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Com a Amazônia em chamas o mundo pressiona o Brasil para conter a devastação

23 de agosto de 2019, 17h50 | Por Carlos Lindenberg

by Carlos Lindenberg

O que poderia ser apenas uma questão pontual acabou se transformando ontem numa possível crise internacional por inabilidade política ou diplomática, como queiram, do presidente Jair Bolsonaro que vem conduzindo mal essa questão da derrubada ou queimada da Floresta Amazônica.

Ontem, depois de o presidente francês Emmanuel Macron dizer que as queimadas na Amazônia deveriam ser discutidas pelo G7, isto é, pelos sete países mais ricos do mundo, que se reunirão neste final de semana na cidade francesa de Biarritz, o presidente Bolsonaro chamou o seu colega francês de idiota e o criticou por ver na atitude de Macron uma mentalidade colonialista, na busca de ganhos políticos pessoais, tendo usado fotos do passado como se fossem atuais – fotos aliás de um antigo fotografo francês já falecido. Essas fotos na verdade são até menos dramáticas do que as divulgadas nos últimos dias pela NASA, cujos satélites vigiam o mundo inteiro 24 horas por dia.

O fato é que Bolsonaro tem tido uma postura complacente com o que acontece na Amazônia. Primeiro, demitiu o diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, o órgão que monitora a floresta amazônica, como outros biomas, de maneira truculenta – como aliás vem fazendo com a Polícia Federal, com o COAF com os auditores fiscais e com a Receita Federal – depois tentou minimizar o assassinato de um chefe índio Uaimiri, cuja polícia está fazendo um segundo laudo porque o primeiro foi colocado em dúvida, em seguida, sem ter qualquer prova, resolveu culpar organizações não governamentais como se eles estivessem botando fogo na floresta e ontem à noite culpou os fazendeiros de estarem eles, possivelmente, derrubando e queimando a Amazônia.

Ou seja, o presidente brasileiro vem cometendo uma série de erros sobre essa questão da Floresta Amazônica, desde tentar abrir as terras indígenas para a exploração mineral até a erupção dos incêndios que na semana passada escureceram o céu de São Paulo e de outras cidades do sul do país. Ao invés de ir às causas da questão, ou seja, mandar apagar o incêndio, literalmente, o presidente fez pouco caso da floresta que, segundo Macron, produz 20 por cento do oxigênio que se respira no planeta, e ligou o ventilador sobre o fogo a ponto de chamar a atenção do secretário-geral da ONU, o português Antônio Guterres, além de artistas que há dois dias vem enchendo as redes sociais de denúncias como nunca se viu.

Não bastasse o dano à imagem do Brasil no exterior, a política do presidente Bolsonaro com relação à Amazônia pode criar barreiras econômicas para o país na sua política de exportação. E aí não adianta culpar a ambição estrangeira ou a competição internacional sobre o que o Brasil produz e exporta. Os erros são do governo que não soube lidar com a crise em que se transformou o incêndio florestal – uma coisa, como disse, que poderia ser pontual importância relativa – não tivesse o governo brasileiro desconsiderado, desde as primeiras denúncias do Instituto de Pesquisas Espaciais, que a devastação na Amazônia estava aumentando até essa bobagem de que seriam as “ongs” que estariam por trás dos incêndios florestais ou quem sabe os fazendeiros. Resultado: acuado pela opinião pública internacional e agora por governos – com os quais, aliás, Bolsonaro vem batendo boca e perdendo dinheiro, como o caso da Noruega e da Alemanha e agora a França – o governo convocou ontem uma espécie de gabinete da crise para enfrentar o que ameaça transformar-se mesmo num problemão e com possíveis reflexos nas exportações do agronegócio e na assinatura do acordo com a União Europeia. Desde cedo já se sabe que com fogo não se brinca.

O problema é que não ensinaram essa lição ao hoje presidente da República. Daí a fogueira que arde a seus pés, somada a uma total indiferença à relação à questão ambiental. Não foi por acaso que ele dispensou o diretor do Instituto Espacial, Ricardo Galvão, um expert no monitoramento das queimadas, suspendeu todas as operações de combate à exploração de madeira na região, não fez nenhum controle de queimadas, quando se sabe que esta época, segundo o vice-presidente, general Hamilton Mourão, que serviu na região, é propícia a incêndios de origens variadas, colocou como ministro do Meio-Ambiente alguém que tem um passivo investigativo respeitável, incentivou a invasão de aldeias com a alegação de que os “índios devem usufruir das condições do progresso”, enfim, o que se vê na Amazônia hoje é o resultado de uma política equivocada, quando não propositadamente voltada para as queimadas, a extração de madeira, a invasão das terras indígenas e a exploração do garimpo. Ora, não é por acaso que o desmatamento na Amazônia subiu 15 por cento no acumulado de 12 meses – e nisso Michel Temer tem participação – tempo em que foram derrubados 5.054 Km2.
Só no período de janeiro a julho deste ano foram derrubados 3.348 Km2 de mata. E só no mês de julho último o desmatamento na Amazônia Legal foi 66 por cento maior do que em julho do ano passado. Claro, nunca se ouviu tanto o ronco das motosserras na Amazônia assim como nunca se queimou tanto na grande Floresta. Perguntem ao governo se, constatado o dano, há algum plano de recuperação do que foi devastado? Claro que não. Por que não é para ser reparado mesmo o que foi destruído.

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