Por Hoje em Dia/Blog do Lindenberg – blogdolindenberg@hojeemdia.com.br
Eu venho alertando aqui, desde o início da campanha eleitoral, que o mar não está pra peixe. Aliás, desde a eleição passada. Não bastassem os dois crimes que deveriam ter abalado o país pela sua crueldade – como o assassinato do petista Marcelo Arruda, morto pelo bolsonarista Jorge José da Rocha Guaranho, no dia em que comemorava 50 anos, ou ainda do também bolsonarista Rafael Silva de Oliveira, que tentou decapitar seu colega de fazenda, Benedito Cardoso dos Santos -, mais uma situação de extremismo político aconteceu.
As duas mortes já seriam suficientes para que se colocasse um freio nisso. Mas não. Na terça-feira (13), a jornalista Vera Magalhães foi obrigada a pedir proteção policial porque um brutamontes, naturalmente bolsonarista, investiu contra ela durante o debate entre os candidatos ao governo do Estado de São Paulo. Ao que se sabe, o autor da façanha é seguidor do candidato bolsonarista Tarcísio Freitas, a quem acompanhava.
Repetindo as palavras ditas pelo presidente Bolsonaro no debate da Band – “a senhora é uma vergonha para o jornalismo brasileiro “–, o deputado estadual Douglas Garcia (Republicanos) abordou a jornalista no espaço reservado aos profissionais que fariam perguntas aos candidatos e a destratou acusando-a de ter um contrato no valor de R$ 500 mil anuais com a TV Cultura, quando na verdade a remuneração da jornalista é de R$ 22 mil mensais. Uma mentira, portanto, que não poderia ficar impune porque a ninguém é dado o direito de dizer mentiras, sobretudo quando chegam à injúria e ou à difamação.
Todos os candidatos à Presidência da República se solidarizam com a jornalista. Vera Magalhães, por sua vez, diz que desde o debate na Band vem sofrendo “ataques virulentos e violentos de uma base bolsonarista autorizada pelo presidente da República, porque ele me atacou naquele debate e desde então essa base se sente autorizada a repetir os ataques”.
Faltando três semanas para as eleições de outubro, o que acontece é que os brasileiros têm poucas informações sobre os planos de governo dos candidatos à Presidência da República ou mesmo aos governos estaduais. Ao invés de expor seus planos de governo, os candidatos, de modo geral, partem para os ataques verbais e isso acaba refletindo no clima perverso que permeia essa campanha eleitoral, resvalando para os casos de Foz do Iguaçu ou para os dois peões que trabalhavam na fazenda, no Mato Grosso, quando não para o caso de Rodrigo Duarte que ostentava uma camisa de um homem de nove dedos detido numa cela e que teria sido agredido por militantes do PT, por conta da camisa, em São Gonçalo, região metropolitana do Rio de Janeiro.
De seu lado, o presidente Jair Bolsonaro ataca o PT por onde quer que ande, como em Tocantins, quando disse que o PT é uma “praga” e que “só gera desgraça”. Com discursos assim, não é fora de propósito que o clima vai esquentando a cada comício, já revelando a existência de dois crimes por absoluta inconveniência dos candidatos.
O fato é que o debate está aquém do que se esperava dos litigantes. E não é para menos que se mata tanto no país: O Brasil dobrou o número de armas nas mãos de civis em apenas três anos. Eram 637 mil em 2017 e agora são 1,2 milhão, em 2020. De algum lugar vem essa inspiração de beligerância.
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