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Política fiscal, juros elevados e desaceleração global: os desafios econômicos de Lula em 2023 Retomada do crescimento no país precisará ser um dos principais compromissos do presidente eleito e sua equipe, dizem economistas.

29 de dezembro de 2022, 09h05 | Por Redação ★ Blog do Lindenberg

by Redação ★ Blog do Lindenberg

Por G1

Ano novo, presidente novo, problemas velhos: o próximo governo vai herdar uma economia com uma série de desafios para enfrentar. Na lista, juros em alta, inflação ainda elevada, orçamento engessado, e a desaceleração econômica global.

Além de estimular a economia doméstica e de refazer as bases da política fiscal, o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, e sua equipe também precisarão avançar com as reformas econômicas, segundo economistas ouvidos pelo g1.

Veja abaixo quais devem ser os principais desafios econômicos de Lula no próximo ano:

  • Orçamento
  • Responsabilidade fiscal
  • Reforma tributária
  • Inflação e câmbio
  • Juros
  • Desaceleração global
  • Crescimento econômico
  • Educação e mercado de trabalho

Orçamento

O primeiro desafio já começou antes mesmo da posse: a necessidade de refazer o orçamento para bancar as despesas do próximo ano.

Parte desse custo já está sendo endereçado pela Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Transição – que, entre outros pontos, busca garantir o pagamento do Auxílio Brasil (que voltará a se chamar Bolsa Família) de R$ 600 no ano que vem, com o adicional de R$ 150 por criança até seis anos, e recompor o orçamento de diversos setores.

Responsabilidade fiscal

Segundo o sócio da Tendências Consultoria Silvio Campos Neto, apesar de a postura fiscal mais expansionista do governo não ser novidade, as incertezas que ainda existem sobre de onde devem vir os recursos necessários para viabilizar não só essas, mas todas as demais propostas feitas por Lula durante a campanha eleitoral, ainda trazem cautela.

“O Brasil já tem um fiscal delicado e, nos próximos anos, isso ainda deve se somar a um cenário econômico difícil. É preciso cuidado porque essa perspectiva mais gastadora pode acabar virando uma arma contra o próprio governo, já que pode piorar a dinâmica da dívida [pública] e a percepção de risco do país, consequentemente pressionando o câmbio e mantendo os juros elevados”, afirma Neto.

Assim, o próximo governo terá que balancear a expansão de gastos com demonstrações de responsabilidade fiscal, para garantir a estabilidade e a confiança na economia brasileira.

Reforma tributária

Ainda de acordo com os economistas, a demanda crescente por gastos por parte do governo também aumenta a necessidade de melhorar a arrecadação federal – que normalmente vem por aumento de impostos para a população.

Recentemente, o futuro ministro da Fazenda, Fernando Haddad, indicou o nome do tributarista Bernard Appy para secretário especial da reforma tributária pretendida pelo novo governo, e afirmou que essas mudanças poderão caminhar junto das discussões sobre o novo arcabouço fiscal no ano que vem.

Appy, vale lembrar, é o autor do estudo em que se baseia a PEC 45, apresentada em 2019 pelo deputado Baleia Rossi (MDB-SP). O texto abrange cinco tributos que seriam transformados em um único, que incidiria sobre o consumo e seria cobrado no destino.

Inflação e câmbio

A perspectiva de que um aumento excessivo de gastos pode minar a confiança do mercado na capacidade de pagamento do governo também acaba respingando em outros fatores, e resultar em mais alta do dólar e mais inflação.

Com isso, controlar esse cenário – que já tem sido uma realidade no país nos últimos anos por conta da pandemia de Covid-19 – será um dos principais desafios de Lula não só em 2023, mas nos próximos anos.

Juros

Segundo o chefe do centro de estudos monetários do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV) e ex-diretor do Banco Central, José Julio Senna, o governo eleito precisará elaborar políticas públicas para evitar que o BC mantenha elevada a taxa básica de juros, hoje em 13,75% (juros mais altos encarecem o crédito, ‘esfriam’ a economia e tendem a levar à queda de preços).

