Por Estado de Minas
Quase um mês após o fechamento do Aeroporto Carlos Prates, ao menos 40 pessoas já foram demitidas das empresas que operavam no local. Mecânicos, engenheiros e pessoal administrativo estão na lista, que pode ser cada vez maior, segundo os donos dos estabelecimentos.
De acordo com Cláudio Jorge, da Claro Aviação, dos 54 funcionários, cerca de 30 serão demitidos até o fim de maio. “Neste primeiro momento, estou tentando finalizar os serviços que já estavam em andamento. Eram diversos funcionários, entre mecânicos, administrativos, pintores etc. Infelizmente, estou tendo que demitir 30. Se eu não conseguir um novo local para instalar empresa, serão ainda mais pessoas. É possível até que feche o empreendimento, se não houver outra estrutura”, diz.
A estrutura em questão não é apenas pista para pousos e decolagens, mas um local que tenha todas as autorizações de funcionamento, tanto para operar aeronaves, quanto para consertos, abertura de empresas, salas específicas entre outras necessidades, como explica Estévan Velasquez, presidente da Associação Voa Prates. “Não é só porque tem uma pista, que está funcionando, isso depende de uma série de fatores. Os aviões que conseguiram tirar daqui foi no desespero, já que não iam poder voltar. Mas não quer dizer que a operação está funcionando em algum lugar. Só para uma escola dessas funcionar, precisa de banheiros femininos e masculinos, salas de reunião, diretoria, secretaria e mais outras exigências”.
Ele ainda aponta que das cinco escolas de aviação, nenhuma conseguiu ser reinstalada em outros lugares. “Na minha empresa mesmo, a VelAir, dos 170 estudantes apenas um pediu para ser transferido. A maioria são alunos do Fies, não têm condição de ir para outra cidade e treinar. Aqui era um aeroporto de ferramenta de trabalho. Por causa disso, os mais de 500 funcionários diretos já começaram a ser demitidos”, diz.
Outra empresa que também atuava na manutenção de aeronaves no Carlos Prates também afirmou que já despediu 10 colaboradores. A responsável, que preferiu não se identificar, informou que a situação está “muito delicada e todos estão bastante chateados. Mudar de local é muito sério e dispendioso, além de depender de vários fatores”, comenta.
Relembre
Por determinação da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), em documento assinado no dia 16 de dezembro de 2022, o local foi fechado em 1° de abril deste ano. A situação ficou entre os principais assuntos depois que um avião caiu sobre duas casas no Bairro Jardim Montanhês, em 14 de março, enquanto tentava pousar na pista. O piloto, José Luiz de Oliveira Filho, de 65 anos, morreu.
A conversa de fechamento, porém, não era novidade. Há mais de 70 anos em funcionamento, o terminal foi espremido pelo crescimento da Regional Noroeste e os acidentes aéreos já motivaram muitas discussões pelo fim das suas atividades. Entre 2004 e 2020, foram houve 47 ocorrências relacionadas ao terminal, sendo sete acidentes, cinco mortos e seis feridos, segundo levantamento da Casa Comum, escola de formação política do Núcleo de Estudos Sociopolíticos da PUC Minas.
A pauta foi discutida em Brasília e atestada com a portaria da Anac. Mesmo assim, o prazo foi criticado, e apesar da decisão de fechar as portas, o novo destino das escolas e demais empresas, além dos alunos, não foi previamente decidido.
Em 1° de abril, o local foi fechado, proibido para pousos e apenas decolagens estão permitidas, para levar as aeronaves embora. Desde então, equipes da Guarda Civil Municipal de Belo Horizonte (GCMBH) foram posicionadas em todas as portarias e possíveis locais de acesso para controlar as visitas.
Anteriormente, o lugar era administrado pelo governo federal, mas agora, a Prefeitura de Belo Horizonte assumiu a direção e propõe explorar o local como um bairro. Em entrevista ao Estado de Minas, o poder municipal divulgou um desenho com a possível proposta, que inclui áreas industriais, moradias populares, escolas, unidades de Saúde e áreas de lazer.
Foto: Leandro Couri/EM/D.A. Press