Por Hoje em Dia/ Blog do Lindenberg
É inacreditável, para não dizer inaceitável, que o ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), Augusto Nardes, ligado ao presidente da República, fale da forma como falou sobre um tal movimento nas casernas e diz que “é uma questão de horas, dias, no máximo uma semana, duas, ou talvez menos, para que haja um desenlace bastante forte na nação”.
Ele falava num grupo privado de WattsApp que vazou e ganhou o domínio público até por que trata-se de um ministro do TCU e muito ligado ao presidente da República, Jair Bolsonaro, embora tenha sido nomeado para a função pelo então presidente Lula, tendo tido atuação no caso das “pedaladas fiscais” que culminaram no impeachment da então presidente Dilma Rousseff. Nardes também é muito ligado ao agronegócio que, na verdade, é quem está pagando a conta dos que juntam nas imediações dos quartéis para pedir intervenção militar ou a volta da ditadura – essa mesma que torturou e matou centenas de brasileiros.
A propósito, neste final de semana, aconteceu nas cercanias de um desses quartéis um fato bizarro: centenas de manifestantes se reuniram e começaram a pedir o auxílio de extraterrestres, com os telefones sobre suas cabeças, para que descessem de onde pudessem estar para iluminar os militares acantonados em seus quartéis.
Uma pândega o que se viu. Mas o ministro Augusto Nardes, na conversa com seus amigos do agronegócio, dizia: “eu não posso falar muito. Sim, tenho muitas informações, queria passar para ti, para o teu time do agro, que eu conheço todos os líderes”, dizia Nardes com a naturalidade de quem estivesse indo a um piquenique.
Em outra altura da conversa com os amigos, Nardes afirma que conversou “longamente com o time do (Jair) Bolsonaro essa semana e que o presidente da República estaria tratando de uma doença de pele (erisipela, ao que se sabe), mas logo estaria recuperado para “enfrentar o que vai acontecer no país. Ele (o presidente) não está bem, está com um ferimento na perna, uma doença de pele bastante significativa, mas tem esperança de poder se recuperar e certamente terá condições de enfrentar o que vai acontecer no país”.
Por fim, diz o boquirroto ministro do Tribunal de Contas que há um sentimento de que a situação (atual) desaguará em “um conflito social da nação brasileira” para emendar que “agora veio o Bolsonaro” – olha que Nardes foi nomeado para o TCU por Lula – “que despertou a sociedade conservadora e hoje está todo mundo nas ruas fazendo a defesa desses princípios. Demoramos, mas felizmente acordamos”.
Enfim, é inadmissível que um membro do Tribunal de Contas da União se manifeste, ainda que num grupo de WattsApp, com essa desenvoltura, com esse descaramento, elogiando as manifestações antidemocráticas, a tal ponto que o senador Randolfe Rodrigues e o deputado Paulo Teixeira já se movimentam para a convocação do ministro boquirroto às comissões do Senado e da Câmara para que se explique. Embora já tenha se justificado, em que pese a pressão de seus companheiros de TCU, que até pedem a sua exclusão dos quadros do Tribunal.
Nardes se justificou dizendo que era uma conversa privada, para um grupo de amigos, mas na realidade não conseguiu se explicar como convém a um ministro do Tribunal de Contas da União. E ainda teve a cara de pau de dizer que vai procurar o vice-presidente Geraldo Alckmin e o petista Aloisio Mercadante, da transição do governo, para conversar sobre “governança”. O ministro na verdade se revelou um mequetrefe, nada além disso.
Mas essa manifestação de Nardes se confunde com uma outra, não menos preocupante, do presidente do PL, o partido de Waldemar Costa Neto, que ficou de entregar ontem ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) urnas que não deveriam estar em uso em 2022, numa grosseira tentativa de melar a eleição do futuro presidente Lula, já não apenas tido como eleito, embora não esteja diplomado ainda, de tal forma que a essa tentativa de Waldemar se soma um áudio de sua ex-mulher, que mora nos Estados Unidos, em que ela desnuda Waldemar e o acusa de tráfico de drogas na região de Santos, fala de sua vida, enfim, uma lavagem de roupa-suja que só enlameia ainda mais o passado do presidente do PL.
O vídeo viralizou na internet e deixa cada vez pior o presidente do partido de Jair Bolsonaro. Que, por sua vez, não meteu sua colher de pau no mingau levantado tanto por Nardes como nas acusações da mulher de Waldemar Costa Neto.
Foto: Valter Campanato/Agência Brasil