenham conseguido os 308 votos necessários para a aprovação da PEC e mesmo não levando em conta que 64 deputados deixaram de votar por convicção ou oportunismo. Mas para o presidente da Câmara, Arthur Lira, este é um assunto morto. Como se vê, no entanto, Bolsonaro vai insistir na necessidade do voto impresso, com mentiras, sofismas ou o que seja para emplacar o seu sonho de consumo ou evitar a derrota em 2022, já que o país nem os deputados se intimidaram com a ameaça do ministro da Defesa, general Braga Neto, de que “sem voto impresso não haverá eleição em 2022”.
A decisão da Câmara ontem me fez lembrar o então líder do governo Geisel, José Bonifácio, na Câmara quando alguém o aparteou da tribuna sobre um assunto qualquer que lhe desagradou. Com a velha malandragem da política municipal aprendida em Barbacena (ontem um neto dele, Lafayette Andrada, votou com o governo) não fez por menos: da tribuna mesmo deu uma banana para o autor do aparte. Ontem a Câmara deu uma banana para Bolsonaro.
Foto: Cleia Viana/Câmara dos Deputados