Home Política Hang financiou blogueiro acusado de fake news com ajuda de Eduardo Bolsonaro, apontam documentos

Hang financiou blogueiro acusado de fake news com ajuda de Eduardo Bolsonaro, apontam documentos TV Globo teve acesso aos documentos com conversas entre o filho do presidente e Allan dos Santos, investigado em 2 inquéritos no STF.

24 de setembro de 2021, 22h31 | Por Letícia Horsth

by Letícia Horsth

Documentos obtidos pela CPI da Pandemia revelaram como o blogueiro Allan dos Santos, acusado de disseminar fake news, conseguiu financiamento de um empresário bolsonarista, Luciano Hang. Para isso, ele teve ajuda do filho do presidente, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL).

A CPI apurou que políticos, empresários e sites usaram a rede de disseminação de fake news — conhecida como “gabinete do ódio”. Para a CPI, a estrutura começou antes da Covid, mas ganhou força na distribuição de informações falsas sobre a pandemia.

A TV Globo teve acesso a documentos da CPI. A comissão afirma que um filho do presidente, Eduardo Bolsonaro, trabalhou para conseguir financiadores para o grupo.

Um deles, uma troca de mensagens entre Eduardo Bolsonaro e o blogueiro Allan dos Santos de janeiro de 2019.

Allan dos Santos é investigado em dois inquéritos no Supremo Tribunal Federal que apuram disseminação de fake news, ameaças a autoridades e financiamento de atos antidemocráticos.

De acordo com a Polícia Federal, nas mensagens, Allan pede que Eduardo Bolsonaro o ponha em contato com o empresário Luciano Hang.

Allan escreve: “Preciso que você me coloque em contato com o Luciano Hang”.

Eduardo Bolsonaro envia o número do telefone e pergunta: “Quer que eu fale algo a ele para te introduzir?”.

Allan responde: “É melhor”.

Uma hora e meia depois, Eduardo diz: “Mandei mensagem para o Hang; Assim que ele me responder te passo”.

Allan concorda.

Mais tarde Eduardo responde: “Ele disse que você pode entrar em contato com ele. Falei que você é o nosso cara da imprensa para um projeto que desenvolvemos aqui nesta semana de aulas com o Olavo”.

Olavo é Olavo de Carvalho, astrólogo e ideólogo do bolsonarismo.

No dia seguinte, Allan diz a Eduardo: “Sobre o Hang, quando ele voltar da Europa, falarei com ele”.

Eduardo responde: “Beleza. Falei no macro com o Hang”.

Quatro meses depois, Allan dos Santos escreve: “Luciano Hang tá dentro. Patrocínio para o programa”.

A CPI também teve acesso a uma conversa entre o blogueiro Allan dos Santos e o empresário Luciano Hang.

Depois de procurado por Allan, Luciano Hang responde: “Eduardo Bolsonaro me falou que conversou contigo”.

Luciano Hang foi convocado pela CPI da Pandemia. O depoimento dele está previsto para a próxima quarta-feira (29). Para a CPI, Allan dos Santos é um dos principais disseminadores de fake news sobre a pandemia.

“O que nós concluímos e identificamos na Comissão Parlamentar de Inquérito é a existência de uma verdadeira organização criminosa de fake news que teve papel determinante no agravamento da pandemia. Veja, essa organização criminosa começa a se articular e se constituir a partir de 2019, e, na pandemia, para reforçar o discurso negacionista do presidente da República e do seu governo”, disse o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), vice-preisdente da CPI.

A CPI investiga também Bernardo Kuster, apontado como mais um disseminador de informações falsas.

Os senadores recolheram mais de cem postagens dele com mentiras sobre a pandemia.

Documentos obtidos pela comissão mostram que, no dia 2 de abril do ano passado, Bernardo articulou ataques ao governador de São Paulo, João Dória.

Nesse dia, Dória anunciou novas medidas de combate ao vírus. E trocou postagens com o ex-presidente Lula sobre deixar as diferenças de lado durante a pandemia.

No grupo “Direita Unida”, Bernardo manda uma mensagem:

“Recebi ordens do GDO pra levantar forte a tag #doriapiorquelula. Bora lá no Twitter. Tá subindo a tag em quarto lugar”.

GDO é a sigla usada para o gabinete do ódio.

A PF afirma que os suspeitos de fazerem parte do gabinete passaram a usar a expressão para se referir ao grupo antes mesmo da pandemia.

Em outro documento em poder da CPI, o assessor especial da presidência, Filipe Martins, também menciona o gabinete do ódio. Ele se refere a um outro assessor, Tércio Arnauld, como membro original do gabinete.

“Tudo que aconteceu foi consequência da participação dessa figura macabra amoral que é esse gabinete do ódio, que não tem outro objetivo senão o objetivo de disseminar mentiras, de atacar alvos previamente selecionados e de participar dessa forma desinformando em todos os episódios marcantes na vida nacional”, disse Renan Calheiros (MDB-AL), relator da CPI.

O que dizem os citados
Luciano Hang afirmou que as afirmações são uma “narrativa absurda”, que não faz parte de gabinete nenhum e que é mentira que ele tenha patrocinado veículos de internet que disseminaram desinformação.

O Jornal Nacional não conseguiu contato com Eduardo Bolsonaro, Allan dos Santos, Bernardo Kuster, Filipe Martins e Tércio Arnaud.

Fonte/Créditos: G1/TV Globo.
Foto: DIDA SAMPAIO/ESTADÃO CONTEÚDO

LEIA TAMBÉM

Envie seu comentário