Do alto de seus 81 anos, bem vividos, parte deles em confronto com a Igreja Católica, da qual se desligou com severas críticas à instituição milenar, calçando tênis Adidas, longa barba e cabelos brancos, o escritor, professor, teólogo, filósofo e ambientalista Leonardo Boff, pseudônimo de Genézio Darci Boff, passou por Belo Horizonte, na última terça-feira, onde proferiu palestras no Tribunal de Contas de MG e na Faculdade de Direito da UFMG.
O conjunto de suas palavras se assemelha a uma ode à vida. Ditas em público, então, parecem uma oração. O missionário da esperança, devoto de Cristo, defensor dos desvalidos e excluídos, deixou aos mineiros algumas frases para reflexão:
- O Brasil pode ter gestão sob a Amazônia, mas a soberania da região pertence à humanidade;
- O tempo das nações passou, agora é hora da “casa comum”;
- Diante de dados científicos, penso: não há consciência coletiva, mas individual, o que não basta;
- Sabemos que a vida é mais forte que a morte;
- A crise nos torna melhores;
- É hora de passar do capital material para o capital espiritual;
- É preciso uma veneração a tudo que vive;
- A razão cordial precisa ser uma razão sensível;
- Os sentimentos devem prevalecer sobre a razão;
- A hora é de um grande salto para um outro modelo de sociedade;
- O ser humano nasceu do pó das estrelas;
- É preciso indignação para transformar e coragem para enfrentar novas alternativas;
- O capitalismo produz lixo, a natureza não;
- Onde entra o capitalismo entra desigualdade social;
- Na lógica do embrião, tudo cresce harmonicamente, adequado aos ecossistemas;
- Sustentabilidade é a capacidade de permitir que todos os seres vivos, não apenas os humanos, possam se reproduzir com água potável e atmosfera respirável;
- Não queremos a maldição de filhos e netos, mas as bênçãos deles;
- Não estamos divulgando dados verdadeiros sobre a degradação ambiental, mas digeríveis ao nível de consciência existente;
- O biorregionalismo sugere desenvolvimento homogêneo, cultura, geografia e respeito às especificidades;
- A floresta em pé vale mais do que derrubada;
- Nunca maltratamos tanto a Mãe Terra;
- Transformamos o Jardim do Éden em um imenso matadouro;
- Imperativo categórico: aja de tal maneira que não possa prejudicar o sistema;
- Até hoje caminhamos de punhos cerrados, agora devemos ir de mãos abertas;
- O crescimento econômico por si tem a lógica do câncer, toma todo o organismo;
- O amor, a paixão dos enamorados, as belezas da vida, Guimarães Rosa, Carlos Drummond de Andrade, não constam do PIB;
- O direito à vida se estende aos trabalhadores anônimos, como fungos e bactérias;
- Os microrganismos regulam a fertilidade e, por conseguinte, a vida.
Texto e foto: Márcio Fagundes