Kalil versus Zema
Quem esteve com o prefeito Alexandre Kalil nos últimos dias pode até duvidar que ele venha disputar o governo do Estado num confronto direto com o governador Romeu Zema. Quando perguntado, o prefeito diz que sua preocupação neste momento, em que as chuvas se aproximam, é com a cidade e com os cidadãos que moram na periferia da cidade. Demagogia? Pode até ser, se a frase for lida pelos seus adversários. Mas pode também não ser, se a conversa for séria, como Kalil deixa sempre essa impressão no seu interlocutor.
Mas se tem uma coisa que o prefeito não parece temer é essa oposição que lhe faz a Câmara Municipal. Primeiro porque já entendeu que é um jogo político de baixo nível e que não tem nada a temer, até porque já identificou de onde partem os ataques, ora do seu oponente Romeu Zema ora do representante de Zema em Brasília, o deputado federal Marcelo Aro. E acha que, a não ser pelas acusações que são feitas a seu secretário de governo, Adalcléver Lopes, que aliás ontem foi ouvido pela comissão de ética da prefeitura, considera que tudo isso faz parte dos bastidores da campanha nessa fase pré-eleitoral. Essa avaliação de Kalil faz lembrar um pouco aquela história do ex-governador Hélio Garcia quando se referia à barulheira típica dessa época pré-campanha. Dizia Garcia, naquele seu sotaque próprio do Sul de Minas, que esse período se assemelha muito ao embarque de um caminhão de porcos levados ao matadouro: gritam, esperneiam, mordem uns aos outros, mas logo que o caminhão começa a andar, os briguentos se acomodam e dormem uns sobre os outros num sono profundo. Hélio Garcia comparava o período pré-eleitoral à viagem de um caminhão de porcos, assunto que ele bem conhecia porque seu pai, o coronel Juca Garcia, era criador de suínos. Ele contava isso e dava gargalhadas – Hélio sabia das coisas!
Kalil não tem essas sutilezas. Com ele, calcado num carisma que poucos têm e num palavreado franco e às vezes até direto demais, o prefeito Alexandre Kalil não usa de meias palavras para dizer, por exemplo, que vai receber os 21 vereadores que o acusam de crime de responsabilidade – um a um e com uma câmera em “on” para que ninguém saia de lá depois da audiência com uma versão diferente da sua. Assunto que faz lembrar, para quem conhece fatos pitorescos da política mineira, o encontro que o ex-embaixador José Aparecido de Oliveira teve com o então governador Hélio Garcia: como se tivessem combinado, assim como Kalil agora, cada um levou ao encontro no Palácio das Mangabeiras pelo menos duas testemunhas para que a versão de lá saída não conflitasse com o que lá foi tratado -sutilezas da política mineira. Kalil, ao contrário de Garcia, é direto e já quer gravar o encontro com os vereadores para que também não saiam de lá chances de versões diferentes, quando não conflitantes.
(Continue acompanhando aqui novos episódios dessa disputa Kalil versus Zema e Kalil versus Câmara de Vereadores – isso ainda vai render muita coisa daqui até outubro de 2022)
Foto: Divulgação