Por Hoje em dia / Blog do Lindenberg
Não parece ser das melhores a indicação do ex-ministro da Educação Fernando Haddad e do liberal Pérsio Arida para uma subpasta, como a do Planejamento, ficando Haddad na Fazenda. Essas improvisações nunca deram certo e tudo indica que dessa vez também não dará certo. É como se duas cabeças tocassem um só corpo. Mas, ao que parece, vai ser assim, pelo menos na ótica do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, ainda que isso não possa dar certo – ou até que possa, mas os economistas são sempre meio cartesianos, daí a dúvida.
Mas, ontem, almoçando ao lado dos dirigentes dos grandes bancos brasileiros, numa promoção da Febraban, Haddad ouviu alguns recados, como por exemplo, o cuidado com as contas públicas e mais previsibilidade econômica. Na verdade, entre os planos do PT está a formação de uma dobradinha entre Fernando Haddad e Pérsio Arida, um dos criadores do Plano Real, de forma a manter o partido no comando de decisões estratégicas, mas abrindo espaço para a influência de um economista liberal na formulação de políticas públicas.
É aí que mora o perigo. Fernando Haddad, que ocupou o Ministério da Educação no governo Lula, aliás com pleno êxito, como provam o Fies e o ProUni, já vem mantendo contato com banqueiros e pessoas do mercado financeiro a tal ponto que, ao discursar ontem, na abertura do evento, o presidente da Febraban afirmou que “independentemente do governo que sai e do novo que chegará em breve, nossa obsessão será perseverar na direção de os bancos funcionarem como alavanca para o crescimento sustentável. A pauta do setor não está vinculada a ideologia dos nossos governantes; vamos contribuir com a institucionalidade e a governabilidade do país”, disse Isaac Sidney, presidente da Febraban. E acrescentou: “as regas do jogo precisam ser estabelecidas numa perspectiva de longo prazo. O investimento não dialoga com surpresas institucionais, instabilidade, confrontos e ruídos políticos, falta de previsibilidade e de segurança jurídica”.
O recado está dado, embora Pérsio Arida ainda não tenha dado uma resposta positiva à convocação do PT, enquanto se vê na atitude de Fernando Haddad algo parecido com a atuação de Antonio Palocci, o que seria positivo para o mercado – sempre o mercado – e mais distante da atuação de Guido Mantega, ainda mais distante do empresariado.
Não menos significativo é que o dólar subiu 0,61% e a Ibovespa fechou em queda após o encontro de Fernando Haddad com os banqueiros, numa ação atribuída aos especuladores do mercado financeiro.
Opinião diferente
Mudando para um outro tema, não menos palpitante do que esse, o Partido Progressista e o Republicanos manifestaram ontem sua discordância quanto à multa que o ministro Alexandre de Moraes aplicou à coligação mantida pelos partidos.
De acordo com o presidente do Republicanos e do Progressistas, ambos teriam reconhecido a legitimidade da ação que elegeu o presidente Lula nos primeiros dias, a tal ponto que o presidente do TSE acabou excluindo os dois partidos sobre os questionamentos ao processo eleitoral.
Na decisão, o ministro disse que a condenação caberá apenas ao PL, partido do presidente Jair Bolsonaro, cujo presidente, Valdemar Costa Neto, questionou o resultado eleitoral, condicionando a vitória ao presidente Jair Bolsonaro que agora responderá, via PL, pela multa de mais de R$ 22 milhões.
Agora, o que Bolsonaro não gostou foi de ser questionando pelos comandantes militares que cobram ação do presidente para conter atos em frente aos quartéis, com pedidos insanos de intervenção militar. Dois dos comandantes militares chegaram a dizer que esse tipo de pedido, de intervenção militar, “não tem base legal”.
Finalmente, nessa reunião, o presidente da República teria admitido que o presidente Lula será empossado com o cerimonial conduzindo o processo por meio dos Dragões da Independência e pelo gabinete de Segurança Institucional.
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