Por Theintercept
Na terça-feira, 15 de fevereiro, o pré-candidato a presidente Sergio Moro estava no Rio de Janeiro. Sua assessoria afirmou que ele não teve agenda. Mas um contrato ao qual o Intercept teve acesso revelou a provável razão da viagem: Moro participou de uma reunião fechada com gestores do mercado financeiro selecionados a dedo pela empresa contratante, a carioca Ativa Investimentos.
Embora o assunto tratado tenha sido a campanha, o encontro foi remunerado: o contrato revela que Moro e seu agente negociaram R$ 100 mil para falar em palestras para os gestores financeiros no Rio e em São Paulo.
Deste montante, R$ 77 mil são para empresa do ex-juiz, a Moro Consultoria e Assessoria em Gestão Empresarial de Riscos LTDA (a mesma que ele utilizou para prestar serviços à consultoria Alvarez & Marsal, nos Estados Unidos). Os demais R$ 33 mil são para a Delos Produções Culturais Ltda, braço do grupo DC Set Participações, controlado por Jorge Sirena, marqueteiro de Moro. Dody Sirena, como é conhecido, também é empresário do cantor Roberto Carlos e fechou contrato com Moro para promover suas palestras na área corporativa e cuidar de sua imagem.
Entre os assuntos tratados no primeiro encontro, estava a viabilidade financeira e o programa de governo do ex-juiz. A Lei Eleitoral permite que um pré-candidato possa apresentar a pretensão de se candidatar, dar entrevistas e falar de projetos, mas sem pedir voto. No entanto, não há clareza sobre a contratação de uma empresa do pré-candidato para que ele apresente suas propostas de governo de forma remunerada.
O contrato tem cláusulas de confidencialidade. No dia 15, a assessoria de Moro me informou que ele não teve compromissos. Já a assessoria de imprensa da Ativa Investimentos confirmou apenas que “periodicamente, faz encontros e palestras com personalidades públicas para clientes institucionais da corretora”, mas não confirmou ou negou o encontro. A recepção do hotel me informou que não poderia passar tais informações.
Mas o ex-ministro Carlos Marun, do MDB, que estava presente, me confirmou a realização do encontro no local, hora e participantes descritos no contrato. “O candidato Moro expôs seu plano inicial de governo, suas ideias iniciais e se estabeleceu quase um bate papo já que era esse o objetivo. Um encontro pequeno onde as coisas pudessem ser conversadas com tranquilidade”, ele me disse.
Há uma zona cinzenta na legislação de pré-campanha eleitoral. Doações de pessoas jurídicas são vedadas, por exemplo. No final do mês passado, Moro defendeu em uma live que todos os candidatos à Presidência deveriam abrir suas contas e dar transparência sobre seus rendimentos. No entanto, ao contrário do que ele prega, o ex-juiz não quis esclarecer os R$ 77 mil que constam do contrato com a Ativa Investimentos. Procurei pela sua assessoria entre os dias 16 e 18 de fevereiro, e, apesar de terem recebido meus questionamentos, não responderam sobre o contrato, a reunião com a Ativa Investimentos e a relação com Dody Sirena.
Mas o contrato, enviado por uma fonte anônima, nos ajudou a fazer esse trabalho de dar transparência às atividades do pré-candidato. Leia a reportagem completa sobre o encontro secreto de Sergio Moro no Intercept.
Foto: Wilson Dias/Agência Brasil