O governador Romeu Zema tem um baita trabalho pela frente. Precisa aprovar o Plano de Reajuste Fiscal na Assembleia Legislativa, com o encargo de retirar da Constituição Mineira o dispositivo que obriga a realização de um referendo no caso de venda de estatais, precisa melhorar sua relação com a Assembleia e ainda luta com um projeto de sua autoria que o autoriza a prorrogar impostos criados na época do governador Fernando Pimentel, do PT – o oposto do que defende seu partido, o NOVO. Como se vê, não é pouco o trabalho de Zema.
A despeito dessa trabalheira, o governador está cultivando um hábito que lhe parece saudável. Enquanto os deputados debatem na Assembleia, os seus secretários correm a Brasília e ao Supremo Tribunal Federal para desbloquear recursos, Zema costuma passar alguns dias da semana, sobretudo nos finais da semana, percorrendo o Estado no que parece ser uma pesquisa pessoal que ele mesmo se encarregou de fazer. A impressão que se tem, de início, é que o governador não acredita em pesquisas de opinião pública ou então prefere ouvir com seus próprios ouvidos o que os mineiros pensam dele e do seu governo. E nem sempre ouve o que lhe agrada ou o que lhe convém, mas a despeito disso lá vai Zema interior afora conversando com o povo – mas a que título e com que pretexto?
Não importa. Não menos curioso é que ele depois posta o que ouviu, não se sabe se editado ou não, nas redes sociais. Outro dia mesmo, lá estava Zema numa comunidade, uma fazendola, num distrito de Salinas, no Norte de Minas, perguntando a dona Maria o que ela achava da vida ali. Na semana passada, ele fez diferente. Resolveu correr com um grupo de soldados, ao que parece também no interior. E vai seguindo, o governador Romeu Zema. Dia desses ele apareceu batendo um papo com um sargento, como se justificasse o que estava fazendo ao ouvir o povo. E numa de suas idas a Araguari parou um casal para saber como estava a situação da Saúde na região. Ouviu o que talvez não quisesse ouvir, mas ouviu pacientemente e até se surpreendeu quando o moço disse que sabia quem ele era – o governador Zema em pessoa.
O fato é que, acreditando ou não em pesquisas, Zema vai criando um estilo próprio de tomar, ele próprio, o pulso da população. Chega, apresenta-se, e faz duas ou três perguntas a quem ele encontra pela frente. É uma pesquisa? Não pode ser, claro que não, não é assim que se faz pesquisa. Mas é uma maneira de tomar contato com o povão, na sua expressão mais simples. E com o uso das redes sociais o governador Zema vai vendendo a sua imagem de “homem do povo”, de quem não tem receio de encontrar com o matuto, como ocorreu em Salinas, ou de ouvir o que não gostaria, com foi em Araguari, quando a mulher reclamou do serviço público da Saúde – não se sabe se Municipal ou Estadual – e o homem disse que a situação estava muito difícil. Sem usar paletó, geralmente com uma camisa cor de rosa, ou alaranjada, ao que parece com um telefone celular preso ao cinto, e um sotaque típico do interior, o fato é que a qualquer hora é possível encontrar o jeitão Zema de governar – ou de ouvir as pessoas – numa estrada qualquer do vasto interior mineiro, a querer saber o que o governo dele pode fazer pelas pessoas. Não vai ser a partir desse sistema que o governador irá colher o que a população pensa dele e de seu governo, até porque em Belo Horizonte, por exemplo, a sua imagem está pior do que a do prefeito Alexandre Kalil, que lidera a pesquisa de setembro da Quaest, com 54 por cento de avaliação positiva, embora melhor do que a do presidente Bolsonaro, o pior dos três, com 29 por cento positivo – Zema está melhor, com variação positiva de 16 para 19 por cento, mas dentro da margem de erro de três pontos para cima ou para baixo. Vai ver são esses passeios pelo interior que estão ajudando. Por que, de resto, a crise é brava e pode engolir o governo com Zema e tudo.
Assista aqui o vídeo do Governador Zema visitando o município de Araguari.
Foto: Redes Sociais