Por O Tempo
A CPI da Cemig aprovou nesta quinta-feira (9) um requerimento para que seja juntada aos autos da investigação a prestação de contas do governador Romeu Zema nas eleições de 2018. Os deputados identificaram que o empresário Evandro Veiga Negrão de Lima Jr. cedeu gratuitamente o uso de uma aeronave particular durante a campanha de 2018 para o governador Romeu Zema (Novo).
Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a doação do empresário ao governador foi estimada em R$ 32 mil.
Evandro Veiga passou a ser mencionado na CPI após os deputados terem acesso a um documento que demonstra que ele atuou na contratação da Exec, empresa headhunter que foi a responsável pelo processo de seleção que escolheu Reynaldo Passanezi Filho para a presidência da Cemig.
Apesar da participação de Evandro Veiga na contratação da Exec, ele não integra o governo Zema e nem é funcionário da Cemig. Atualmente, ele é secretário de Assuntos Institucionais do diretório do partido Novo em Minas Gerais.
Em contato com a reportagem, Evandro Veiga disse que prefere não se manifestar e que vai fazê-lo no fórum adequado quando solicitado. A CPI da Cemig já aprovou requerimento para convocá-lo na condição de testemunha, mas ainda não há uma data marcada para que o depoimento aconteça.
“Esse contrato foi feito por indicação do Evandro, que é dirigente do partido Novo. Nós precisamos investigar essa relação que se estabeleceu entre governo Zema, partido Novo e com a Cemig pagando a conta”, disse a deputada Beatriz Cerqueira (PT), uma das autoras do requerimento.
O portal G1 no final de agosto, os sócios da Exec, Rodrigo Foz Forte e Carlos Eduardo Altona, são filiados ao Novo. A empresa tem sede em São Paulo.
“A Exec participou da seleção de alguns secretários para o governador quando ele lançou essa ideia [em 2018]. A Exec foi contratada na Cemig para selecionar o presidente da empresa. Mas nós não sabemos quem participou dessa seleção. Todo mundo que a gente perguntou na CPI ninguém explica: quantos candidatos participaram, como foi o processo de seleção, se foi entrevista ou currículo. Ninguém sabe”, acrescentou a deputada.
A suspeita na CPI é que o partido Novo, ao interferir na contratação da Exec, também tenha direcionado a contratação do presidente da Cemig. “Tem um aparelhamento aí feito pelo partido Novo em uma grande empresa do Estado”, afirmou Beatriz Cerqueira.
Como mostrou O TEMPO no dia 24 de agosto, a Exec enviou uma proposta de prestação de serviços para seleção do presidente da Cemig no valor de R$ 170 mil para Evandro Veiga, e não para a Cemig. O documento é datado do dia 28 de novembro de 2019.
O Conselho de Administração da Cemig só aprovou a contratação da Exec em 20 de janeiro de 2020. Uma semana antes, no dia 13, Reynaldo Passanezi Filho tomou posse como presidente da Cemig. Ou seja, a Exec foi formalmente contratada após prestar o serviço, e não antes, como é a praxe no serviço público.
A contratação da Exec ocorreu por inexigibilidade de licitação. Isso acontece quando o serviço é muito especializado e não é possível haver concorrência. Apesar disso, segundo depoimento à CPI da superintendente de Auditoria Interna da Cemig, Débora Martins, a estatal mineira contratou ao menos outras três empresas que prestam o mesmo serviço de seleção de executivos
Além do contrato de R$ 170 mil para a seleção do presidente da Cemig, a Exec recebeu mais R$ 129 mil em um segundo contrato para fazer o processo seletivo para outros cargos da estatal mineira.
Presidente do Novo diz que não há ingerência do partido no governo
O presidente do Novo em Minas Gerais, Ronnye Antunes, disse que as informações disponíveis no TSE sobre as doações confirmam a transparência do Novo na prestação de suas contas eleitorais. Ele lembrou que o partido não se utiliza de recursos dos fundos partidário e eleitoral e que vive de doações dos filiados.
“E realmente todos os recursos de campanha e de gestão do partido virão de doações, seja em dinheiro ou empréstimo, como aconteceu neste caso. Se foi um ou dois voos, eu não me lembro. Eu lembro que foi praticamente um ou outro voo, mas tem que ser declarado”, disse o dirigente.
O presidente do Novo também disse que qualquer investigação vai demonstrar que não há nenhuma ingerência do partido no governo
“A relação do Novo com o governo pode ser investigada tranquilamente, não tem nada a esconder, principalmente porque existe dentro do estatuto do partido uma proibição de ingerência dos dirigentes do partido no governo, neste caso, o governador Romeu Zema. […] Nesse caso da Cemig não tem nada que a gente consiga enxergar que tenha participação do partido”, afirmou Antunes.
A Exec e o governo de Minas foram procurados por email, mas não responderam até a publicação desta reportagem. A Cemig preferiu não se posicionar.
Foto: Gil Leonardi / Imprensa MG