Por O Tempo
A decisão do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de escolher apenas um ministro mineiro em uma ‘barca’ de 37 pastas no governo federal é um atestado cabal da perda de relevância do Estado na política nacional. A pasta de Minas Energia, que será comandada por Alexandre Silveira, do PSD, parece, no máximo, uma consolação ao Estado que garantiu uma vitória apertada de Lula sobre o presidente Jair Bolsonaro (PL).
Olhando pelo simbolismo da decisão, a presença de Silveira como único mineiro na Esplanada dos Ministérios, a partir de 2023, pode ser lida mais como uma recompensa pessoal a ele do que um sinal de prestígio ao segundo maior colégio eleitoral do país. A inegável disposição de Silveira de se distanciar do projeto histórico do PSDB – ao qual ele foi ligado por anos a fio em Minas – e ‘abraçar a estrela vermelha’ em carreatas e passeatas com a militância lulista rendeu o esperado ao senador derrotado neste ano. Como dizem os americanos, uma ‘win-win situation’ para o PT e o PSD. Os pessedistas satisfeitos com o espaço em uma pasta de influência no Planalto e os petistas carreando apoio do PSD para tentar solidificar uma base de apoio a Lula no Congresso.
Com o prisma da ‘mineiridade’ que é característico de boa parte de nós, é impossível não se incomodar com a parca presença de mineiros no Planalto. Tem pouco a ver com a expectativa de ver políticas públicas direcionadas à solução de problemas do Estado – expansão do metrô, duplicação da BR-381, relicitação da BR-040, etc – e muito com a redução da importância dos políticos de Minas Gerais onde decisões são tomadas em Brasília.
Os últimos mineiros a ocupar uma cadeira na Esplanada, ainda no governo Bolsonaro, foram Marcelo Álvaro Antônio (PL), titular da pasta do Turismo, e Marcos Montes (PSD), este último que ainda tem pouco mais de dois dias de mandato à frente do Ministério da Agricultura. Ambos estão longe de fazer parte de uma elite política de Minas Gerais.
Para o Estado que se acostumou a ter protagonistas – entre derrotados e vitoriosos – nas disputas presidenciais e no Palácio do Planalto antes e durante a vida democrática do país, ver o espaço de Minas minguar deveria acender um sinal de alerta na classe política local. Tancredo e Aécio Neves, José Alencar, Itamar Franco, Saraiva Felipe, Dilma Rousseff, Fernando Pimentel, Patrus Ananias, Anderson Adauto, Hélio Costa, Nilmário Miranda, Antônio Andrade, Walfrido dos Mares Guia e tantos outros nomes mineiros que sempre ocuparam o centro do poder no país parecem, cada dia mais, um retrato na parede.
Foto: Agência Brasil