Por Metrópoles
Dado inédito publicado, nesta quinta-feira (15/9), pelo Instituto Datafolha a pedido do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) e da Rede de Ação Política pela Sustentabilidade (RAPS) mostra que dois em cada três brasileiros (67,5%) afirmam ter medo de ser agredido fisicamente em razão de sua escolha partidária ou política.
Episódios de violência recentes mostram que discussões e divergências políticas acabaram em tragédia. Um dos casos ocorreu em Foz do Iguaçu (PR), no dia 9 de julho de 2022. O guarda municipal Marcelo Arruda (foto em destaque) comemorava 50 anos de vida, em uma festa com a temática do PT, quando o policial penal federal Jorge Guaranho invadiu o espaço e o assassinou a tiros, depois de gritar “Aqui é Bolsonaro!”
Em Confresa (MT), no dia 8 de setembro deste ano, outro episódio que ganhou repercussão. Um jovem matou o próprio colega de trabalho com 17 facadas após uma discussão política. A vítima era defensora do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e quase foi decapitada com golpes de machado.
O terceiro ocorreu em São Paulo, no último dia 9, mas sem consequências trágicas. O candidato a deputado federal pelo PSol Guilherme Boulos afirmou, nas redes sociais, ter sido vítima de uma ameaça por um apoiador do presidente. Um homem que recusou o panfleto da campanha do candidato fez menção a Bolsonaro e afirmou estar armado.
Na pesquisa, 3,2% dos entrevistados dizem ter sido vítimas de ameaças, por motivos políticos, apenas no último mês. O levantamento foi feito entre 3 e 13 de agosto, e ouviu 2,1 mil pessoas.
“Esse número é alto, e preocupa porque a base da democracia é a agenda de direitos. Dos direitos de se expressar, de se manifestar, de votar. Então, quando temos uma população dizendo que tem medo, estamos vendo uma população que vai se manifestar menos, se engajar menos”, avalia, em conversa com o Metrópoles, a cientista política Mônica Sodré, diretora executiva da RAPS.
“Pessoas amendrontadas aceitam mais autoritarismo. É paradoxal mesmo. Ou seja, essas pessoas estão mais suscetíveis a agendas de direitos, como pedidos de socorro, mas também a um líder ‘messiânico’. O medo é um péssimo conselheiro”, complementa o diretor-presidente do FBSP, Renato Sérgio de Lima.
Medo e autoritarismo
Segundo a pesquisa, a relação entre autoritarismo e medo da violência, que já era visível em 2017 – quando o FBSP realizou um levantamento semelhante –, adquire maior importância no cenário atual.
Em um valor que vai de 0 (nenhum medo) a 1 (muito medo), o Brasil registra um índice de medo da violência de 0,76, (era 0,68 em 2017). Esse cenário de aumento do medo do crime e da violência acontece em meio a um período de queda nas mortes violentas intencionais no país, que, no entanto, não se traduziu em percepção de segurança pela população.
Além disso, o levantamento mostra que a tendência em apoiar posições autoritárias em 2022, assim como em 2017, é maior entre quem tem mais medo da violência (índice 7,48) do que entre quem tem menos medo (7,16).
Os especialistas apontam também que o discurso do medo pode estar sendo instrumentalizado, servindo, no fim, a um governo que não tem apreço pela democracia. São os casos, por exemplo, da defesa do armamento civil e do discurso focado apenas na força policial como solução para as violências.
Logo, discursos de incitação à violência e conflitos, assim como manifestações de violência, acabam por estimular posições antidemocráticas por parte da população.
“A extrema-direita entendeu que precisa explorar o pânico, os discursos contra negros, mulheres e LGBTQIA+. Os discursos que reforçam preconceitos e não garantem direitos. Isso é grave pois, hoje, quem não faz parte do grupo de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro, não vai para a rua, não veste uma camiseta, não põe um adesivo. Essas pessoas estão com medo de manifestar livremente o pensamento político”, pontua Lima.
Foto: Reprodução/redes sociais