Por Felipe Nunes
Mostra que o começo da campanha eleitoral não foi capaz de diminuir a diferença entre Lula e Bolsonaro, que mantém-se estável em 12 pontos; mas foi positiva para os outros candidatos que, juntos, oscilaram positivamente 3 pontos.
Embora a notícia mais esperada seja sobre a polarização, esta rodada traz bons ventos para Ciro Gomes, que cresceu 3 pontos percentuais durante o mês de agosto, atingindo 8% de intenção de voto. Simone Tebet manteve seus 3%.
No cenário atual, as chances de uma vitória de Lula no primeiro turno ficaram menores, já que a soma de todos os candidatos (45%) ultrapassou o percentual de intenção de voto dele (44%).
O favoritismo de Lula continua sendo explicado pela vantagem dele, em relação a Bolsonaro, no Nordeste: são quase 40 pontos percentuais de vantagem. Nas outras regiões, observamos empate técnico, com pequena vantagem de Lula no Sudeste e pequena vantagem de Bolsonaro no Sul.
Entre as mulheres, grupo que contém o maior percentual de indecisos nesta eleição, a vantagem de Lula também está mantida, 16 pontos. Entre os homens, observamos uma leve vantagem de Lula sobre Bolsonaro.
Essa estabilidade nos segmentos revela algo muito importante: mesmo depois de 15 dias desde a última rodada da pesquisa, ainda não observamos de forma significativa o efeito do pacote de bondades do governo. No eleitorado de renda baixa, Lula vence Bolsonaro por 52% a 25%.
A vantagem de Lula sobre Bolsonaro entre quem recebeu o Auxílio Brasil, já com o valor ajustado de 600 reais, está em 29 pontos, distância aproximadamente igual em relação ao mês anterior (30 pontos).
Essa estabilidade se observa a despeito do alto grau de conhecimento do eleitorado sobre as medidas adotadas pelo governo: 84% sabem que o Auxílio Brasil passou para 600 reais.
51% sabem que foi o presidente Bolsonaro quem aumentou o Auxílio para 600 reais.
Mas por que a estratégia distributivista do governo não está funcionando? Eu tenho duas hipóteses, que vem se confirmando ao longo dos meses. Primeiro, o eleitor percebeu que as medidas econômicas foram feitas com propósito eleitoral, o que retira a gratidão sobre a ação.
Isso se deu, em especial, quando as pessoas ‘descobriram’ que o novo valor do Auxílio tinha data para terminar e voltar ao seu valor original. Colocar uma data de fim reforçou a idéia de que não era por altruísmo, mas por interesse próprio do governo.
Segundo, o que mais importa para o eleitor de baixa renda, os alimentos, não sofreram uma queda significativa de preço (18% sentiram redução). O preço da energia caiu para 41% dos eleitores e a gasolina para 82%. A classe média foi quem mais sentiu os efeitos da redução.
Além da ineficácia das medidas distributivistas, pelo menos até aqui, o quadro de estabilidade também foi observada entre os evangélicos. Bolsonaro não conseguiu continuar aumentando a vantagem sobre Lula, ela se manteve nos 24 pontos – menor do que foi em 2018 (33 pts).
A pesquisa também revelou um quadro de estabilidade na simulação de um eventual segundo turno entre Lula e Bolsonaro. O ex-presidente aparece com 51% das intenções de voto e o atual presidente com 37%.
A estabilidade advém do fato de que a rejeição de ambos também ficou estável ao longo dos últimos 15 dias. Bolsonaro aparece com 56% de rejeição e Lula com 43%. A grande novidade é a queda na rejeição de Ciro, que passou de 52% para 48%.
Se o ambiente econômico mais positivo não foi capaz de gerar resultados eleitorais, ele vem melhorando a imagem do governo. A avaliação negativa chegou a 40%, o menor patamar desde o começo da série; e a avaliação positiva chegou a 30%, o maior patamar da série.
Com uma imagem melhor, o governo ajuda o presidente em sua batalha pela reeleição. Afinal, ele vai acumulando capital político para sustentar a imagem de um presidente que está fazendo o que pode pra resolver os problemas do país (45%).
Também não aumentou o percentual de eleitores que dariam uma segunda chance a Bolsonaro, enquanto ficou estável o percentual de eleitores que dariam mais uma chance a Lula.
Ainda no campo afetivo, também não observamos mudanças no medo do eleitorado na comparação da volta do PT com a continuidade deste governo. Essa estabilidade é ruim para Bolsonaro, que tem menos tempo para promover a mudança que ele precisa.
Com todas essas notícias ruins, talvez o maior desafio que o presidente tem é o de convencer o país de que ainda pode virar o jogo. A pesquisa não dá indícios de que será fácil, afinal, 53% acham que Lula vai sair vitorioso desta eleição.
Acredito que os eleitores de Lula vão comemorar a estabilidade da diferença entre os dois candidatos. Os eleitores de Bolsonaro se organizarão ainda mais para tentar mostrar força no 7 de setembro. Semana que vem tem mais pesquisa!
O levantamento ouviu 2.000 pessoas em 120 municípios das cinco regiões do País entre os dias 25 e 28/ago. A margem de erro é de 2 pontos percentuais e o nível de confiabilidade de 95%. Pesquisa registrada BR-00585/22.
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