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O que esperar da pandemia em 2022? Há chance de ela terminar este ano? O g1 ouviu opiniões de especialistas para tentar entender o que ainda pode vir pela frente. Fatores como novas variantes e baixas coberturas vacinais complicam o futuro com o coronavírus.

12 de janeiro de 2022, 11h29 | Por Redação ★ Blog do Lindenberg

by Redação ★ Blog do Lindenberg

Por G1

A pandemia da Covid-19 vai acabar em 2022? A resposta mais correta é “provavelmente não”, segundo as opiniões de ao menos dez especialistas reunidas pelo g1 sobre quais rumos a crise sanitária deve tomar.

Nem mesmo a Organização Mundial de Saúde (OMS) se arrisca a fazer qualquer previsão sobre o fim da pandemia do coronavírus.

Em um e-mail enviado ao g1, a agência de saúde das Nações Unidas listou o que torna tão difícil definir o futuro da doença no mundo.

“É um vírus desafiador – é novo, a população é completamente suscetível, transmite-se principalmente em pessoas com sintomas leves ou mesmo assintomáticos”, disse a OMS.

Veja os pontos críticos apontados pelos médicos e cientistas em relação ao desenvolvimento da pandemia, detalhados mais abaixo na reportagem:

  • Surgimento de novas variantes
  • Baixa cobertura vacinal (em alguns países)
  • Eventual necessidade de revacinação
  • O futuro da Covid como doença endêmica
  • Meta é controle do vírus

Para fazer o panorama dos rumos da pandemia o g1 reuniu as análises dos epidemiologistas Airton Stein, Ethel Maciel, Jarbas Barbosa, Maurício Barreto e William Moss, e dos infectologistas Alexandre Naime Barbosa, Eliana Bicudo, Helena Brígido, Jamal Suleiman e Renato Kfouri.

Jarbas Barbosa, vice-diretor da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), diz que ainda não é possível prever o fim da pandemia.

“Creio que a gente está longe ainda disso. É extremamente precoce ainda falarmos em fim da pandemia”, avalia Barbosa. “Nós ainda não temos uma definição. Como está longe, eu diria que seria um exercício teórico meio sem sentido, agora, estabelecer critério para fim da pandemia.”

Ele pondera que países como Nova Zelândia, Austrália, Japão, que tentaram declarar o fim da pandemia por estarem relativamente isolados do mundo ficaram meses sem ter nenhum caso de Covid-19, mas que depois – com a reabertura – tiveram surtos.

“A gente ainda tem um caminho longo a percorrer. Se surgir uma variante que exija uma revacinação dos já vacinados… quando você coloca tudo isso no cenário, nós estamos falando de vários meses à frente”, disse Barbosa.

O infectologista Jamal Suleiman, do Instituto Emílio Ribas, acredita que o controle real da pandemia deve acontecer apenas em 2023.

“Não acho que a gente resolve o problema em 2022”, afirma Suleiman. “Acho que vamos conseguir minimizar o impacto em 2022. Vamos sim ganhar mais conhecimento sobre a doença.”

Surgimento de novas variantes

Talvez a principal ameaça ao fim da pandemia seja o surgimento de novas variantes – versões mutadas do coronavírus que sejam resistentes às vacinas atuais ou que causem doença mais grave.

“Quando achamos que vai acabar, vem outra variante”, alerta o infectologista Renato Kfouri. “Acredito que esse começo de ano será ruim no Brasil, assim como vem acontecendo na maioria dos países, com recorde de casos. Teremos muito casos, mas o número de mortes não vai acompanhar.”

Ele cita o aumento nas infecções que vem acompanhando o surgimento da variante ômicron, que se tornou dominante em países do hemisfério norte menos de um mês após ter sido descoberta na África do Sul.

A ômicron já mostrou um potencial maior de escapar às vacinas atuais mas que, até agora, tem aparentemente causado quadros mais leves da Covid-19.

“É completamente seguro afirmar que outras variantes vão surgir principalmente em locais com baixo índice de vacinação onde se tem alta circulação do vírus”, afirma em entrevista ao g1 Alexandre Naime Barbosa, chefe do departamento de infectologia da Unesp.

Mesmo assim, há luz no fim do túnel. Para a infectologista Eliana Bicudo, da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), é possível que novas mutações tenham “menor patogenicidade”, ou seja, tenham menos capacidade de gerar doença, efeitos danosos às pessoas contaminadas.

“A gente espera, mas isso é só uma esperança, que as variantes tenham um perfil de menor patogenicidade, até mais que a ômicron, por exemplo, que transmite mais, mas parece um pouco menos patogênica”, afirmou Bicudo ao g1.

Já o pesquisador William Moss, da Escola de Saúde Pública da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, acredita que o coronavírus vai “esgotar” sua capacidade de sofrer novas mutações e escapar das vacinas.

“Não vejo isso como um ciclo interminável de novas variantes”, analisa Moss em entrevista à agência de notícias Associated Press.

Baixa cobertura vacinal (em alguns países)

Enquanto o Brasil se aproxima dos 70% de cobertura vacinal com duas doses – meta estabelecida pela OMS a ser cumprida por todos os países do mundo até o meio do ano –, 35 países, 29 deles na África, não haviam vacinado nem sequer 10% de sua população até o dia 9 de janeiro.

Vacinação contra Covid-19 no DF — Foto: Breno Esaki/Agência Saúde DF

Os dados são do “Our World in Data”, monitoramento ligado à Universidade de Oxford.

Ethel Maciel, epidemiologista e professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) afirma, em entrevista ao g1, que apenas com a aceleração e ampliação da cobertura vacinal em todos os países será possível controlar a pandemia.

