A cidade de Santiago amanheceu neste domingo amplamente patrulhada pelas Forças Armadas, uma aposta do governo Sebastián Piñera para conter a maior onda de protestos em décadas na capital, que já deixaram três mortos e um rastro de caos e destruição.
As manifestações, iniciadas na segunda-feira contra o aumento no preço das passagens de metrô em Santiago, logo se alastraram pelo país e aos poucos ganham conotação de um movimento maior de contestação às políticas do governo Piñera.
É a primeira vez que Santiago é patrulhada por soldados desde o fim da ditadura do general Augusto Pinochet, em 1990. A cidade e outras regiões do país, como Valparaíso (centro) e Concepción (sul), estão sob toque de recolher, após o governo ter decretado estado de emergência.
Os manifestantes começaram a ir às ruas para se opor ao aumento da passagem de metrô, do equivalente a US$ 1,12 para US$ 1,16. O governo suspendeu a medida, mas ainda não está claro se isso será suficiente para arrefecer os protestos.
O governo do Chile, ao mesmo tempo, mantém sua esperança nas Forças Armadas para restaurar a ordem. A militarização do país vem aumentando para tentar controlar a radicalização dos protestos contra o aumento do preço do metrô, apontados por observadores apenas como a ponta do iceberg do cansaço da sociedade com a desigualdade no país.
Na sexta e no sábado, auge das manifestações, as forças de segurança foram esmagadas pela multidão: houve destruição em pontos diversos da capital, entre incêndios em estações de metrô e inúmeros saques em lojas, supermercados, bancos e hotéis.
Isso levou à declaração de emergência no sábado para confiar ao Exército o controle da situação em Santiago, ao qual o governo acrescentou as regiões de Valparaíso (centro), Concepción (sul), as comunas de Coquimbo e La Serena, na região de Coquimbo (norte) e a comuna de Rancagua, O’Higgins (centro).
Em Santiago, mais 1.500 soldados foram destacados esta manhã – eles já somam quase 10 mil – principalmente para controlar pontos estratégicos como centrais de abastecimento de água, eletricidade e cada uma das 136 estações de metrô, que são alguns dos alvos mais visados pelos manifestantes.
Depois de sufocar as chamas em um dos supermercados saqueados, as autoridades encontraram dois corpos carbonizados e outra vítima em estado grave, que foi levada para um hospital e morreu. Estas foram as primeiras vítimas dos motins.
O descontentamento da sociedade com o sistema previdenciário chileno, administrado por empresas privadas, o custo da saúde, o deficiente sistema público de educação e os baixos salários em relação ao custo de vida acabou emergindo junto com os protestos sobre o preço do metrô.
“Se não há destruição, ninguém nos ouve”, disse um morador de Santiago à TV às portas de uma concessionária de automóveis que foi queimada.
“As pessoas estão cansadas de tantos abusos, nós só queremos uma marcha pacífica, queremos ter aposentadorias dignas e uma boa educação para nossos filhos e isso não está sendo feito”, disse outra moradora.
Além da paralisia do metrô, o serviço de ônibus foi temporariamente suspenso depois que pelo menos cinco unidades foram queimadas no centro de Santiago, deixando seus sete milhões de habitantes praticamente sem transporte público.
“Não gosto de violência ou que quebrem tudo, mas de repente essas coisas têm que acontecer para que deixem de brincar conosco, aumentando preço de tudo, menos salários, tudo para que os ricos deste país sejam mais ricos”, disse a vendedora Alejandra Ibánez, de 38 anos.
Alguns moradores de Santiago tomaram pacificamente as ruas para bater panelas durante a madrugada, enquanto fogueiras eram acesas nos bairros periféricos. Francisco Vargas, um funcionário público de 33 anos, disse que “as pessoas estão cansadas e sem medo”.
Piñera reconheceu que há “boas razões” para protestar, mas pediu uma “manifestação pacífica” e observou que “ninguém tem o direito de agir com violência criminosa brutal” em relação aos danos ao Metrô de Santiago, onde 78 estações foram danificadas.
O governo anunciou a suspensão das aulas nas escolas em Santiago na segunda-feira.
Fonte/Créditos: TERRA
Foto: DW / Deutsche Welle