Por Metrópoles
A medida em que Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) caminham para a reta final do segundo turno das eleições, o Brasil se aproxima do sétimo pleito em que o presidente da República será definido em uma segunda votação.
Desde a redemocratização, houve segundo turno nas eleições para presidente e vice-presidente da República em 1989, 2002, 2006, 2010, 2014 e 2018. Já nas eleições de 1994 e 1998, o pleito foi decidido no primeiro turno.
Todos os pleitos presidenciais que avançaram para o segundo turno tiveram como vencedor aquele que teve mais votos na primeira votação. Portanto, um candidato que ocupou o segundo lugar na primeira etapa das eleições nunca conseguiu virar os votos e sair vitorioso da disputa presidencial.
Na primeira etapa do pleito, em 2 de outubro, Lula teve 57.259.504 votos (48,43% dos votos válidos), e Bolsonaro, 51.072.345 votos (43,20%). A diferença de votos foi de pouco mais de 6 milhões.
Na semana passada, durante agenda em Juiz de Fora (MG), Bolsonaro disse que “a virada já aconteceu”. “Já estamos na frente em Minas Gerais. Já também estamos bem na frente em São Paulo. Estamos diminuindo a diferença no Nordeste. O futuro é nosso. O Brasil continuará sendo um país próspero e livre, graças à vontade e ao empenho de seu povo”, afirmou.
Para Rodolfo Tamanaha, professor de ciências políticas do Ibmec Brasília, essa tradição ocorre em função das dimensões territoriais do Brasil e do curto tempo entre o primeiro e o segundo turno.
“Um candidato a presidente não tem muito tempo para percorrer todo o Brasil. Então é aquela situação, se busca então os colégios eleitorais mais relevantes para tentar realmente se projetar ali, quando se tem e teve poucos votos naquela região”, explica.
O especialista também chama atenção para a abstenção de 20,9% registrada no primeiro turno deste ano, a maior desde 1998. Segundo ele, Bolsonaro, que tenta a reeleição, tenta investir nesse número para conseguir uma virada.
“A gente tem o índice de abstenção elevado. No segundo turno, inclusive, historicamente, a abstenção é maior ainda. Esse é o grande X da questão atual”, observa.
Uso da máquina pública
Caso saia derrotado nas eleições deste domingo, o presidente Jair Bolsonaro pode ser o primeiro candidato ao Planalto que não consegue a reeleição mesmo tendo a máquina pública a seu favor.
Desde o início da campanha, Bolsonaro adotou uma série de medidas de governo na campanha eleitoral. Em linhas gerais, as ações com cunho eleitoral são voltadas para a população de baixa renda, mulheres e nordestinos, perfis considerados pela campanha de Bolsonaro como primordiais para uma vitória em segundo turno.
As mais recentes pesquisas de intenção de voto divulgadas nesse sábado (29/10), véspera das eleições, apontam vantagem de Lula sobre Bolsonaro. Segundo o Datafolha, o petista tem com 52% dos votos válidos; Bolsonaro, 48%. De acordo com o Ipec, o ex-presidente acumula 54%, enquanto o atual chefe do Executivo federal soma 46% dos votos válidos. A margem de erro dos dois levantamentos é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos.
Já pesquisa divulgada pela Confederação Nacional de Transportes (CNT) aponta um empate técnico entre Lula e Bolsonaro. O levantamento, que tem margem de erro de 2,2 pontos percentuais, revela que o petista tem 51,1% dos votos válidos, contra 48,9% do atual mandatário do país.
Relembre as eleições presidenciais definidas em 2º turno
1989
Em 1989, o Brasil teve a sua primeira eleição presidencial após a promulgação da Constituição de 1988. O pleito foi definido em dois turnos. No primeiro, Fernando Collor, então no PRN, teve 30,48% dos votos válidos (20,6 milhões), contra 17,19% de Lula (11,6 milhões). Já no segundo turno, Collor conquistou 53,03% dos votos (35 milhões) e o petista, 46,97% (31 milhões).
