Por Hoje em dia / Blog do Lindenberg
Obrou mal o ministro Roberto Barroso, ao discursar perante uma plateia de estudantes e dirigentes da UNE (União Nacional de Estudantes). No dia seguinte, tentou se justificar dizendo que não queria ofender os 58 milhões de eleitores do ex-presidente Jair Bolsonaro. Mas aí a vaca já tinha ido pro brejo – com o devido respeito à língua mater.
O que o discurso de Barroso deu a entender – e assim foi compreendido pela oposição ao governo Lula – é que ele tem lado, ou seja, deixou-se confundir com a militância política, sobretudo quando disse que havia derrotado o bolsonarismo, arrematando que havia também “derrotado o obscurantismo, o fundamentalismo”. Mas o que incomodou a oposição foi o tom do discurso, nem tanto pela plateia, que até o vaiou em certo momento, e o viés de que Roberto Barroso tem lado – o que é discutível: ontem mesmo ele suavizou o governador Romeu Zema, de Minas Gerais, ao proferir despacho em que dá ao governador mineiro o alívio de não ter que pagar R$ 16 bilhões por conta de atrasos no pagamento da dívida mineira com a União.
Barroso aproveitou a ocasião e ainda criticou Zema pelo aumento de seu salário e de seu secretariado em 300%, não deixando de citar o fato de o governador haver anistiado algumas empresas a exemplo de locadoras de veículos – o caso de Salim Mattar se inscreve nesse imbróglio – que pagarão um IPVA menor do que os cidadãos que não se enquadram nessa categoria.
Na decisão proferida quinta-feira à noite, Barroso também deixou claro que tudo foi feito para evitar o agravamento da “situação fiscal calamitosa” do governo de Minas, enfatizando que Zema tem tomado medidas que vão no sentido contrário – ou seja, Barroso aliviou a situação financeira de Minas Gerais e ponto final.
Mas o problema de Barroso foi o discurso na assembleia da UNE. Barroso, vale repetir, disse: “nós derrotamos a censura, derrotamos a tortura, derrotamos o bolsonarismo para permitir a democracia e a manifestação livre de todas as pessoas” – e isso ao lado do ministro da Justiça do governo Lula, Flávio Dino, que o aplaudia. O fato é que a oposição passou a pedir o impeachment de Roberto Barroso, o que não deverá prosperar.
Um outro assunto que dominou a semana foi o fim das escolas cívico-militares. Para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva “não é obrigação do MEC fornecer ensino no molde desses colégios. A iniciativa de criar essas escolas, chamadas de cívico-militares foi do ex-presidente Jair Bolsonaro. Ao falar sobre isso ontem, o presidente Lula disse que “se cada estado quiser continuar pagando, que continue, mas o MEC tem de garantir é educação civil para todo e qualquer e qualquer filho de brasileira e brasileiro”.
A decisão de encerrar o programa foi conjunta e acordada entre os ministérios da Educação e da Defesa. E foi informada os secretários estaduais de Educação, por meio de ofício enviado na segunda-feira. O documento comunica o encerramento progressivo da iniciativa e a “desmobilização do pessoal das Forças Armadas lotado nas unidades educacionais ligados ao programa”.
Atualmente, 203 escolas funcionam dentro do modelo de gestão compartilhada entre civis e militares pensado e executado pelo governo Bolsonaro. Elas atendem 192 mil alunos em 23 estados e no Distrito Federal. Cada unidade recebeu R$1 milhão do governo federal para adaptação ao modelo inspirado pelo governo Bolsonaro – um governo que teve quatro ministros da Educação um deles preso. Lula ontem voltou a dizer, num recado ao centrão, que a ministra da Saúde, Nísia Trindade “é do presidente” e não é “trocável”. Ao longo da semana, Lula trocou a ministra do Turismo, Daniela Carneiro, pelo deputado Celso Sabino, ambos do União Brasil – Daniela do Rio de Janeiro e Sabino do Pará.
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