Por ALMG
Minas Gerais pode ganhar uma nova ferrovia, que seria uma alternativa às atuais linhas usadas quase exclusivamente para o transporte de minério. O projeto foi apresentado nesta quinta-feira (2/6/22), em audiência pública realizada pela Comissão Extraordinária Pró-Ferrovias Mineiras da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), em Conceição do Mato Dentro (Região Central).
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A proposta foi aprovada em dezembro do ano passado pelo governo federal, com base no novo marco regulatório do transporte ferroviário, estabelecido pela Lei Federal 14.273, de 2021, que facilita os investimentos do capital privado na construção de novas linhas. O empreendimento foi autorizado para a empresa Macro Desenvolvimento, que estima investimentos da ordem de R$ 32 bilhões.
O projeto prevê a construção de um eixo ferroviário dividido em duas estradas de ferro (EF). A primeira extensão ligará o município de Sete Lagoas (Região Central) à Presidente Kennedy (Espírito Santo), atravessando o Vale do Aço e com um ramal passando por Conceição do Mato Dentro. A segunda etapa estenderia as linhas até à cidade de Anápolis (GO), totalizando 1.450 quilômetros de trilhos.
De acordo com o diretor-executivo da empresa, Fabrício Freitas, a intenção é executar as obras dos dois trechos simultaneamente. A empresa está investindo no planejamento do projeto e detalhamento das obras de engenharia necessárias, para passar para a etapa de licenciamento.
Fabrício Freitas calcula que o início dos trabalhos deve ocorrer em até quatro anos e a operacionalização do modal entre 10 e 12 anos. “Considerando a complexidade do empreendimento, é um tempo razoável”, explica.
Ideia é diversificar transporte de produtos
Segundo o executivo, o pedido de autorização para a implementação da ferrovia foi motivado pelo grande potencial minerário da região atendida no Estado e pela escassez desse transporte para outros produtos. Dessa forma, a ideia é diversificar a oferta do transporte também para outros setores produtivos e de serviços.
Fabrício Freitas acredita que o primeiro trecho ampliará as ofertas de transporte sobretudo de minério, e o segundo atingirá mais o agronegócio e a indústria de fertilizantes, ligando Minas ao Centro-Oeste brasileiro, região de grande produção agrícola.
O diretor da Macro assegurou que os empreendedores também visam ao transporte de passageiros, especialmente para atender ao turismo que também é vocação das regiões atendidas. “A ferrovia é um grande eixo de desenvolvimento”, defendeu.
A proposta empolgou os participantes da audiência pública, que reconheceram a implantação do transporte ferroviário como vetor de crescimento econômico e melhoria social para a cidade e seu entorno. O presidente da comissão, deputado João Leite (PSDB), um entusiasta das ferrovias, está confiante que o projeto vai abrir espaço para o escoamento de outras cargas, além do minério.
Em Conceição do Mato Dentro, a produção minerária é transportada por mineroduto. O deputado lembrou que, com a crise hídrica, esse meio tornou-se muito caro. João Leite explicou que o transporte por trens é mais barato e ambientalmente melhor. Ele lamentou a decadência do modal no Estado, que já foi amplamente usado no passado.
Segundo o deputado, enquanto São Paulo, que também conta com o mar como meio de transporte, conta com 27 terminais de cargas ferroviárias, Minas possui apenas cinco e depende de portos de outros estados para as exportações. “Precisamos avançar muito”, advertiu.
O uso de apenas um trem, conforme explicou João Leite, retira três carretas das rodovias, desafogando o trânsito, agilizando o transporte e barateando os custos. “Hoje um caminhoneiro viaja uma semana para chegar a um porto marítimo. Com a ferrovia, que fará esse percurso, ele poderá fazer até seis viagens diárias, levando as cargas até os vagões”, exemplificou, ao discorrer sobre as vantagens do modal.
EM BUSCA DE RECURSOS
O diretor da Macro Desenvolvimento, Fabrício Freitas, afirmou que os primeiros investimentos estão sendo feitos com recursos próprios da empresa. Ressalvou, no entanto, que, para tornar o projeto uma realidade, o empreendedor terá que atrair clientes para selar contratos para as cargas. Ele descartou recorrer aos bancos oficiais brasileiros para levantar dinheiro, mas admitiu que pode recorrer a financiamentos internacionais, que oferecem condições mais favoráveis de juros.
Fabrício Freitas vislumbra que o novo transporte estimule o surgimento de novas empresas na região beneficiada, como de geração de gás e de fabricação de vagões e trilhos, que atualmente são importados da China, além do surgimento de oportunidades de emprego para profissionais que darão suporte às novas atividades. O deputado João Leite citou o exemplo de soldadores.
O gerente de Negócios da Agência de Promoção de Investimentos do Estado (InvestMinas), Henrique Soares, sugeriu que os empresários locais comecem a estudar as oportunidades que vão surgir com a nova operação ferroviária.
Vânia de Pádua, superintendente de Transporte Ferroviário da Secretaria de Estado de Infraestrutura e Mobilidade (Seinfra), afirmou que Minas Gerais foi o Estado mais contemplado com as autorizações para instalação de ferrovias. Segundo ela, das 45 propostas analisadas, nove são para a implantação de trens turísticos.
Foto: Guilherme Bergamini