Por G1
Um novo clima de inquietação tomou conta da Argentina nesta sexta-feira (2), após o atentado com arma contra sua vice-presidente, Cristina Kirchner, que saiu ilesa devido a um defeito mecânico da pistola. Há manifestações políticas em Buenos Aires para demonstrar apoio a Cristina.
O agressor apontou a arma –as autoridades disseram a pistola estava carregada– para Cristina do lado de fora da casa dela em Buenos Aires, à queima-roupa, mas a arma não disparou.
Nesta sexta-feira, o principal ato acontece na Praça de Maio, um ponto tradicional de comícios e outros atos políticos na frente da Casa Rosada, a sede do governo. Milhares de pessoas foram ao local.
Alberto Fernández, o presidente, decretou feriado nesta sexta-feira justamente para que as pessoas pudessem participar de manifestações.
Segundo o jornal “La Nación”, Fernández convocou representantes sindicais, empresários, membros de organizações de direitos humanos e representantes de religiões para participar do ato na frente da Casa Rosada e fazer um discurso contra a violência.
Deve haver apenas um pronunciamento: a atriz Alejandra Darín, presidente da Associação Argentina de Atores, vai ler uma carta. Ela é irmã do ator Ricardo Darín.
Alberto Fernández visitou Cristina na casa da vice-presidente. Segundo o jornal “Clarín”, ele ficou lá por 45 minutos e saiu sozinha.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2022/3/6/ojCsYBT0qn8DpbNZVzqg/2022-09-02t155142z-240789316-rc229w9axabn-rtrmadp-3-argentina-politics-crime-march.jpg)
Manifestantes em Buenos Aires em ato para dar apoio a Cristina Kirchner, em 2 de setembro de 2022 — Foto: Agustin Marcarian/Reuters
‘Sociedade perdeu a calma’
Oscar Delupi, de 64 anos, funcionário ferroviário da capital, culpou as divisões políticas pelo desencadeamento da violência.
“A sociedade já perdeu um pouco a calma, a mensagem de ódio que a oposição emite está se tornando cada vez mais feroz”, disse ele.
“Felizmente a bala não saiu porque as consequências poderiam ter sido muito piores”, disse Florencia Suera, uma trabalhadora de 22 anos de Buenos Aires.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2022/u/X/bLDQSMQGGo8LbGB8nX9g/ap22245646972591.jpg)
Imagem de manifestação para demonstrar apoio a Cristina Kirchner em Buenos Aires, em 2 de setembro de 2022 — Foto: Rodrigo Abd/AP
Políticos também reagem
Políticos de todos os segmentos ideológicos da Argentina condenaram o ataque, que aconteceu em meio a tensões políticas agudas (o país passa por uma crise econômica impulsionada por dívidas e inflação descontroladas).
Horacio Rodríguez Larreta, um político de oposição ao kirchnerismo e prefeito da cidade de Buenos Aires, chamou de “um ponto de virada na (nossa) história democrática”. É um comentário semelhante ao do presidente Alberto Fernández em um discurso noturno.
No entanto, alguns políticos reagiram com críticas à forma como o governo reagiu. Patricia Bullrich, do PRO, disse que o presidente está brincando com o fogo: “Em vez de investigar seriamente um fato grave, acusa a oposição e a imprensa e decreta um feriado para mobilizar os militantes. (Ele) converte um ato de violência individual em uma jogada política. Lamentável”.
Miguel Angel Pichetto, do Encontro Republicano, também criticou o Alberto Fernández: “O presidente não entende nada. A oposição repudiou o ato e se solidarizou com a vice-presidente. O presidente, da parte dele, culpa a oposição, a Justiça e os veículos de imprensa. Depois, decreta um feriado nacional. Para quê? É tudo patético”, disse ele.
Líderes de outros países
O papa Francisco falou por telefone com a vice-presidente para expressar sua solidariedade, disse um comunicado de Cristina Kirchner. Líderes da região também criticaram o ataque.
“Foi deplorável, repreensível, mas ao mesmo tempo, eu diria, milagroso, porque ela está bem”, disse o presidente mexicano de esquerda Andrés Manuel López Obrador.
Cristina enfrenta processos judiciais
Figura divisiva, Cristina Kirchner enfrenta acusações de corrupção ligadas a um suposto esquema de desvio de recursos públicos enquanto foi presidente, entre 2007 e 2015. Um promotor pediu uma sentença de 12 anos de prisão contra ela.
Cristina nega irregularidades, e seus apoiadores foram às ruas e se reúnem diariamente do lado de fora de sua residência.
Mais tarde, o gabinete do presidente Fernández pediu o fim de uma “retórica de ódio”, enquanto Rodríguez Larreta acrescentou: “Hoje, mais do que nunca, todos os argentinos precisam trabalhar juntos pela paz”.
O ataque foi transmitido em todo o país por meio de imagens de TV ao vivo que mostraram a arma sendo apontada para o rosto de Cristina Kirchner, antes de ela se abaixar e cobrir o rosto com as mãos.
Oscar Parrilli, senador da coalizão governista próximo à vice-presidente, disse à rádio local que ela estava em choque, mas que “por sorte, tem seu espírito, seu temperamento intacto”.
A polícia prendeu um suspeito que eles disseram ser Fernando Andrés Sabag Montiel, um brasileiro de 35 anos.
Foto: Rodrigo Abd/AP