Por Hoje em Dia/Blog do Lindenberg – blogdolindenberg@hojeemdia.com.br
Não é crível que o presidente da República, a quem cabe manter a ordem no país como autoridade maior do Executivo, não tenha se solidarizado com os familiares, tanto de Marcelo Arruda, morto por um bolsonarista sábado, na sua festa de aniversário, quanto com a do assassino, Jorge Guaranho, de quem, aliás, Bolsonaro quer distância. No entanto, o presidente culpou a “esquerda”, como se fosse esse espectro da política nacional o responsável pelos desmandos que vêm sendo cometidos no país.
Ora, é o próprio presidente da República quem toma a iniciativa de tentar desmoralizar o processo eleitoral brasileiro, quando se insurge contra as urnas eletrônicas. Ele que sempre se elegeu por elas – e não só ele como os três filhos. De tal forma que não faz sentido que o presidente e seu ministro da Justiça sequer tenham apurado até hoje os tiros que foram deflagrados em 2018 contra a caravana do ex-presidente Lula, no sul do país, ou quando sua Excelência afirma, como fez domingo, que dispensa seus eleitores de votarem nele quando fazem mal aos outros. “Dispenso o apoio de quem pratica violência contra opositores”, disse Bolsonaro, para completar: “A esse tipo de gente, por coerência, peço que mude de lado e apoie a esquerda que acumula um histórico inegável de episódios violentos”.
Palavras soltas ao vento. Não é esse o quadro político que se vê no país nesses dias pré-eleitorais em que o presidente estoura o teto de gastos e infla o mercado dos votantes com despesas de mais de R$ 32 bilhões.
Diante de horrores assim não é difícil imaginar os posts da delegada que até então vinha tocando o processo em Foz do Iguaçu, Iane Cardoso, que em 2016 escreveu que “petista quando não está mentindo está roubando ou cuspindo”. No domingo, o secretário de Segurança Pública do Paraná, Wagner Mesquita, trocou a delegada que vinha conduzindo o processo pela chefe da Divisão de Homicídios, Camila Chies Cecconello, no mínimo para que a nova delegada possa ter a devida independência que o caso requer.
Na manhã de segunda-feira, Bolsonaro ainda era questionado sobre a morte do tesoureiro do PT no Paraná e respondia que é “sempre contra a violência. Já sofri isso na pele. A gente espera que não aconteça, obviamente. Está polarizada a questão. Agora a história da violência não é do meu lado. É do lado de lá”.
O presidente, no entanto, não explica os tiros na caravana do ex-presidente Lula no sul do país – episódio até hoje não apurado –, não fala sobre os tiros contra a redação da Folha de São Paulo, não toca no assunto do atentado contra o juiz Renato Borelli, que, ao atender a um pedido da Polícia Federal, mandou prender o ex-ministro Milton Ribeiro. E, menos ainda, fala no lançamento de uma bomba caseira, na Cinelândia, num comício em favor de seu adversário, Lula.
Mas o presidente, que afronta o TSE e o STF, diz não gostar da violência, quando há dezenas de vídeos mostrando-o apontando armas de todos os tipos para o que ele chama de “petralhada”, num claro discurso que exala ódio.
O ex-presidente Lula prevê piora da violência eleitoral, descarta ceder a intimidações e pede cautela a seguidores. A presidente do PT, Gleisi Hoffman, que participou da reunião na manhã desta segunda-feira, pediu a federalização das investigações e cobrou uma posição proativa do Congresso Nacional e do TSE alertando para a necessidade de um contraponto institucional e a importância de se ter uma eleição pacífica no país.
Ontem, ao percorrer as ruas de Foz do Iguaçu, o corpo de Marcelo de Arruda foi saudado por uma multidão, enquanto no hospital da cidade o assassino do petista, Jorge Guaranho, “se mantinha estável”, segundo os médicos.
Para finalizar, o instituto de pesquisa Locomotiva detectou que sete em cada dez brasileiros não conseguem dialogar bem com posições contrárias às suas. Isso dá bem a medida da intolerância que está em voga hoje no país.
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