Por Hoje em Dia/Blog do Lindenberg – blogdolindenberg@hojeemdia.com.br
Eu dizia num comentário para o blog do Lindenberg e para este Hoje em Dia, no domingo à noite, que a família do jornalista britânico, Dom Phillips, já não tinha esperanças de que ele e o indigenista Bruno Pereira “estivessem entre nós”. Ambos desapareceram quando faziam o trajeto entre a comunidade ribeirinha São Rafael e a cidade de Atalaia do Norte, no Vale do Javari, nos rincões da Amazônia.
Pois bem, na noite de domingo, oito dias após o desaparecimento de Dom e Bruno, os sites anunciaram que foram encontrados documentos pessoais, notebook de Dom, além de um cartão de saúde em nome de Bruno. Enfim, pertences diversos dos desaparecidos, o que leva a crer que, de fato, ambos poderiam ter sido vítimas de uma emboscada ou algo parecido porque há sinais de sangue no barco dos dois, numa possível emboscada a mando de madeireiros e exploradores de ouro que atuam na imensidão da Amazônia. Um suspeito, Amarildo Costa de Oliveira, está preso, mas ele não deve ser o único detido, há mais gente envolvida nisso.
Uma coisa patética. E olha que o presidente Jair Bolsonaro teve que se submeter a uma suposta admissão de culpa ao participar da Cúpula das Américas, nos Estados Unidos, ao lamentar o desaparecimento de Dom e de Bruno, para no dia seguinte participar de uma “motociata”, agora de capacete, o que não faz quando está no Brasil, ao contrário do que se poderia esperar do presidente da República se abalado estivesse com o desaparecimento do indigenista brasileiro e do jornalista britânico.
Em suma, o anúncio de que os corpos, ou o que restou deles, foi encontrado deve ser anunciado pela Polícia Federal, possivelmente no Rio de Janeiro, a despeito de os integrantes da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari ainda não terem confirmado que os corpos tenham sido encontrados. Nem a Polícia Federal, pelo menos oficialmente. A embaixada britânica, em Brasília, no entanto, teria confirmado que os cadáveres são de Dom e Bruno. De fato, uma semana depois do desaparecimento do jornalista britânico e do indigenista brasileiro, com tantas evidências de que poderiam ter caído numa armadilha – a presença de sangue na embarcação dos dois, a localização de documentos pessoais e a prisão de um suspeito, agora também com a citação de um outro nome envolvido na trama – é difícil não se ter a certeza de que ambos não teriam sido vítimas de uma maquinação das tantas que ocorrem naquela região.
Mas esse é o resultado, ainda que o presidente da República tenha dito que “eles se envolveram numa aventura pouco recomendável”, do abandono de uma região onde impera a lei da bandidagem, da grilagem de terras, do desmatamento a todo o custo, enfim, da completa ausência do Estado. Aliás, o ministro Roberto Barroso, a quem está afeta essa questão da Amazônia, chegou a dizer isso ao dar o prazo de cinco dias para que a Policia Federal dissesse onde estariam os desaparecidos.
Não é preciso dizer que o Brasil paga mais essa afronta pelo mundo afora. Domingo já surgiram as primeiras manifestações – “cadê Dom e Bruno”? – cobravam no Rio de Janeiro, enquanto certamente ecoarão pelo mundo as mesmas perguntas, cobrindo o governo brasileiro de mais uma vergonha por não cuidar, não apenas de duas vidas, mas sobretudo por deixar que a violência, a ganância e tudo aquilo que nos enxovalham cubram a Amazônia; por sinal, uma das questões enfrentadas com algum constrangimento pelo presidente Jair Bolsonaro ao participar da entrevista que deu ao final da Cúpula das Américas. “Onde estão Dom e Bruno”, haverá de perguntar o mundo.
Foto: Alan Santos | PR
1 comentário
Não se pode culpar um único governante pelos problemas que assolam este país há mais de meio milênio. Se existem culpados – e sabemos que os há – temos que revisar a história deste país, desde seu descobrimento. Nesse caso, vários aspectos têm que ser considerados. O tipo de pessoas do qual resultou nossa etnia; a destruição moral e cultural dos habitantes locais; a escravização de homens e mulheres que viviam livremente em seus países, e muitos outros motivos, dos quais resultaram o que somos hoje. Infelizmente, não temos muito para nos orgulharmos. Basta prestar atenção na classe política, como um todo, aqueles que elegemos para nos representar. Está tudo errado! Esteve sempre errado! Mas não podemos perder a esperança. Somos ainda um país engatinhando. Um dia, quem sabe, haveremos de amadurecer !!!