2002
Há exatos 20 anos, Lula concorria à Presidência da República contra José Serra (PSDB). Na ocasião, a definição de quem iria comandar o país pelos próximos quatro anos também precisou ir para o segundo turno.
Na primeira fase das eleições, o petista conquistou o voto de 39,4 milhões de brasileiros, o equivalente a 46,44% dos votos válidos. Já o tucano acumulou 19,7 milhões de votos válidos (23,19%).
Semanas depois, no segundo turno, Lula foi eleito com 52,7 milhões de votos (61,27%), contra 33,3 milhões de Serra (38,73%).
2006
Em 2006, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) enfrentou o seu agora vice, Geraldo Alckmin, que, à época, era do PSDB. No primeiro turno, os candidatos receberam 46.662.365 (48,61%) e 39.968.369 votos válidos (41,64%), respectivamente.
A disputa, então, avançou para o segundo turno, que teve um dos resultados mais expressivos desde a redemocratização. Lula acabou reeleito presidente da República com mais de 58 milhões de votos, o que representou 60,83% dos votos válidos. Alckmin somou 37 milhões de votos (39,17%).
2010
Em 2010, então com 62 anos, Dilma Rousseff se tornou a primeira mulher presidente eleita do Brasil. Ela venceu José Serra, do PSDB, no segundo turno, ao acumular 56,05% dos votos válidos (55.752.092 votos). O tucano atingiu percentual de 43,95% dos votos válidos (43.710.422).
Antes, no primeiro turno, os percentuais foram de 46,91% dos votos válidos para a petista (47.651.434 votos) e de 32,61% para Serra, o equivalente a 33.132.283 votos.
2014
Há oito anos, em 2014, Dilma Rousseff (PT) venceu Aécio Neves (PSDB), na corrida pelo Palácio do Planalto, em segundo turno. Nas urnas, a petista obteve 41,6% dos votos válidos, e o tucano somou 33,5%, resultado que levou a disputa para o segundo turno.
Já no segundo turno, com 54.501.118 votos (51,64%), Dilma conseguiu a reeleição. Aécio, por sua vez, ficou com 51.041.155 votos (48,36%).
Dois anos depois, em 2016, Dilma sofreu impeachment e foi afastada do cargo sob a acusação de ter cometido crimes de responsabilidade fiscal – as chamadas “pedaladas fiscais”. Na ocasião, o seu vice, Michel Temer (MDB), assumiu o comando da Presidência até Bolsonaro sucedê-lo, em janeiro de 2019.
2018
Em 2018, primeira vez que Bolsonaro concorreu à Presidência da República, o pleito foi disputado com Fernando Haddad (PT). No primeiro turno, o agora presidente, então no PSL, teve 49.276.990 votos (46,03% dos válidos), e o petista somou 31.342.005 (29,28%).
Quando a disputa avançou para o segundo turno, Bolsonaro venceu a eleição para presidente com 57,7 milhões de votos (55,13%). Haddad, por sua vez, acumulou 47 milhões de votos. Ao se tornar o 38º presidente da República, Jair Messias Bolsonaro interrompeu um ciclo de vitórias do PT que vinha desde 2002.
Evolução do eleitorado brasileiro
O número de pessoas aptas a votar no Brasil em 2022 é o maior já registrado pela Justiça Eleitoral – 156,4 milhões de eleitores aptos.
Em 2018, quando Bolsonaro disputou a Presidência pela primeira vez, eram 147,3 milhões de brasileiros aptos a votar.
Veja a evolução do eleitorado brasileiro desde 1989 para as eleições gerais:
1989: 82,1 milhões de eleitores aptos.
1994: 94,8 mihões de eleitores aptos;
1998: 106,1 milhões de eleitores aptos;
2002: 115,3 milhões de eleitores aptos;
2006: 125,8 milhões de eleitores aptos;
2010: 135,5 milhões de eleitores aptos;
2014: 142,8 milhões de eleitores aptos;
2018: 147,3 milhões de eleitores aptos;
2022: 156,4 milhões de eleitores aptos.
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