Por Metrópoles
O presidente Jair Bolsonaro mantém desde 2020 encontros secretos com a vice-procuradora-geral da República, Lindôra Araújo, a quem já prometeu o cargo de PGR, após a saída de Augusto Aras, em 2023, caso Bolsonaro seja reeleito. As duas primeiras reuniões entre os dois ocorreram por intermédio do ex-deputado federal Alberto Fraga, que levou Lindôra ao Palácio da Alvorada para apresentá-la ao presidente – à época, ela era coordenadora da Assessoria Jurídica Criminal da PGR.
Na primeira ocasião, Fraga atendeu a uma solicitação de Bolsonaro, que pediu ao ex-deputado para conversar com a vice-PGR. O presidente sabia da boa relação dela com Aras, mas ainda não tivera a oportunidade de conversar a sós com a subprocuradora. Na época, Lindôra tinha a prerrogativa de atuar em processos que tramitam no Superior Tribunal de Justiça. Conduzia, portanto, os inquéritos criminais de governadores de estado, tanto aliados quanto adversários de Bolsonaro.
O presidente estava naquele momento ávido por informações sobre suspeitas e inquéritos instaurados contra Wilson Witzel e João Doria, respectivamente os governadores do Rio de Janeiro e de São Paulo na ocasião. Mas não era só esse o objetivo de Bolsonaro quando pediu a Fraga que providenciasse o encontro.
Diferentes interlocutores do presidente que trabalhavam para que ele indicasse Aras ao Supremo Tribunal Federal, em uma das duas vagas que abririam para o tribunal, com a aposentadoria de Celso de Mello, em 2020, e de Marco Aurélio Mello, em 2021, sugeriam que Lindôra fosse a escolhida para substituir o atual PGR.
O próprio Augusto Aras indicara sua então assessora criminal. Mas o presidente sempre expressava desconforto em ter uma mulher nessa posição. Dizia não acreditar que mulheres tivessem as características necessárias para ocupar a PGR. Diante da insistência no nome de Lindôra Araújo — inclusive de seu filho mais velho, Flávio Bolsonaro —, o presidente pediu a reunião.
No dia do primeiro encontro, quando a subprocuradora e Alberto Fraga chegaram ao Palácio do Alvorada, Lindôra estava nervosa. Fraga sugeriu ficar do lado de fora e não entrar com ela na biblioteca do Alvorada, onde Bolsonaro a esperava. O ex-deputado insistiu, e ela entrou sozinha.
A conversa durou pouco mais de uma hora. Ao final, Bolsonaro levou os dois à porta do palácio e, dirigindo-se a Aras, fez sinal positivo com o polegar. “Gostei, gostei. Foi bom”, disse, num tom de voz mais baixo, apenas para Fraga.
O outro encontro, também em 2020, foi o último que teve a intermediação do ex-deputado. Depois disso, Bolsonaro e Lindôra passaram a falar diretamente por meio do WhatsApp, tal qual ele dialoga com Augusto Aras. Quando precisa tratar de algum assunto que diz respeito às atribuições da vice-PGR, o presidente conversa diretamente com ele. Em mais de uma ocasião, disse à subprocuradora que ela será a próxima PGR, num eventual segundo mandato, substituindo Aras.
Nesta semana, Lindôra pediu ao STF o arquivamento de sete das 10 apurações preliminares que têm como alvo Bolsonaro, ministros, ex-ministros e o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros, por possíveis crimes cometidos durante a condução da pandemia de Covid-19. Os pedidos de investigação partem de conclusões da CPI da Pandemia.
Além de Bolsonaro, citado em cinco apurações, e de Barros, os pedidos de arquivamento beneficiam o ex-ministro Walter Braga Netto, candidato a vice na chapa do presidente, o ex-ministro Eduardo Pazuello e o atual ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, entre outros auxiliares diretos do Planalto e aliados do bolsonarismo.
Procurada para comentar sobre sua relação com Bolsonaro, a vice-procuradora não respondeu à coluna até o fechamento desta reportagem. O espaço está aberto a manifestações.
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