“Dependemos que todos os países possam controlar a pandemia através de uma vacinação robusta, de cobertura vacinação grande”, defende a especialista.

A médica infectologista Helena Brígido, vice-presidente da Sociedade Paraense de Infectologia, também defende a ampliação no acesso à vacinação, além do respeito às medidas de higiene e distanciamento aplicadas desde o início da pandemia.

“O que importa, neste momento, no Brasil e no mundo, é a contribuição dos gestores no fornecimento de vacinas”, disse Brígido. “E ainda usar as outras estratégias de barreiras: uso de máscaras, não aglomerar e higienizar as mãos.”

“Esta pandemia apenas terminaria quando tivermos uma cobertura vacinal em torno de 80% em todo o mundo”, explicou Airton Stein, professor e epidemiologista na Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA).

Quanto maior for a circulação do vírus – devido à baixa cobertura vacinal –, maior a chance de que ele sofra uma mutação mais resistente às vacinas que temos hoje. E, por causa da migração entre os países, essas variantes podem se espalhar rapidamente para todo o mundo.

“Por isso, a questão de acesso universal à cobertura vacinal é essencial, principalmente por se tratar de uma transmissão respiratória. Com a fácil mobilidade de um local para o outro, tem um risco muito grande de ocorrer a transmissão de pessoas que não foram vacinadas, ao se deslocarem para outras regiões que possam estar com uma alta cobertura vacinal”, completou Stein.

Eventual necessidade de revacinação

Mesmo que um país tenha alta cobertura vacinal, isso não significa que ele está livre da Covid-19.

Idoso recebe vacina contra Covid em Roma, na Itália, em foto de 20 de abril — Foto: AP Photo/Andrew Medichini

No caso da ômicron, por exemplo, por causa da maior resistência que a variante tem às vacinas, vários países, como o Brasil, já começaram a aplicar a terceira – e, em alguns pacientes, a quarta – dose das vacinas.

Isso significa, é claro, mais demanda de vacinas. É possível, ainda, que as pessoas precisem ser revacinadas de forma periódica, como é feito para outras doenças.

O pesquisador Maurício Barreto, coordenador do Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs) da Fiocruz Bahia e professor emérito da Universidade Federal da Bahia (Ufba), comparou essa situação à da gripe (causada pelo vírus Influenza).

“A gripe mata pessoas – principalmente idosos, pessoas mais fragilizadas. Mas ela, de alguma forma, é menos intensa – e todo ano a gente refaz a vacina, porque ela muda, o vírus sofre transformações”, explicou.

“Isso é uma coisa que possivelmente vai existir na Covid. Só que numa escala monumental. Gripe é mais restrito a grupos de risco e pessoas mais idosas. A Covid é uma coisa universal, que atinge todos. São bilhões de vacinas que têm que ser dadas. Nós não conseguimos nem dar, no mundo, [a vacina] para todos”, pontua.

Eliana Bicudo, da SBI, fala também nas vacinas “de segunda geração” – ainda em estudo – mas que são mais adaptadas e que buscam uma resposta imune mais duradoura.

“A expectativa é que a gente tenha vacinas de segunda geração. Mas hoje, com a perspectiva de vacinas que nós temos, é provável que, principalmente os grupos de risco, continuem sendo imunizados com um reforço de imunização a cada quatro meses”, diz Bicudo.

O coronavírus vai se tornar endêmico?

Provavelmente, sim, segundo a OMS.

“Este vírus provavelmente permanecerá conosco e pode se tornar endêmico – perdemos em grande parte a possibilidade de erradicá-lo ou eliminá-lo desde o início porque não o atacamos, em nível global, com a força que poderíamos”, explica a entidade, em e-mail à reportagem.

Mas o que significa uma doença ser endêmica?

“A endemia é quando o vírus ocorre periodicamente: ele vai e volta, ele já é esperado – existe uma certa previsibilidade. Então, por exemplo: a influenza é endêmica. A gente sabe que vai ocorrer. Todo lugar do mundo tem influenza, tem surtos de gripe”, explica Maurício Barreto, da Fiocruz.

Mas a OMS explica que, mesmo que o vírus se torne endêmico, isso não significa que ele deixará de ser perigoso. A longo prazo, segundo a entidade, a esperança é controlar o vírus.

“Com ampla vacinação e ampla disponibilidade e uso estratégico das ferramentas de que dispomos, podemos fazer isso. Isso não significa que não haverá Covid-19, mas, sim, que teríamos minimizado doença grave e morte”, disse a organização.

Médicos e enfermeiras cuidam de paciente com Covid 19 em UTI do Hospital Universitário de Leipzig, na Alemanha, em 8 de novembro de 2021 — Foto: Waltraud Grubitzsch/dpa via AP

Meta é controle do vírus

O vice-diretor da Opas, Jarbas Barbosa, destaca que a meta deve ser controlar o vírus – de forma que ele não cause tantas perturbações à sociedade.

“Se gente alcança esse primeiro objetivo – de reduzir tanto [o impacto do vírus] que não seja mais um dano à saúde e às economias, às sociedades – e mantendo vacinação, vigilância, medidas de saúde pública e respondendo a alguns surtos que ocorrerem, isso já vai ser um avanço enorme em relação ao que a gente tem hoje”.

“Nós temos que lutar contra a hesitação vacinal e avançar em países com baixo índice de vacinação”, disse Alexandre Naime. “Agora, o vírus vai continuar circulando por muito tempo, talvez nós tenhamos aí anos de circulação. Mas isso não necessariamente significa que a pandemia vai continuar.”

Foto: Daniel Cole/AP

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