Por Hoje em dia / Blog do Lindenberg
O general e futuro senador Hamilton Mourão, atual vice-presidente da República, não deixa de ter razão quando diz que Lula tem que tomar posse, embora ele não queira assumir essa função, porque “não sou o presidente da República”, ou seja, jogou o ônus para Jair Bolsonaro que, por sua vez, se recusa a dar posse ao presidente eleito.
Mourão, no entanto, erra quando diz, mesmo admitindo a posse do presidente Lula, que o problema foi gerado lá atrás, quando os litigantes de 2018, dentre eles Mourão, aceitaram as regras do jogo e permitiram que o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva, na época líder das pesquisas, participasse da corrida eleitoral.
O erro de Mourão é que, como sabido, o então juiz Sérgio Moro não tinha competência para julgar as ações, posteriormente anuladas pelo ministro Edson Fachin, que acabaram todas nas primeiras varas de Brasília, em que Lula foi absolvido, unanimemente – foi por isso que o apresentador do Jornal Nacional, William Bonner, disse na entrevista dele com Lula que “o senhor não deve nada mais à Justiça do país”.
O erro de Mourão foi este. Não se trata de permitir que Lula disputasse a eleição, até porque foi uma manobra do Tribunal Superior Eleitoral que o tirou do páreo pouco mais de um mês antes das eleições, fazendo com que Lula lançasse Fernando Haddad em seu lugar. No mais, o vice-presidente da República está correto: eleito, Lula tem que tomar posse, não importa quem lhe passe a faixa presidencial, possivelmente a ministra Rosa Weber, presidente do Supremo Tribunal Federal. Ou quem sabe a ex-presidente Dilma Rousseff, vítima de um golpe que a apeou do poder, manobrado por caciques do PSDB, para colocar o cordato Michel Temer em seu lugar.
Chama atenção também a entrevista dada há dois dias pelo presidente do PSD, Gilberto Kassab, de que o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, iniciará a sua base parlamentar com no mínimo 300 deputados. Para Kassab, que conhece bem os meandros da política, se Lula comprasse uma briga com Arthur Lira ele poderia repetir o que houve com Dilma Rousseff, que comprou uma briga com Eduardo Cunha, então presidente da Câmara dos Deputados, em 2015, e acabou perdendo o cargo.
Na verdade, não chegou a haver uma briga de Dilma com Eduardo Cunha. O que houve foi uma divergência porque Eduardo Cunha queria que o PT e os partidos que a apoiavam lhe dessem cobertura no Conselho de Ética, e Dilma, tida como muito séria até nessas coisas, se recusou a lhe dar esse apoio.
De fato, a partir daí, Eduardo Cunha colocou o impeachment de Dilma em votação e a tirou do poder – antes, contudo, ele perdeu a presidência da Câmara, perdeu o mandato e foi preso. Tentou se reeleger por São Paulo e foi derrotado.
De forma que o vice-presidente Hamilton Mourão, agora senador pelo Rio Grande do Sul, não deixa de ter razão quando diz que o presidente eleito tem de tomar posse. O engano de Mourão está na manobra do TSE que tirou Lula do páreo, em 2018, quando o ex-presidente liderava todas as pesquisas de intenção de voto. E ainda quando diz que as manifestações antidemocráticas são legítimas. Não são. Menos ainda quando pedem às Forças Armadas que intervenham invocando artigos que não dizem respeito à Constituição.
Por fim, ontem, a maioria do Supremo Tribunal Federal manteve a decisão que rejeitou ação de Bolsonaro contra o presidente do TSE, Alexandre de Moraes, alegando suposto abuso de autoridade por parte do ministro. E o pedido de Bolsonaro vai para o arquivo. Como o poder faz falta, hein?
Na semana passada, o presidente Jair Bolsonaro chorou na despedida do cargo e na homenagem aos novos generais do Exército, no clube naval de Brasília. Bolsonaro chorou ao ponto de enxugar as lágrimas que lhe desciam pelos olhos. O problema agora é o que Lula vai fazer com os 8 mil oficiais que vai receber da era Bolsonaro.
Uma coisa já praticamente acertada é a transformação do GSI do general Heleno numa subsecretaria a fim de desmilitarizar o gabinete de Segurança Institucional – o mesmo que deixou passar uma carga de mais de 30 quilos de cocaína num voo da Presidência da República.
Foto: ROMÉRIO CUNHA/VPR