Por Estadão Conteúdo
A comissão da Câmara dos Estados Unidos que investiga o ataque ao Capitólio está interessada em informações sobre os vínculos da família Bolsonaro com Steve Bannon, ex-assessor e estrategista-chefe da Casa Branca no governo de Donald Trump, e avalia incluir o nome do deputado federal Eduardo Bolsonaro (União Brasil-SP) nas investigações. O parlamentar esteve em Washington em 6 de janeiro de 2021, dia da invasão, para agendar uma reunião com Jared Kushner, o genro de Trump.
O deputado democrata americano Jamie Raskin, que integra o comitê — chamado January 6th Comitee —, se reuniu na semana passada com uma comitiva brasileira que foi aos EUA tratar sobre eventual risco de ruptura institucional nas eleições do Brasil. Um participante da reunião relatou ao Estadão que informações sobre o filho “03″ do presidente Jair Bolsonaro (PL) são “bem-vindas”, pois a comissão buscará agora entender as ramificações internacionais do movimento de contestação às eleições de 2020 naquele país. A comitiva brasileira foi composta com representantes de entidades ligadas à defesa dos direitos humanos, como a Comissão Arns, a Conectas, o Instituto Vladimir Herzog e a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil.
Raskin ressaltou a proximidade ideológica e a admiração declarada que o deputado brasileiro demonstra por Steve Bannon. No ano passado, no mesmo dia em que o Congresso brasileiro votava a PEC do voto impresso, Eduardo subiu ao palco ao lado do estrategista americano em um evento nos Estados Unidos e fez acusações de fraude sobre as urnas eletrônicas.
Durante o encontro, o parlamentar americano disse ainda que teme o rumo que as eleições estão tomando no Brasil e a possibilidade de haver no País episódio semelhante à invasão ao Capitólio.
Ontem, o jornal britânico Financial Times registrou o interesse da comissão pela atuação de Flávio Bolsonaro.
Recentemente, a Casa Branca divulgou nota reafirmando a confiança no processo eleitoral brasileiro, mesmo sem citar Bolsonaro, pouco após o presidente fazer a investida mais enfática contra o sistema eletrônico de votação até o momento.
No dia 18 de julho, o chefe do Executivo reuniu embaixadores estrangeiros no Palácio da Alvorada para desacreditar as urnas eletrônicas e colocar em descrédito os ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), cuja função é garantir a lisura do processo eleitoral. A ação foi repudiada por entidades da sociedade civil, empresários, juristas e líderes políticos.
Steve Bannon, de quem a família Bolsonaro é admiradora declarada, é considerado um “conselheiro informal” de campanhas políticas dos populistas de direita. O evento que reuniu o ex-assessor e Eduardo no ano passado foi destinado a apoiadores de Trump e sustentava que o republicano ganhou as eleições de 2020, em vez de Joe Biden.
O deputado Eduardo Bolsonaro foi procurado para comentar as declarações de Jamie Raskin, mas não se manifestou até a publicação desta reportagem.
Foto: Gabriela Biló / Estadão