Por O Globo
O recuo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) após insuflar a militância com falas antidemocráticas durante os atos de 7 de Setembro surpreendeu integrantes do primeiro escalão do governo e desagradou apoiadores. Carla Zambelli (PSL-SP), parlamentar bolsonarista, comparou a carta de Jair Bolsonaro à saída de Moro e declarou que ficou “um pouco frustrada” com a divulgação do recuo. Otoni de Paula, deputado da base do governo, declarou que o presidente “ficou pequeno”.
Assista:
Lembram do Dep. Otoni de Paula que ficou a madrugada toda fazendo lavagem cerebral nos caminhoneiros pedindo pra confiarem no Presidente? Olha o que ele falou hoje.
Bibibibi mitoooo @jairbolsonaro.#BolsonaroArregou pic.twitter.com/lclL8QtYZ4
— Priscilla (@priscilllando) September 10, 2021
Boa parte do governo, incluindo o primeiro escalão, só soube da declaração do presidente no momento da divulgação. Integrantes criticaram o modo como o texto foi elaborado e apontaram falta de personalidade de Bolsonaro.
Um dos principais aliados, o pastor Silas Malafaia, que não só orienta o presidente, mas tem viajado com ele país afora, mostrou sua decepção nas redes sociais, mas evitou romper ou criticar o presidente. Preferiu desferir ataques a Alexandre de Moraes.
“Continuo aliado, mas não alienado. Bolsonaro pode colocar a nota que quiser. Alexandre de Moraes continua a ser um ditador da toga que resgou a Constituição e prendeu gente inocente. Minhas convicções são inegociáveis” – postou Malafaia.
Outro apoiador ferrenho de Bolsonaro, o blogueiro Allan dos Santos, do site Terça Livre, foi irônico e também evitou ataques direto ao presidente. “A nota do Temer foi para mostrar que o povo não deve exercer seu poder diretamente. Não votei no Temer”.
Parlamentares mais próximos do Palácio do Planalto preferiram o silêncio e suas últimas postagens versam ainda sobre o 7 de Setembro, com ataques ao STF. Nem tocam na nota do presidente. Nem mesmo os três deputados que estiveram com o presidente na tarde desta quinta, mediando o problema da paralisação dos caminhoneiros, trataram do assunto nas suas redes.
Enquanto a base do governo está atônita, a oposição parece se divertir com a situação de Bolsonaro, não só pelo recuo demonstrado na carta à Nação, como o autor do texto ser Michel Temer. “Só pra lembrar. A última vez que Temer foi chamado pra ajudar presidente a beira do impeachment, deu ruim” – publicou o deputado Marcelo Ramos (PL-AM), vice-presidente da Câmara dos Deputados.
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