Por G1
A Represa de Furnas, que a abastece a hidrelétrica de mesmo nome em São José da Barra (MG), está atualmente com o menor volume útil registrado dos últimos 20 anos para um mês de agosto. Conforme dados do Operador Nacional do Sistema (ONS), o volume útil atual da represa é de 18,31%.
Esse volume só não é menor do que foi registrado em agosto de 2001, quando o Brasil passou por um racionamento de energia que atrapalhou a retomada da economia. Naquele ano, durante o mês de agosto, o volume útil da represa chegou a 13,72%, caiu para 12,98% em setembro e só passou a subir a partir de outubro com o início das chuvas, atingindo 28,03% em dezembro.
Nesta semana, o Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), órgão presidido pelo Ministério de Minas e Energia, afirmou que há uma “relevante piora” das condições hídricas no país. Segundo o comitê, é imprescindível manter todas as medidas em andamento e adotar novas providências para manter os reservatórios das hidrelétricas.
Volume útil do Lago de Furnas durante os meses de agosto dos últimos 20 anos
E a situação ainda pode piorar, já que no ano passado, nesta mesma época, a Represa de Furnas estava com um volume útil de 49,27%, ou seja, quase a metade de sua capacidade abastecida. Em seu pior momento, em novembro de 2020, o volume útil de Furnas chegou a ficar em 16,49%, número que já é bem próximo do que está atualmente.
O G1 entrou em contato com o ONS e Furnas Centrais Elétricas para saber a respeito dos efeitos do baixo volume para a geração de energia elétrica, mas até a publicação desta reportagem, ainda não havia recebido retorno.
Níveis piores em 2014 e 2017, mas com agosto melhor
Apesar do atual momento de crise hídrica, a Represa de Furnas já registrou outros níveis piores nas últimas duas décadas, mas nenhum deles com um nível tão baixo durante o mês de agosto.
Conforme os dados do ONS, em novembro de 2017, a Represa de Furnas chegou a ter apenas 9,67% de seu volume útil, um nível menor ainda do que registrado no ano do racionamento, em 2001. Mas em agosto daquele ano, o volume útil da represa era de 27,36%.
Algo parecido aconteceu em 2015. Em janeiro daquele ano, o volume útil de Furnas chegou a cair para 9,83%, após fechar dezembro de 2014 com um nível de 13,21%. Em agosto do 2014, o volume útil da represa era de 27,58%.
Abaixo de cota mínima prevista em tombamento
A questão do baixo nível da Represa de Furnas não envolve só a preocupação com a geração de energia elétrica, mas também o uso da água do reservatório para a exploração do turismo e outras atividades econômicas.
Em dezembro de 2020, a Assembleia Legislativa de Minas Gerais aprovou a Proposta de Emenda à Constituição, que instituiu o tombamento dos lagos de Furnas e de Peixotos, que abastece a Hidrelétrica Mascarenhas de Moraes, como patrimônios imateriais do estado.
O objetivo é que as cotas mínimas do nível das águas sejam estabelecidas e respeitadas, sendo 762 metros para Furnas e 663 metros para a Represa Mascarenhas, mais conhecida como Lago do Peixoto.
Com o atual volume útil, Furnas está hoje com uma cota de 755 metros acima do nível do mar, sete metros abaixo do que é considerado aceitável para a exploração do turismo e outras atividades.
Em junho deste ano, o G1 mostrou que a baixa do lago fez o reservatório virar praticamente um pasto na maioria das cidades da região. Na época, o volume útil do lago era de 37%, mais do que o dobro do nível atual.
O Sistema Nacional de Meteorologia emitiu alerta na época prevendo que as chuvas deveriam ficar na média ou abaixo dela até novembro e sem previsão de conseguir manter o nível dos reservatórios do país.
Caixa d´água do Brasil
Considerada a maior caixa d’água do Brasil, o lago artificial de Furnas foi criado na década de 1950 para abastecer a Usina Hidrelétrica de Furnas, até hoje uma das mais importantes para a geração de energia elétrica do país.
Na época, várias cidades do Sul de Minas foram inundadas e a população precisou ser deslocada. Até hoje, quando a água baixa, é possível reviver o passado e ver ruínas de construções antigas que foram cobertas pela água.
Foto: Tarciso Silva / EPTV