“Especialmente em uma economia como a nossa, é indispensável que haja uma bela ajuda do governo federal para o combate à inflação. Tanto o Banco Central quanto a administração do Tesouro Nacional precisam remar na mesma direção, porque caso contrário o resultado é juros mais altos e uma inibição enorme para o processo de crescimento econômico”, diz Senna.

Desaceleração global

Os impactos desse cenário não estão limitados ao quadro doméstico: lá fora, a inflação também faz os juros subirem e desacelera o crescimento global – que também refletem na atividade brasileira. A preocupação com o cenário internacional foi unanimidade entre os economistas ouvidos pelo g1.

Isso porque os aumentos de preços nos combustíveis e alimentos – reflexos da guerra na Ucrânia – também podem acabar pressionando ainda mais a inflação por aqui.

De acordo com o economista-chefe do C6 Bank, Felipe Salles, esse cenário de juros e inflação elevados no exterior tem um efeito negativo na atividade e deve fazer com que o mundo cresça menos em 2023. Em outubro, por exemplo, o Fundo Monetário Internacional (FMI) cortou a estimativa do Produto Interno Bruto (PIB) mundial de 3,2% para 2,7%.

“O cenário global é bastante desafiador. O mundo passa por um período de inflação elevada, de aumento de juros e temos visto os efeitos disso. Já vemos a atividade norte-americana começar a desacelerar e, na Europa, o caso ainda é agravado pela crise de energia”, afirma Salles.

O economista também cita possíveis impactos vindos da China, que ainda luta contra o aumento no número de casos de Covid-19 e tenta melhorar sua atividade, minada pelas últimas restrições de locomoção.

“Cada bloco tem seus problemas específicos, mas de maneira geral a indicação é de desaceleração no exterior no ano que vem. E como o Brasil não está isolado do resto do mundo, isso também deve se refletir em crescimento baixo por aqui”, completa Salles.

Crescimento econômico

Diante de todo o cenário desafiador que o Brasil e o mundo devem enfrentar no próximo ano, a última lição de casa que fica para o governo eleito é a de retomar o crescimento econômico do país.

Segundo o último relatório Focus do Banco Central, os economistas projetam um crescimento de 0,75% do PIB em 2023 – um leve aumento em relação às projeções vistas um mês atrás (0,70%), mas ainda uma forte desaceleração em comparação ao previsto para este ano, de 3,05%.

Para a professora e coordenadora de economia do Insper, Juliana Inhasz, Lula começará o próximo ano com uma economia muito diferente daquela que havia em 2003, durante o seu primeiro mandato – o que indica que o trabalho para conseguir alcançar a retomada econômica deve ser ainda maior.

“Naquela época, havia um processo de estabilização da inflação, com uma sociedade que tinha uma demanda reprimida muito grande e um setor externo ávido por Brasil. Agora, ele pega uma sociedade endividada, com um crescente mercado de trabalho informal e com demandas sociais gigantescas em meio a um dinheiro que está cada vez mais curto e descontado. Não é um cenário fácil”, diz a especialista.

Educação e mercado de trabalho

De acordo com os economistas, parte desse processo de recuperação passa também pela retomada dos investimentos em educação e pela melhora do mercado de trabalho. Para Senna, do Ibre/FGV, esses pontos precisam, inclusive, entrar nos debates de assistência social que já começam a acontecer.

“A preocupação com a assistência social em um país tão desigual quanto o nosso, é perene. Mas precisamos pensar em alternativas de maneira que consigamos libertar as famílias desse tipo de apoio, dando condições de sobrevivência e posteridade”, diz o economista.

“Para isso, precisamos recuperar os investimentos em educação e formação de mão de obra, além de pensar em reformas econômicas relevantes e que sejam capazes de turbinar nossa produtividade. Isso é fundamental para que as pessoas encontrem no mercado de trabalho condições para viver e prosperar adequadamente, e não apenas sobreviver”, completa.

Foto: Adriano Machado/Reuters

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