Home Brasil Contra ameaças, escolas organizam debates e atividades culturais com a presença de famílias

Contra ameaças, escolas organizam debates e atividades culturais com a presença de famílias Após onda de boatos sobre novos ataques neste dia 20, unidades buscam fomentar o acolhimento e a troca de ideias

20 de abril de 2023, 10h30 | Por Redação ★ Blog do Lindenberg

by Redação ★ Blog do Lindenberg

Por Brasil de Fato

Uma onda de boatos iniciada durante o feriado da Páscoa colocou escolas em todo o país em pânico. Mensagens espalhadas de forma massiva especialmente via WhatsApp chegaram a famílias, alunos, professores e funcionários de escolas, com ameaças de massacres.

Apesar de terem sido identificados como boatos por grupos de monitoramento, o medo seguiu em alta nas comunidades escolares, uma vez que o dia 20 de abril é uma data considerada sensível quando o assunto é violência contra escolas: é o aniversário do massacre de Columbine, acontecido nos EUA em 1999, e também marca o aniversário de Hitler.

Para diminuir o receio de estudantes e famílias em relação à segurança, diversas escolas de São Paulo realizaram atividades culturais e rodas de conversa.

A equipe do CEU EMEF Três Lagos, localizado na Zona Sul da cidade de São Paulo, reuniu a comunidade para uma roda de conversa para acolher os sentimentos de comoção e desespero de famílias e crianças nos dias após o ataque à escola Thomázia Montoro. A iniciativa aconteceu como resposta a demandas da comunidade.

“A escola recebeu inúmeras ligações, visitas das famílias e ainda acompanhou um movimento de pais criando grupos de WhatsApp solicitando providências como presença da polícia militar dentro da escola”, explica Marcelo Sena, professor da Educação de Jovens e Adultos da unidade.

Atividade a turma de Educação de Jovens e Adultos do CEU EMEF Três Lagos discutiu soluções para as situações de violência contra a escola / Marcelo Sena/Arquivo Pessoal

Na reunião, os profissionais da escola explicaram a ligação desse tipo de ataque com o extremismo de direita e também sobre o papel da disseminação de boatos na criação do sentimento de pânico.

O encontro terminou com a decisão conjunta sobre a criação de um projeto interdisciplinar para a questão da saúde mental, o apoio à escuta ativa dos estudantes, como construir uma educação antirracista, xenofóbica e que discute também as políticas públicas, que vem sendo implantado desde então.

Entre as ações já previstas dentro do projeto está uma caminhada pela paz nas ruas do bairro convocando a comunidade a apoiar a escola para uma “educação para cooperação, para democracia e pela paz”, explica Sena.

Na EMEF Infante Dom Henrique/Espaço de Bitita, no Canindé, Zona Norte de São Paulo, foi identiifcado um medo crescente na última semana, traduzido em choro, nas crianças mais novas, e em silêncio e abraços, nos mais velhos. Tal como no CEU Três Lagos, houve uma cobrança da comunidade escolar por ações de segurança.

A escola, no entanto, vinha em um processo oposto ao da lógica de segregação existente em muitas unidades. “A proposta já há alguns anos é baixar os muros, acabar com o máximo possível de grade para que a escola se integre ao território e fique do ponto de vista da comunidade, sendo vista pelas pessoas que passam por ali”, explica Gabriela Rauseo Garcia, coordenadora pedagógica da unidade.

Quadro com os pontos discutidos em atividade no CEU EMEF Três Lagos / Marcelo Sena/Arquivo Pessoal

Para entender como agir diante da situação, a equipe da escola estudou o relatório ‘O ultraconservadorismo e extremismo de direita entre adolescentes e jovens no Brasil: ataques às instituições de ensino e alternativas para a ação governamental’, produzido por um grupo de pesquisadoras no âmbito do GT de Educação do governo de transição de Lula.

A partir dessa leitura, gestão e professores delinearam as necessidades do momento. “A proposta foi que a gente construísse um diálogo, uma situação de acolhimento e uma conversa. O olhar para cada estudante seria fundamental, olhar para cada um, saber exatamente quem são as pessoas que estão ali, quais são as necessidades que elas têm, seria fundamental para que a gente entendesse e se protegesse”, avalia.

A partir desse entendimento, foram organizadas rodas de conversa para que os estudantes pudessem falar sobre como estavam se sentindo em relação às ameaças. O uso consciente das redes sociais foi um dos assuntos tratados. “A gente conversou bastante sobre o algoritmo das redes sociais, aquele sistema inteligente que traz cada vez mais vídeos de acordo com aquilo que você clica ou aquele vídeo que te engaja ou aquele vídeo que te faz ficar por mais segundos”, diz Gabriela. “Falamos sobre as bolhas que o algoritmo nos leva. A gente acaba caindo numa bolha de medo, de violência, de pânico e é importante que a gente saiba disso”, conta a coordenadora.

:: ‘Twitter apoia massacres’ chega aos trend topics; governo cobra mudança de postura de redes ::

Houve também reuniões com as famílias dos estudantes, com o intuito de informar sobre as medidas de segurança já tomadas e também para acolher as famílias e levar informações sobre as origens dos ataques e o papel da sociedade em agir para preveni-los. “Os pais chegaram com muita preocupação, estavam angustiados. A primeira coisa que eles cobraram foi o policiamento na porta, as câmeras, via reconstrução dos muros que foram derrubados. Mas durante a conversa eles foram concordando e entendendo que todas as medidas tomadas pela escola fazem parte de um processo bastante elaborado, um processo de educação a partir do diálogo, a partir do acolhimento”, explica.

Ocupar as escolas

Neste dia 20, diversas escolas escolheram realizar atividades que mobilizassem a comunidade de maneira propositiva em relação à violência. No CEU EMEF Três Lagos, haverá roda de conversa e uma proposta de oficinas para trabalhar temas relacionados aos direitos humanos.

Na EMEF Perimetral, localizada em Paraisópolis, na Zona Oeste de São Paulo, haverá uma roda de conversa dos grêmios estudantis da região do Campo Limpo sobre violência contra às escolas. Em seguida, acontecerá uma caminhada pela paz no bairro, com a participação aberta à comunidade.

Já a EMEI Monteiro Lobato, em Higienópolis, convidou as famílias a confecionarem mensagens que enfeitarão a unidade. Na EMEF Desembargador Amorim Lima, no Butantã, haverá apresentações culturais durante todo o dia.

O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, afirmou nesta terça-feira (17), na reunião nacional sobre o tema, com a presença dos chefes dos três Poderes, que haveria um abraço às escolas na cidade, com ações sobre cultura de paz. O Brasil de Fato entrou em contato com a prefeitura de São Paulo, mas não obteve resposta com detalhes sobre a ação.

Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil

LEIA TAMBÉM

Envie seu comentário